A Ordem dos Médicos de Moçambique classifica de muito grave o impacto da greve da classe nos hospitais públicos do país. O Bastonário diz ser notória a substituição dos médicos por pessoas não qualificadas, para além do facto de os poucos médicos em exercício estarem exaustos.
Há mais de 30 dias que o Sistema Nacional de Saúde funciona de forma condicionada devido à greve desencadeada pela Associação Médica de Moçambique. O Governo accionou mecanismos para minimizar o impacto da ausência dos profissionais, mas a Ordem dos Médicos diz terem sido colocadas pessoas sem qualificação, pelo que diz ser necessário resolver a situação.
Sobre as motivações da greve, o bastonário da ordem, Gilberto Manhiça, fala de situações que põem em causa a dignidade dos médicos e diz que o que estão a reivindicar nem se quer se compara com o que seriam as condições condignas que os médicos têm noutras partes do mundo.
“Repara que, por exemplo, em alguns países, o médico tem como rendimento médio anual o equivalente ao que um deputado da Assembleia da República tem. Nós não estamos a pedir próximo disso, nós estamos a dizer que encontrem um espaço para que os médicos possam viver de uma forma decente, como acontece, por exemplo, com os médicos contratados pela cooperação internacional. Não são tratados da mesma forma. Nós temos uma discriminação para com os médicos nacionais”, explicou.
Segundo Manhiça, os meios de trabalho indispensáveis para oferecer a necessária qualidade também têm estado a degradar-se.
Mas o que pode explicar a degradação das condições de trabalho e remuneração da classe médica?
Manhiça foi categórico ao afirmar que “efectivamente, o que eu posso pensar é que a corrupção que tem estado a enfermar o país deve ser, talvez, um dos factores mais importantes por detrás desta degradação. Mas, além disso, o investimento que tem sido feito ao longo destes anos não tem sido tão pujante como deveria ser para termos uma qualidade de assistência e uma vida digna para a classe médica.”
A situação dos médicos é agravada por outras situações. O bastonário destaca o rácio médico-habitante. Segundo explicou, estão inscritos na ordem mais de cinco mil médicos, a maior parte dos quais moçambicanos, 800 especialistas e 600 médicos dentistas. A maior parte dos médicos são clínicos gerais. Os números revelam, apesar do avanço dos pouco mais de 100 médicos na altura da independência, que o país está ainda muito aquém do necessário.
“A OMS recomenda um médico a cada 10 mil habitantes. Nós estamos com 0,8 médicos por cada 10 mil habitantes. Portanto, estamos com défice de médicos e estamos a trabalhar com esforço suplementar dos médicos para suprir as necessidades da população”, disse.
A outra situação que coloca algum entrave ao progresso da classe é que nem todos os médicos estão em actividades clínicas.