A Inspecção Nacional de Actividades Económicas (INAE), em Maputo, interrompeu, hoje, uma festa de casamento com cerca de 200 pessoas na zona da Costa do Sol, na cidade de Maputo. Alguns participantes contestaram a decisão e houve quem confrontou a Polícia por paralisar a festa.
O plano estava quase perfeito, num dia em que entrou em vigou o novo decreto sobre a Situação de Calamidade Pública. Uma zona com pouca movimentação de pessoas na Costa do Sol foi o local escolhido pela família para obedecer ao desejo de celebrar o matrimónio de Joaquim e Helena e, ao mesmo tempo, desobedecer o decreto sobre a Situação de Calamidade Pública.
Nas imagens que “O País” teve acesso, foi possível ver os convidados sentados sem obedecer o distanciamento social.
Quando a nossa equipa chegou ao local, os convidados já se dispersavam. Os recém-casados também trataram de sair em velocidade do local.
Mesmo com a presença da INAE, houve quem quis terminar a refeição na mesa já ornamentada. Porque as autoridades pressionavam os presentes a abandonar o local, alguns preferiram comer do lado de fora.
Mesmo grávida, Ivone Boaventura não gostou da atitude das autoridades. “Como é que interrompem a festa. Assim é para nós comermos a andar? Questionou a mulher aborrecida para depois argumentar. “Não é permitido fazer festa já sabemos, mas porquê que a Polícia não manda parar os autocarros que andam cheios. Desde que começou a doença os autocarros andam abarrotados de gente e nós não éramos tantos aqui”, justificou.
Filipe, outro convidado era também um homem inconformado e defendeu haver dualidade de critérios na actuação das autoridades. “Se formos a ver as autoridades não actuam da mesma maneira para esse tipo de situações. Há casos de aglomerados nas ruas, mas não sentimos a presença da Polícia ou da INAE, mas porque estamos aqui a festejar vem interromper a festa, não é justo”, argumentou.
O pai do jovem casado disse que todas as condições estavam criadas para que não houvesse espaço para contaminações. “Na verdade o casamento foi ontem (sábado) e hoje (domingo) era mesmo o copo de água. Porque as autoridades proíbem temos que parar com tudo. A nossa ideia era de cada um servir a comida e cada um escolher um canto para comer. As pessoas só sentaram nas mesas porque estávamos a fazer oração”, justificou-se Ismael Joaquim.
Alguns convidados exaltaram-se quando a Polícia quis colocar ordem no local. Um dos dois agentes da Polícia perdeu a paciência quando a sua autoridade foi posta em causa por um dos jovens. Para o efeito manipulou a arma, mas mesmo assim, destemido, o jovem chegou a agredir o agente. A confusão só terminou com a intervenção do delegado da INAE.
“Cerca de 200 pessoas é muita gente, num contexto em que as festas estão proibidas. O que acontece é que as pessoas escolhem locais escondidos como estes para organizar este tipo de cerimónias. Elas sabem que é proibido, mas procuram contornar as autoridades. Como já sabemos que existem esse tipo de pessoas, trabalhamos com as conservatórias para sabermos sobre o itinerário dos casais e poder flagrar esse tipo de situações”, explicou Egas Mazivila delegado da INAE na Cidade de Maputo.
No fim, a festa terminou sem o corte de bolo, sem entrega de presentes e a família teve que desmontar a estrutura montada sob olhar atento das autoridades.