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Jovens juntaram-se para recolher resíduos na praia da Costa do Sol

Não é nem deve ser motivo de orgulho, mas é verdade: lixo e garrafas no chão estão a virar uma paisagem característica da praia de Costa do Sol, a principal da cidade de Maputo.

Um lugar de lazer que aos fins-de-semana é transformado num lugar perigoso, porque alguns banhistas não fazem questão de adoptar a postura urbana e deixam cacos no chão.

E para minimizar os efeitos da acção dos banhistas irresponsáveis, jovens da sociedade civil juntaram-se, este sábado, na praia da Costa do Sol para limpar e retirar o lixo.

Já passavam quatro dias depois da festa do final do ano, mas ainda eram visíveis os rastros, aliás, ainda havia muito lixo naquela praia. Lixo caracterizado por garrafas, embalagens de bolachas e de rebuçados e sacos plásticos.

O Presidente da Associação Juntos Construímos a Cidadania, Fernando Francisco Fernandes, ressaltou que a maior preocupação mesmo era das garrafas. E de facto este tipo de lixo estava em quase todo o lado, maioritariamente de bebidas alcoólicas.

Mas, o que alguns banhistas não sabem, diz Fernandes, é que as garrafas são (como) ouro. “Em vez de deixar no lixo ou partir uma garrafa destas, podem reaproveitar para fazer copos. Pode-se cortar, lixar-se e já está pronto para o uso doméstico”.

Este é o lado bom do que o lixo pode fazer quando usado fora do mar. Mas já no mar é muito prejudicial. Nelson Melo, Presidente da Moz Mbilo, recordou que o lixo é o maior inimigo do ecossistema marinho.
“Nós percebemos que há muito plástico lá dentro e o mesmo vai directamente para o mar e de lá afecta directamente os animais. Isto porque estes não sabem distinguir a comida do plástico. E ao consumir um saco plástico eles podem morrer”.

Os pescadores sabem bem do perigo disso porque eles vivem do mar e dos animais que lá vivem. Para eles os riscos são em dose dupla: estão em risco de perder o peixe que vai morrendo por consumir plástico e podem aleijar-se ao longo do mar.

Encontrámos um pescador que se juntou aos jovens na limpeza. Chama-se Rodrigo e contou que já teve de passar uma madrugada em branco porque seu sobrinho ficou com o pé perfurado por um caco de garrafa. Como ele, também o sobrinho é pescador e teve de ter 16 pontos de cosedura.

Este e outros episódios presenciados nestes mais de vinte anos que é pescador, fazem-no concluir que os banhistas que deixam lixo e garrafas no chão têm falta de humanidade. “Porquê falta de humanidade? Porque quando dizemos às pessoas que isto não é justo e que temos de colocar as garrafas num lugar específico para evitar que nos cortem, elas simplesmente ignoram-nos”.

Foram várias as organizações da Sociedade Civil que notaram que também era sua obrigação manter a praia limpa. E por falar em obrigação, o Conselho Municipal viu nesta iniciativa uma oportunidade de adiantar parte daquilo que é seu trabalho. O que fazer? Juntou-se sem pensar duas vezes. Até porque “entendemos claramente que sozinhos não podemos limpar a cidade. É preciso que limpemos juntos e em conjunto”, explica o director de salubridade da cidade de Maputo, João Mucavel.

A boa nova é que a direcção de salubridade da cidade de Maputo diz que a praia esteve menos suja nesta quadra festiva quando comparada com a transição de 2017 para 2018.

 

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