O distrito de Marracuene, na Província de Maputo, tem mais de 1000 hectares com culturas diversas totalmente submersas. Há estradas intransitáveis, que isolaram quatro bairros, deixando centenas de pessoas sitiadas. Não há, até agora, perda de vidas humanas.
É a partir de imagens aéreas que se tem a dimensão real dos estragos que a água da chuva, combinada com o transbordo do Incomáti, está a causar em Marracuene.
Silvestre Nhaca, um dos agricultores locais, relata que tudo que produziu está submerso e não se vislumbra, para já, a possibilidade de as culturas “sobreviverem”. “Nesta nossa área de Machubo, estamos a ver a água que entrou, que está a matar-nos e a estragar muitas coisas nas nossas machambas, está tudo perdido”, lamentou o agricultor.
Os agricultores pedem apoio em insumos para, logo que a água secar, retomar com a sementeira e tentar recuperar a produção, pois a fome pode estar à espreita. “Temos que sair da fome. Ainda que tenhamos apoio em cesta básica, se não tivermos sementes, a nossa situação continuará crítica”, alertou Zaqueu Huo.
Os agricultores e a população de Machubo pedem flexibilidade na difusão de informação para melhor se prevenir das inundações. “Nós pedimos ao Governo para nos avisar atempadamente para nos precavermos.”
Uma estrada recentemente construída e inaugurada, que liga a vila-sede de Marracuene à localidade turística de Macaneta, está ladeada de água, mas continua transitável, porém já não se pode dizer o mesmo de algumas estradas do interior do distrito, o caso da via, pavimentada, que liga o posto administrativo de Machubo à localidade de Macanzda, ao posto administrativo de Calanga, incluindo a praia de Bilene.
“Nós temos postos administrativos sem comunicação, temos quatro bairros sem comunicação aqui no Machubo, mas estamos com acesso bom pelas dunas.”
E mesmo pelas dunas, o acesso não é tão bom, pois os carros com atracção às quatro rodas não conseguem enfrentar a areia e acabam soterrados.
As águas, que inundam Marracuene, vêm da África do Sul, do próprio rio Incomáti, que atravessa o distrito de Marracuene, onde também há registo de um dique de retenção de água que rompeu e descarregou águas, cortando a comunicação com a Estrada Nacional Número Um e inundando mais de 100 hectares de cana-de-açúcar.
“Houve um dique que rompeu, temos imagens de drone que confirmam isso. O rompimento não ajudou muito e esta via é a mais fácil para o acesso à EN1 e, quando o dique rompeu, todas estas estradas, estes campos agrícolas e todo o canavial, na verdade, tudo ficou submerso.”
A ministra da Terra e Ambiente, Ivete Maibasse, destacada pelo Conselho de Ministros para monitorar a situação das cheias na Província de Maputo, visitou vários campos agrícolas submersos, interagiu com a população e, no fim, fez saber que haverá apoio do Governo para os afectados.
“Como Governo, o que temos, neste momento é garantir cesta básica para a sobrevivência destas famílias. Já foram sensibilizadas para estar em áreas seguras, porque há previsão de chuvas intensas para este fim-de-semana, e garantir a cesta básica. Quando estiverem monitorizados os níveis das águas, garantiremos que sejam subsidiados com sementes”, garantiu Ivete Maibasse, ministra da Terra e Ambiente.
A água, vinda do Incomáti, ameaça também o centro de saúde local. Uma parte das áreas de pastagens está perdida, o que pode pôr em risco o gado. Os postes de transporte de energia eléctrica estão submersos.