Os presidentes de Moçambique, Filipe Nyusi, e da Zâmbia, Hakainde Hichilema, foram desafiados, hoje, a analisarem o actual estágio da democracia na região da SADC. O Chefe do Estado moçambicano, falando sobre a onda de manifestações, disse que elas só acontecem porque os respectivos Governos assim o permitem e que isso é indício de crescimento da democracia.
Na mesma altura, Moçambique, Angola e África do Sul registaram ondas de manifestações ou, pelo menos, tentativas. Todos são da SADC e os jornalistas desafiaram os dois chefes de Estado a reflectirem sobre isso. Antes de mais nada, Filipe Nyusi esclareceu que esta onda não é apenas em África. Falou, por exemplo, da França, na Europa. Aqui começava a defesa da tese segundo a qual as manifestações são resultado de um crescimento da democracia.
“No passado, as pessoas não falavam como falam agora. O Presidente [da Zâmbia] disse que ele é sétimo, mas, antes dele, o ambiente era diferente; a palavra democracia não existia ou, se existia, era democracia interna, onde as pessoas falavam num certo contexto, mas, agora, já não, as pessoas podem falar como querem, livremente e, por vezes, nós não acreditamos que os nossos próprios países exercem melhor a liberdade de expressão, ou a democracia do que aqueles que usamos como referência”, explicou Filipe Nyusi, anotando que “há esses movimentos porque os governos estão a permitir que isso haja, naturalmente, como gere, em cada país, é diferente”.
Ademais, segundo o Presidente da República, “já não está na moda fazer política com pancadaria, com guerra e é preciso que as pessoas dialoguem”.
Concordando com o seu homólogo, Hichilema disse acrescentou que tudo deve ser feito para garantir uma coisa: “O mais importante é manter a paz e a estabilidade nos nossos países, e os sistemas que escolhemos devem ajudar a manter a paz, a segurança e a estabilidade, porque, por um lado, queremos exercer os nossos direitos, direito à liderança ou a liderar e, por outro, temos de assegurar que fazemos o que fazemos dentro da Constituição da República e outras leis. Isto é, operamos num ambiente que é governado por um quadro legal que todos respeitam”, disse.
E no pacote de todos que respeitam a lei, Hichilema incluiu a imprensa, que deve ser dada espaço; mas, mais do que isso, o Estadista zambiano diz que esta também deve manter o profissionalismo. “Hoje, alguém pode gerir um órgão de comunicação num telefone celular a partir da sua sala de estar. Isto traz desafios no profissionalismo de reportar os factos de forma equilibrada. Porque estas duas coisas podem matar a democracia”.
A presença do Estado zambiano no país continua hoje, com visita à central térmica de Maputo.
ZÂMBIA DE OLHO NA AMPLIAÇÃO DOS PORTOS DE MOÇAMBIQUE
O Presidente da República recebeu, hoje, o seu homólogo da Zâmbia. Entre os vários assuntos discutidos por ambos, tiveram destaque áreas como defesa, mineração, indústria e comércio, agricultura e transporte. Sobre este último, a Zâmbia mostrou interesse nos portos de Moçambique
O encontro aconteceu na tarde de hoje e o Estadista zambiano teve a honra que se dá aos Presidentes. Mas o momento mais importante estava reservado para os encontros bilaterais… e houve. Logo depois, Filipe Nyusi garantiu que os resultados “eram tangíveis” e positivos.
E um desses resultados é o acordo assinado entre os ministros dos Negócios Estrangeiros das duas partes. Além disso, houve mais assuntos abordados entre Filipe Nyusi e Hakainde Hichilema, entre os quais a cooperação nas áreas de agricultura, mineração, transportes e comunicações, indústria e comércio e defesa e segurança.
Para a materialização dessas discussões, o Presidente da República disse que deverão ser envolvidos os sectores privados dos dois países. Por isso, será feito um fórum de negócios, em que os empresários deverão apresentar os seus desafios, o que vai permitir que, do lado do Governo, sejam feitos os devidos incentivos.
O Presidente da Zâmbia, Hakainde Hichilema, disse que, para a realização das conversas, há uma condição. “Não é suficiente que dois presidentes ou mais interajam, se os gabinetes com que trabalham não interagem. Então, encorajamos as delegações e as equipas técnicas para que criem essas relações”.
E uma das questões que deverão fazer parte desse diálogo entre as equipas técnicas é o uso dos portos de Moçambique em benefício da Zâmbia. “Aquele porto é importante para nós, tanto quanto para os outros países do interland. Os investimentos que estão a fazer nos vossos portos são benéficos para todos nós e, por favor, continuem. Tal como dissemos no encontro bilateral, encontremos convergências, áreas comuns, em que nos podemos apoiar para tornar as coisas mais fáceis, tal como fazem naqueles portos. Lembrem-se: alarguem-nos o suficiente, não só para vossas necessidades, mas também de todos nós”.
Neste momento, a Zâmbia faz uso dos serviços do Porto da Beira, com ligação terrestre via Tete. E por falar em ligação, outra questão abordada entre os dois Chefes de Estado é a ligação aérea entre Maputo e Lusaka, capital zambiana, que aliás, acolheu a assinatura do acordo que deu independência a Moçambique.