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Letras de Azagaia devem ser estudadas porque levam à reflexão sobre o país

Foto: O País

O académico Filimone Meigos defende a necessidade de estudar o conteúdo das músicas do rapper Azagaia, a olhar para a capacidade do músico de abordar assuntos de cidadania, governação e neocolonialismo. As letras do rapper levam a uma reflexão crítica sobre a realidade sociopolítica e económica do país. 

Ainda em vida, a crítica social em Azagaia, já despertava apetite da academia, no país e na diáspora. Com a sua morte, ganha ênfase a ideia de estudar as obras do renomado rapper moçambicano.

O académico Filimone Meigos é dos defensores da necessidade de estudar o conteúdo das músicas de Azagaia, a olhar para a capacidade do músico de abordar assuntos de cidadania, governação e neocolonialismo com recursos a figura mítica, de Samora Machel, para uma reflexão crítica sobre a realidade sociopolítica e económica do país.

Meigos explica que “Azagaia nasceu dois anos antes de Samora Machel falecer, e ele vai pegar nessa figura mítica para falar da precariedade e da incapacidade de gerir toda essa condição colonial que de alguma maneira perpassa os tempos e hoje convivemos com ela”.

Meigos encontra, nos títulos dos álbuns Cubaliwa, As mentiras da verdade e Babalaze, um chamamento para estudar, em conteúdo e forma, as obras. “Se compararmos com outras formas de música, mais de diálogo, mais polifónico e com diferentes instrumentos, podemos dizer que Azagaia tem, na música, dois tempos, dois acordes, cujo conteúdo supera essa pobreza de polirritmia, mas, de certa maneira, ele conseguiu ser contundente e apelar à cidadania.”

O rapper perdeu a vida aos 38 anos de idade, o que para muitos é entendido como morte precoce e, o académico vai ao encontro desse pensamento para argumentar que o artista conseguiu ser atrevido e corajoso para a idade que tinha, ao pegar “toda a problemática e criticar um certo modelo socioeconómico e político vigente que ele aflora e muito bem. Quando ele pega esse discurso que a gente da faixa dele e gente até da minha faixa que vivenciou o tempo de Samora Machel vai entender isso como o repescar de uma realidade que combate à corrupção, à precariedade e que apela para a solidariedade social e para a cidadania, no sentido de agir para melhorar a pátria.”

Aliás, o académico, que falava no programa Noite Informativa, da Stv, considera que o rapper não é o único que merece ser estudado pela academia, entretanto reconhece haver um motivo adicional para a força de Azagaia, em alusão à narrativa sobre as coisas do dia-a-dia que apoquentam os moçambicanos.

É necessário “contextualizar o rapper Azagaia e compreendê-lo no contexto em que ele está inserido. A mim como interessado nas sociologias da arte, interessar-me-ia olhar para o discurso de Azagaia e criar índices, de áreas como economia e política. E isto pode fazer-se com vários artistas, a diferença de Azagaia é que ele foi assertivo ao buscar uma sombra, que é Samora Machel.

 

SEGUIDORES E ACTIVISTAS ANGOLANOS HOMENAGEIAM AZAGAIA

Seguidores e activistas sociais angolanos juntaram-se, na noite de sábado, para uma vigília em homenagem a Azagaia. Os actores consideram o rapper moçambicano uma figura que transcende as fronteiras moçambicanas e prometem continuar com a sua luta.

Calou-se a voz, mas a luta pelos direitos humanos que caracteriza Azagaia continua a ser replicada pela legião de fãs, em Moçambique e em vários pontos onde a sua mensagem encontrou terreno fértil para soar. Em Angola, Azagaia é lembrado e cantado.

Aliás, a cidade de Luanda foi palco da manifestação de uma dor ainda fresca do desaparecimento físico do ícone moçambicano, cuja trajectória artística é por muitos entendida como de coragem e defesa dos interesses do povo.

Em várias províncias, admiradores e activistas também se juntaram, na noite de sábado, para homenagear Edson da Luz.

Azagaia cantou sobre democracia, liberdades e conquistou admiração de vários povos falantes da língua portuguesa, e não só, daí que o descrevem como artista de várias nacionalidades.

O músico perdeu a vida na última quinta-feira, na sua residência, Província de Maputo.

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