Antiga Primeira-Ministra, Luísa Diogo, defende que o país deve avançar para medidas de aperto mais fortes, mas isso deve ser feito com transparência para garantir maior entendimento dos cidadãos.
Depois de seis anos, Moçambique voltou, em 2022, a beneficiar-se de apoio directo ao Orçamento do Estado, vindo das instituições da Bretton Woods, o FMI e o Banco Mundial.
O FMI é visto como o sinalizador para se aferir o nível de confiabilidade dos países para créditos, daí que, na sequência, o Banco Mundial também anunciou 300 milhões de apoios directos. A condição para isso era que se fizesse uma gestão mais rigorosa da economia moçambicana.
Hoje, a antiga Primeira-Ministra e ministra da Economia, Luísa Diogo, disse não ter dúvida de que, doravante, o Governo vai introduzir reformas rigorosas que podem “ser dolorosas”.
“É melhor anteciparmo-nos que há medidas que são dolorosas, mas cujos resultados valem a pena”, disse Luísa Diogo, incentivando o Governo a continuar com as reformas.
E mais, o retorno do FMI coincide com um momento difícil para o mundo inteiro, com a Rússia e a Ucrânia em guerra, o que implica restrições na exportação do petróleo da Rússia.
Com o facto, começa a haver cada vez menos combustível disponível nos países ou, na melhor das hipóteses, o preço tende a aumentar. Em Moçambique, as gasolineiras já até ameaçaram parar de fornecer combustíveis se o preço não for aumentado este mês.
Luísa Diogo entende que este é um risco que o país não pode correr, porque “seria a pior situação que passaríamos enquanto país”.
Assim sendo, “muitas vezes, o Governo tem de encontrar formas de saber equilibrar as coisas entre os consumidores, os distribuidores e os importadores deste produto fundamental para a nossa economia”, sugeriu a antiga governante.
Ou seja, Luísa Diogo entende que a subida do preço do combustível se integra no rigor da gestão macro-económica, que implica apertos: é inevitável. Porém, a antiga governante diz que cada uma das medidas deve ser devidamente explicada, isto é, deve-se ser transparente quando o momento da austeridade chegar.
“E não nos cansarmos de explicar, porque é preciso explicar muito. Explicar à e na Assembleia da República e ao público através dos meios de comunicação”, essa é a recomendação que para Diogo tem vantagens, quando se explica o que está a ser feito, ajuda-nos a pensar melhor, ajuda-nos a encontrar melhores soluções e, quando encontramos melhores soluções, corrigimos aqui e acolá e isso ajuda a que o país continue a caminhar”.
E um dos caminhos a serem trilhados agora é procurar financiamentos, aproveitando-se da luz verde dada pelo FMI, mas deve ser um endividamento responsável. O primeiro passo, de acordo com Diogo, é definir uma estratégia de endividamento, na qual “devemos esquecer a dívida comercial, porque não estamos em condições de pagar”. Neste momento, por exemplo, “nós estamos estrangulados por uma dívida comercial terrível, que não tem perdão”.
Ademais, “se nós quiséssemos ir atrás da dívida comercial, não precisávamos do FMI. Agora, temos de nos endividar de acordo com a nossa capacidade de pagar. Temos de potenciar financiamentos do FMI e Banco Mundial, com muitos anos para pagarmos e baixas taxas de juros”, propôs Luísa Diogo.
Luísa Digo falava, hoje, à margem da cerimónia de anúncio dos três vencedores do concurso de startups, promovido pela Total Energies, do qual Diogo é madrinha. A antiga governante mostrou-se orgulhosa em participar e disse acreditar que os projectos têm pernas para andar, olhando para rigor na selecção.