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Há quem aproveitou o desfile do 1º de Maio para fazer negócio em Maputo

Foto: O País

Algumas pessoas viram, no desfile do 1º de Maio, na Praça dos Trabalhadores, na Cidade de Maputo, uma oportunidade para fazer negócio e obter algum rendimento.

A marcha alusiva ao 1º de Maio, Dia Internacional do Trabalhador, foi marcada por dois cenários: por um lado com a retoma de um desfile que não se fazia havia três anos, devido às medidas de contenção da pandemia da COVID-19, e, por outro, uma grande oportunidade para fazer negócio.

Sucede que, na azáfama das celebrações do 1º de Maio, enquanto uns desfilavam, Muniz, por exemplo, vendia os seus produtos a outros trabalhadores.

Eram apitos, bandeirolas, bolas e outros produtos que pudessem ser usados durante o desfile. Segundo o nosso entrevistado, é desta forma que se afasta dos males da vida.

“O meu desfile é aqui. Assim, estou a desfilar. Estes todos são os meus patrões. Se eles não receberem, não tenho como ter dinheiro”, disse Muniz Macandza.

Sem nenhum patrão, só resta exigir a si mesmo mais sacrifícios, dia após dia, faça sol, faça chuva. Ele vende tudo que consegue, desde que consiga algum lucro para o sustentar.

Este é o sentimento que também move a senhora Sara Uandela, que tem mais motivos para trabalhar, sem descanso, do que para festejar.

Uandela conta que “o meu patrão é esta peneira. É daqui onde tiro o meu sustento. É pouco, mas serve para ajudar o meu marido, que recebe pouco”.

Garrafa aqui, garrafa acolá, o jovem Chano, destemido, ignora a vergonha e recolhe todas que são jogadas no chão, ou até no contentor de lixo, para vender e garantir o seu sustento.

Enquanto os milhares de trabalhadores desfilavam, cantando, apitando e exigindo melhores salários, condições dignas de trabalho e mais, Chano José ia recolhendo as garrafas plásticas de água e refrigerante que eram deitadas, juntá-las num saco, para depois fazer a troca. E é assim todos os dias.

“É o meu trabalho. Apanho garrafas para vender. Não é fácil, mas é melhor isto do que roubar coisas alheias.”

Quem também não tem patrão é Gildo Obadias, vendedor de maçãs. Ele conta que o seu dia começa cedo: “Eu acordo às 6h e vou para Zimpeto ‘guevar’ (comprar a grosso) e, por volta das 10h, venho à Baixa da Cidade de Maputo para vender e só saio daqui por volta das 18 horas, de segunda a sábado”.

Mas, Gildo sonha em ver a sua vida mudada. “Eu quero que o meu negócio cresça, para poder fazer outro negócio, deixar de vender maçã, para vender outras coisas”.

Questionado sobre as dificuldades para a sua realização, a nossa fonte diz que lhe falta dinheiro, pois, se o tivesse, mesmo a carta de condução tiraria, para arranjar outro tipo de trabalho.

Uma fotografia para eternizar o momento? Porque não… A câmara de Zito Mathusse resolveu o problema e um grupo de trabalhadores teve o seu momento registado e a foto impressa no local, em fração de segundos.

Têm sido assim os dias deste jovem, que igual aos outros personagens desta crónica, tem sonhos.

“Eu quero fazer o meu negócio crescer, abrir a minha própria empresa, para continuar a fazer o que gosto”, disse Zito Mathusse.

Muniz, Sara, Gildo e Zito são alguns de tantos personagens que, dia após dia, sem horários, subsídios ou até décimo terceiro, saem à rua em buscam do sustento próprio e das suas famílias, expostos a todo tipo de perigo.

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