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«Jazz aboard»: um novo convite de Elcides Carlos!

Por: Cremildo Bahule
Para ver e ouvir Jazz na cidade de Maputo já não precisamos entrar em bisbilhotices. Todos os fins-de-semana, ou sensivelmente todos, temos um local onde podemos tresvariar com um músico de Jazz, um guitarrista de Jazz, um baixista de Jazz, um pianista de Jazz, um intérprete ou uma banda de Jazz. Uff: é muito Jazz. A correnteza do Jazz capturou os bairros, os bares e as noites de Maputo e Matola. (Falo do meu habitat, pois não tenho o pulsar das outras cidades do país). Queiramos ou não, o circuito do Jazz vai se consolidando na província de Maputo. Um dos exemplos de consubstanciação deste género musical é o retorno, depois de quase uma década de interrupção, do Matola Jazz Festival que ocorreu no pretérito fim-de-semana, 16 de Setembro de 2023. (O munícipe não deve viver, apenas, do my-love e da taxa-de-lixo).
Ao abonarmos que a fiada do Jazz moçambicano está cada vez mais robusto estamos a assumir, naturalmente, que os seus principais actores – músicos e protagonistas do Jazz, no geral – estão pujantes em partilhar as suas obras. Tal vigorosidade artística, vemos em forma de produtos discográficos e, sobretudo, em palco. É no fragmento da apresentação em palco e no espectáculo que sigo, peculiarmente, a palmilha do músico Elcides Carlos. Assim faço por três razões. Primeira razão e óbvia: estou magnetizado pelo seu disco de estreia «Sense of Presence» (2022); com este disco vi-o em concerto, primeira vez, no dia 30 de Abril de 2022, na IV Edição do Jazz no Franco. Segunda causa: perseverança em composições de Jazz que justapõem-se com componentes da música popular moçambicana, urbana ou folclórica. Se, verdadeiramente, queremos definir e qualificar todas os marcos idiomáticos do Jazz «que se quer moçambicano», devemos ter em conta esses detalhes – e.g., «Mhango» (no disco tem a participação de Cheny Wagune). Terceira e último móbil: para Elcides Carlos a construção rítmica é tão importante quanto a construção harmónica; por isso, ele traçou um mapa harmónico, tendo em conta o número de mudanças de acordes por compasso, que lhe permite desenvolver uma improvisação ao longo de uma ou mais voltas na estrutura das suas composições – e.g., «O Que Seria» (no disco tem a participação de Rosário Giuliani) e «Ha Fana» (no disco tem a participação de Radjha Ali & Drew Zaremba). Estou ciente que este raciocínio, de um professor da 4.ª Classe, poderá ser divergente de um professor de música ou de um crítico acérrimo de Jazz. Porém, em alguma realidade iremos concordar: a música de Elcides Carlos responde aos procedimentos harmónicos dos seus contemporâneos e alicerça, substancialmente, a corrente do Jazz que oferece vida à cidade de Maputo.
Esta poesia incómoda é um presságio, positivista, e um convite para o próximo espectáculo de divulgação do disco «Sense of Presence». Depois do «In a Soulfoul & Vibrant Afro Jazz Night», realizado no dia 30 de Junho de 2023, na Galeria do Porto de Maputo, o músico quer oferecer-nos «Jazz Aboard», no dia 29 de Setembro de 2023, no Centro Cultural Franco-Moçambicano. O «Jazz Aboard» tem um único propósito: partilhar e certificar o trajecto vivificante do Jazz de Elcides Carlos. Para mim, será o fecho da trilogia que começou na IV Edição do Jazz no Franco, 2022. Por isso, não sei se existem prognósticos no Jazz, gostava de sentir e contemplar um concerto articulado, enérgico, agradável e, sobretudo, majestoso. As minhas suposições poderão ser certeiras pois no «Jazz Aboard» teremos três convidados: o guitarrista João Cabral (que editou o seu segundo disco, «Walks Life» (2023), depois de «River of Dreams» (2007) – irei camuflar a parte da irmandade entre Elcides Carlos e João Cabral –, a cantora Lalah Mahigo (que já tem um disco de estreia, «Kutikuma» (2022) e o compositor e intérprete Bhaka Yafole (dono de um solfejo fantástico). Para marear o «Jazz Aboard», Elcides Carlos trauteará com Tony Paco (bateria), Lelas Mavie (baixo), Nicolau Cauneque (teclados), Sarmento de Cristo (saxofones), Fernando Morte (percussão), Sheila Malijane e Gilson Marqueza (coros & vozes).
Quero cessar este palavreado mordido reafirmando o convite para juntos comprovarmos a ascensão de «Sense of Presence». A fiada do nosso Jazz é feito de iniciativas como «Jazz Aboard» que ajudam-nos a alicerçar o quão importante são os moldes vitais do Jazz moçambicano. Está consumado o convite para assimilarmos, por meio do «Jazz Aboard» (ramificação do «Sense of Presence»), o idioma musical de Elcides Carlos. Se não obtermos nenhuma compreensão, visto que o Jazz é de difícil percepção, usufruiremos, ao menos, a sensação de estar a abordo por meio do Jazz e do «Sense of Presence»!
P.S.: subscrevam-se ao canal do Elcides Carlos no YouTube e acompanhem a série: «Talking Jazz». É uma lauda que fala das bases e essência do Jazz, como aprender a improvisar, os melhores solos de Jazz & Cia. Abre espaço para perguntas, partilha de material didáctico e recomendações variadas sobre o Jazz nacional e internacional. [www.elcidescarlos.com].

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