Vive-se um ambiente de cortar à faca no histórico Grupo Desportivo e Recreativo Textáfrica (GDRT) de Chimoio, porque os jogadores, equipa técnica e pessoal de apoio estão de costas voltadas com a recém-eleita direcção do clube.
Em causa, segundo apurou a reportagem do “O País”, os jogadores reivindicam cinco meses de salários em atraso e falta de alimentação.
A situação levou os atletas a suspenderem, unilateralmente, os treinos desde semana passada, depois de várias tentativas de entrar em contacto com a Direcção do GDRT terem redundado ao fracasso, uma vez que, segundo avançaram, nem o presidente, Acácio Gonçaves, nem o seu vice-presidente atendem as chamadas telefónicas dos atletas.
Esses dizem ter anotado que, desde que foi interrompida a maior prova futebolística do país, Moçambola, nenhum elemento da direcção colocou os pés no clube, não se sabendo a razão de serem abandonados por quem mais devia prestar-lhes apoio ou dignar-se a justificar as péssimas condições a que estão sujeitos.
“Nós decidimos não nos fazer ao campo para treinos até que venha alguém para vir dizer alguma coisa, mas, até aqui, ninguém veio. Por semana, só estamos a ter refeição duas vezes, o que é muito complicado”, disse Tino, capitão da equipa, tendo acrescentado que, nessas condições, nenhum jogador consegue treinar.
Secundando, Henriques, outro jogador da colectividade, disse que outro grito de socorro tem a ver com o material de treinos.
“Aqui, nós não recebemos equipamento. Não temos botas”, disse, acrescentando que a direcção fabril não está interessada em resolver os problemas do clube, pois, no seu entender, havendo interesse, já estaria a pedir apoios ao empresariado local ou ao governo, mas só se limita a cruzar os braços.
FMF FINTADA
Curiosamente, um dos requisitos para o Textáfrica ser licenciado é a regularização dos salários dos atletas e a equipa técnica, assim como a canalização de descontos ao Instituto Nacional de Segurança Social, mas essa exigência da Federação Moçambicana de Futebol não passa de uma letra morta.
“O que nos admira é que, como eles estão a justificar a FMF sobre o não pagamento de salários, aí alguma coisa não está bem, ou a FMF está a ser fintada, ou algum negócio qualquer que esteja a acontecer”, suspeita Kello Patrício.
PRESIDENTE COM UM PÉ NO CLUBE
Sobre o assunto, a nossa reportagem contactou, telefonicamente, o presidente do Textáfrica de Chimoio, Acácio Gonçalves, que confirmou a crise instalada no grupo, afirmando que, neste momento da pandemia, a bilheteira não está a produzir dinheiro e a única saída seria a contribuição dos sócios, mas esses, segundo afirmou, também não estão a fazer o seu papel de apoiar o clube.
“Não é verdade que estamos a dever salários desde Setembro do ano passado, mas sim desde Dezembro, rebateu Acácio Gonçalves, tendo, de seguida, justificado, que “não estamos a pagar, porque também não temos. Os sócios não estão a contribuir”.
Mais adiante, Acácio disse que, devido aos problemas que o clube atravessa, já remeteu pedido de demissão à mesa da Assembleia do clube presidida por Zacarias Mavile, mas ainda não se pronunciou sobre a carta.