A região centro do país não regista ataques armados há cerca de dois meses. Mas, mesmo assim, os transportadores interprovinciais continuam sem passageiros.
Desta vez, o culpado da história é a pandemia da COVID-19, segundo explicam os transportadores na terminal inter-provincial de passageiros da Junta, na cidade de Maputo.
No local, o cenário é de autocarros estacionados que levam cerca de 24 horas para conseguir o número mínimo de passageiros; transportadores que tentam persuadir os viajantes a aderirem aos seus autocarros e o interior das viaturas vazias, com no máximo dois passageiros.
Segundo Vasco Novela, transportador naquele local, “nem dá para falar da situação, isto está mal. Mesmo sem ataques na zona centro, não conseguimos tirar quatro ou cinco carros por dia, apenas dois saem quase cheios e os outros três com 30, 20 ou mesmo 15 passageiros, para um autocarro que alberga 60”.
O transportador lamenta, ainda, o facto de a situação não afectar apenas os transportadores que vão ao centro ou norte do país, mas, também, os que vão à província de Inhambane.
“A situação foi agravada por causa desta doença. Antes tirávamos para Inhambane quatro carros cheios, porém agora saem apenas dois, um principal que vai a Vilankulo. Há um outro que junta passageiros de diferentes rotas, como as que vão a Mambone, Inhassoro e outros pontos de Inhambane e, mesmo assim, não enche”, contou.
Nelson Conde, transportador da rota Maputo-Chimoio desde 2008 e que já vivenciou dois ataques, diz que, com a trégua, estava esperançoso de que as coisas fossem melhorar, mas não é o que está a acontecer.
Chegou ao seu local de trabalho às cinco da manhã e, até às 11 horas, a sua viatura tinha apenas dois passageiros, que tinham como destino a província de Sofala. Esse transportador diz que a longa espera, aliada à saída da terminal com poucos passageiros, não compensa.
“Nós temos muitos custos, só o combustível para uma viagem custa 25 a 26 mil meticais, e ainda há questão da manutenção do carro, uma vez que a estrada depois do Save não está em boas condições. O próprio patrão fica apertado sem saber como nos pagar”, desabafou.
Conde revelou que a solução é transportar carga, só assim conseguem ganhar “alguma coisa”, mas outros transportadores enganam os passageiros.
“Por exemplo os que vão à Beira são convencidos pelos nossos colegas que vão a Inhambane para entrar nos seus autocarros. Alguns, como são distraídos, entram e são obrigados a apanhar outro carro ao longo do percurso, chegando a ficar sem dinheiro”, revelou o transportador.
Os ataques da Junta Militar da Renamo iniciaram em 2019 e um dos alvos tem sido os autocarros de transporte de passageiros.