Segundo um artigo da autoria do pesquisador moçambicano, Michael Sambo, publicado no livro do IESE, intitulado “Desafios para Moçambique 2021”, a narrativa global do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI), sobre a crise económica de 2020, é que resulta exclusivamente da pandemia da COVID-19.
Porém, o pesquisador revela que a economia moçambicana já estava em progressivo abrandamento rumo à recessão, pelo que a pandemia apenas a impulsionou.
“Ou seja, a economia nacional já experimentava uma crise em franca formação, e a COVID-19 apenas a precipitou, não sendo, portanto, a causa primária da crise”, lê-se na pesquisa.
Com recurso à análise da situação económica de Moçambique, no contexto da pandemia e das dinâmicas económicas do país, em relação ao resto do Mundo desde antes da pandemia e após a sua eclosão, o IESE conclui que, primeiro, o Estado moçambicano estava desprovido de meios financeiros e materiais, no momento da entrada da pandemia; segundo, que se encontrava também altamente endividado no sistema financeiro internacional, portanto, com pouca possibilidade de recorrer ao mesmo para obtenção de crédito; terceiro, que as relações com os seus principais parceiros bilaterais estavam fragilizadas na sequência das dívidas ocultas.
“Portanto, embora precisasse de apoio financeiro para poder lidar tanto com a pandemia como com a crise que já enfrentava, o país não dispunha de muitas opções. Não obstante a isso, adoptou medidas de higiene e segurança, bem como a decretação do Estado de Emergência relativamente cedo, acompanhado de imposições de normas e de restrições, com vista à prevenção de uma possível crise humanitária”, refere a pesquisa.
Com o surgimento de iniciativas internacionais de “ajuda’ aos países mais carenciados, por iniciativa dos parceiros multilaterais, no âmbito da COVID-19, o IESE diz que Moçambique se beneficiou de empréstimos tanto do FMI como do Banco Mundial, aliviando parcialmente a sua necessidade de divisas.
Quanto às dinâmicas das relações económicas de Moçambique com o resto do Mundo, o IESE conclui que há elementos suficientes que sustentam o argumento segundo o qual a COVID-19 não é a causadora da crise económica em Moçambique, portanto, mesmo que a vacina combata efectivamente o Coronavírus, não é capaz de combater a crise económica no país.
“Primeiro, partindo da análise da tendência do Investimento Directo Estrangeiro (IDE), que por sua vez influencia as exportações e consequentemente a tendência do Produto Interno Bruto (PIB), constata-se que este tem vindo a declinar entre 2013 e 2017, tendo estagnado entre 2017 e 2020”, defende a instituição.
Segundo o IESE, as taxas de crescimento do PIB têm vindo a derrocar desde 2015, situação que se manteve até 2020, ano em que alcançou uma taxa de crescimento negativa, e em que se manifestou a COVID-19.
Portanto, a queda do PIB, em 2020, em Moçambique, resulta de um contínuo abrandamento da economia. Por fim, o IESE afirma que as importações responderam mais claramente aos impactos da pandemia, porém, em conjunto com as exportações, revela-nos um saldo da Balança Comercial deficitário e continuamente crescente desde 2017, facto que exerce contínuas pressões para a desvalorização do Metical.