Esta coisa de títulos tem muito que se lhe diga. Na verdade, Lucílio Manjate não vai escrever sobre o nosso tempo, em Lisboa, coisíssima nenhuma. Vai, e isso é correcto, participar no The Pessoa Festival, um evento lançado ano passado, em Nova Iorque, lá nos states, e que reúne autores, editores, jornalistas e críticos literários.
Na cidade de Lisboa, o premiado escritor moçambicano vai participar numa conversa subordinada ao tema “Escrevendo o nosso tempo” – daí aquele título –, com Ana Kiffer, Caroline Rodrigues e Leonardo Tonus, moderada por Isabel Nery.
Fundamentalmente, o propósito da conversa, na perspectiva dos organizadores, é colocar os oradores a discutirem à volta da necessidade de se tornar contemporâneo o texto literário, considerando as crise sociais, políticas e culturais que o mundo enfrenta actualmente. Na sequência disso, os escritores vão expressar o seu posicionamento em relação à forma como vivem os problemas à sua volta.
Na capital portuguesa, The Pessoa Festival vai realizar-se entre 13 e 16 do próximo mês, concretamente no Lisboa Pessoa Hotel, mesmo local onde funcionou a Tipografia do Comércio, que, em 1915, imprimiu a revista Orpheu, importante por introduzir o movimento modernista em Portugal. Vários autores da geração d’Orpheu fizeram parte daquela revista, nomeadamente: Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro e Almada Negreiros.
Ora, além da conversa com outros autores, Lucílio Manjate fará parte da cerimónia de lançamento do livro The picture alive: new writing in portuguese, o qual inclui textos de autores que participam nos debates desta edição. Por exemplo, Djaimilia Pereira de Almeida, João Luís Barreto Guimarães (portugueses), Alexandre Vidal Porto, Caroline Rodrigues e Estevão Azevedo (brasileiros).
À antologia bilíngue (inglês-português), que celebra os dois anos de parceria de troca de conteúdo entre a Revista Pessoa e a Words Without Borders, Lucílio Manjate cedeu “O homem elementar”, um conto inédito que se enquadra no tema desassossego, sugerido pela organização aos escritores. O conto também se enquadra num projecto mais ambicioso de Lucílio Manjate, no qual, sem adiantar muito, o escritor trabalha quatro elementos da natureza, eventualmente, para lembrar que o Homem é resultado de um pouco de tudo.
Com efeito, protagonista de “O homem elementar” traduz uma imagem instável, que se confunde com o universo à sua volta.
Nesta edição do The Pessoa Festival, o interesse dos organizadores também é o de promover um debate sobre traços e tendências da literatura contemporânea produzida em língua portuguesa. Paralelamente, os oradores convidados vão referir-se à importância das revistas literárias para a formação e consolidação de leitores e as conexões entre os países falantes do português no campo cultural.
Um festival com nome de poeta
A programação do The Pessoa Festival vai iniciar com um circuito literário, no qual, a partir do local do evento, se fará um percurso a pé por cafés, livrarias, ruas e moradas que são referência da vida e da obra de Fernando Pessoa. Depois, no mesmo dia 13 de Novembro, a primeira mesa literária vai reflectir sobre as variações, vozes, caminhos, paisagens literárias múltiplas e marcas da literatura contemporânea de língua portuguesa.
No dia 14 de Novembro, a segunda mesa, a partir das 18h, terá como tema de reflexão “Um rio chamado Atlântico”. Nessa, vai apresentar-se o que a organização considera “uma visão cultural da experiência vivida nas esquinas entre Portugal, Brasil e África ao longo de cinco séculos”.
A terceira mesa, “Estrada aberta”, marcada para 19h15, pretende debater a influência do poeta norte-americano, Walt Whitman, sobre o português Fernando Pessoa, como ponto de partida para a discussão sobre as relações entre a literatura de língua portuguesa e de língua inglesa, actualmente.
A quarta mesa acontece dia 15, às 18h. O tema é “Salve o leitor”. Nesta conversa, os oradores deverão responder a perguntas como: o que será do leitor sem as revistas literárias? Qual é a importância dos cadernos literários para a mediação e formação de novos leitores?
Na quinta mesa, às 19h15, aí sim, estará o nosso Lucílio Manjate numa conversa sobre “Escrevendo o nosso tempo”. Os outros integrantes já estão identificados.
E porque “Navegar é preciso”, às 16h do dia 16, com coordenação de Andrea Zamorano, os leitores poderão ler trechos preferidos de obras de autores de língua portuguesa em barco atracado na Doca de Santo Amaro.
O festival não termina enquanto Abel Barroso Baptista, Clara Rowland, João Barreto Guimarães, Pedro Meira Monteiro não debaterem, na mesa seis, às 18h, “A língua no meio do caminho”.
A sessão de encerramento está prevista para iniciar às 19h do dia 16.
Portanto, The Pessoa Festival é um evento desdobramento do The Pessoa International Literary Festival, organizado pela revista Pessoa, em parceria com a Words Without Borders (WWB) e Columbia University School of the Arts, em Novembro de 2018, em Nova Iorque. Este é o quinto evento de difusão da literatura de língua portuguesa, organizado pela revista Pessoa fora do Brasil, onde foi fundada. Além de Nova Iorque, Pessoa já levou escritores para apresentações em Lisboa (Portugal), Bruxelas (Bélgica), Paris (França) e Boston (Emirados Árabes Unidos).
O programa com curadoria de Mirna Queiroz, editora da Pessoa, e Eric M. B. Becker, tradutor e editor da WWB, promoveu encontros entre autores e críticos brasileiros e norte-americanos, sempre com o objetivo e elevar o reconhecimento da literatura de língua portuguesa no mercado editorial de língua inglesa.
Para a sessão portuguesa, a aposta da organizadora, Mirna Queiroz, “é numa ampla conversa para que possamos nos conhecer melhor, trocar ideias, abrir novas possibilidades de ações conjuntas em torno da força e da beleza das nossas literaturas”.
A iniciativa tem o apoio do Lisboa Pessoa Hotel, no âmbito do seu projeto de valorização do patrimônio literário pela rota do turismo.
O programa começa com um percurso a pé por cafés, livrarias, ruas e moradas que são referência na vida e na obra de Fernando Pessoa. É seguido por debates, uma roda amadora de leitura de trechos de obras de autores de língua portuguesa e se encerra com uma sessão meio conversa, meio pocket show entre escritores que cantam.