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Prémio Literário Mia Couto anuncia finalistas da primeira edição

Foto: O País

A Cornelder de Moçambique e a Associação Kulemba lançaram, no passado dia 2 de Junho, na Cidade da Beira, a primeira edição do Prémio Literário Mia Couto. A iniciativa pretende estimular a produção literária de qualidade em Moçambique, distinguindo as melhores obras publicadas anualmente. Para o efeito, foi constituído um colectivo de júri, que, esta segunda-feira, apresentou a lista de 10 finalistas do concurso.

As obras seleccionadas para o género de poesia são, aleatoriamente, Para onde foram os vivos, de Eduardo Quive; Pétalas negras ou a sombra do inanimado, de Belmiro Mouzinho; Vestígios do silêncio, de Amosse Mucavele; Cães à estrada e poetas à morgue, de Deusa d’África; e O lugar das ilhas, de Sónia Sultuane.

Quanto às obras seleccionadas para o género romance, são No verso da cicatriz, de Bento Baloi; Museu da Revolução, de João Paulo Borges Coelho; Nas bordas do arco-íris, de Agnaldo Bata; Vidas, paixões e o oculto, de Cláudia Chope; e Encontro em Rosebank, de Lex Mucache.

O anúncio das obras vencedoras será feito durante a Feira do Livro da Beira (FLIB 2023), que decorre entre 20 e 23 deste mês de Setembro. Cada vencedor do Prémio Literário Mia Couto será agraciado com valor pecuniário na ordem de 400 mil meticais.

Nesta primeira edição, o Prémio Literário Mia Couto tem como membros de júri Francisco Noa, Fátima Mendonça, Teresa Manjate, Tânia Macedo e Daniel da Costa.

Sobre os livros finalistas
Para onde foram os vivos, de Eduardo Quive, é o retrato do mundo em decadência, no qual as cidades se encontram em ruínas com o silêncio ensurdecedor das almas que ainda habitam o lugar com a esperança no exercício do amor. Portanto, trata-se de um livro que encara os males do tempo, no olhar sensível do poeta que não se conforma com o estado das coisas.

Pétalas negras ou a sombra do inanimado, de Belmiro Mouzinho, é um livro de poesia que reflecte o encanto que a arte do verso exerce na vida do poeta, pois, para si, tudo o que as pessoas vêem e tocam, tem poesia. Nesta sua estreia em livro, Belmiro Mouzinho assume-se como um poeta rebelde e inconformado. Em parte, isso corresponde à sua maneira de ver as coisas à sua volta.

Vestígios do silêncio, de Amosse Mucavele, apresenta uma poética concebida para desvendar mistérios, celebrar a memória transnacional dos ritos de passagem e ruptura, um desencanto de repensar as origens, as mutações da dor, as variações dos mapas territoriais e sociais de Maputo e Lisboa, partindo de um ponto de vista subjectivo das estórias desses dos lugares.

Cães à estrada e poetas à morgue, de Deusa d’África, é um exercício sobre a linguagem, no qual a função dialética tem o poder de inaugurar, destruir, reconstituir e libertar o sujeito. É uma poesia sobre a esperança e, muitas vezes, sobre o lado ingrato das coisas e dos sentimentos. Portanto, é um livro interventivo e emotivo.

O lugar das ilhas, de Sónia Sultuane, é um diálogo emocional com a Ilha de Moçambique, um processo que se vai multiplicando por outros espaços. As ilhas do livro, com efeito, não são necessariamente geográficas, são também lugares interiores, onde o ser humano tem a possibilidade de revisitar o seu ser físico e espiritual.

No verso da cicatriz, de Bento Baloi, é um romance que desafia não só as crenças e o horizonte de expectativas do leitor, mas a sua sensibilidade e a sua estabilidade emocional. O efeito catártico da narração se impõe de forma inapelável, convocando a dor, o sofrimento, o drama humano, a desilusão e a degeneração dos valores sociais.

Museu da Revolução, de João Paulo Borges Coelho, é uma aventura por 50 anos de História de Moçambique. A narrativa começa no Japão e atravessa mares e oceanos numa aventura que cruza aspectos identitários e emocionais. Trata-se de um romance em que, num Toyota Hiace, as personagens vão-se descobrindo na sua relação com o espaço.

Nas bordas da escrita, de Agnaldo Bata, traz a história de um projecto social desenhado por uma ONG Francesa para prover água num distrito que é assolado por uma seca prolongada na Província de Inhambane. No caso, a iniciativa falha de forma “inexplicável”, pelo que uma personagem estrangeira é enviada a Moçambique para averiguar as causas do fracasso.

Vidas, paixões e o oculto, de Cláudia Chope, é um romance cuja temática é atravessada pelo Realismo das coisas, da possibilidade e das condições da representação da realidade na arte. No livro, estão representados sonhos e anseios daqueles moçambicanos cuja vida buscou sentido no outro lado da fronteira sul-africana.

Encontro em Rosebank, de Lex Mucache, é uma história de um jovem moçambicano que se apaixona por uma escritora sul-africana. Em algum momento do enredo, a personagem envolve-se num triângulo amoroso com uma secretária, o que sustenta o interesse de o autor explorar aspectos culturais dos dois países.

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