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“Há condições para identificar corpos enterrados na vala comum”

“Mesmo que passem 1000 anos, há possibilidade de reconhecimento”, começou assim a entrevista com o médico legista Virgílio Ceia, reagindo ao caso dos corpos enterrados na vala comum, em Inhambane, com o argumento de que não eram reconhecíveis, devido ao estado de queimadura em que se encontravam, depois do acidente rodoviário que aconteceu há uma semana.

“Estou chocado”, exclamou, a seguir, com o olhar preso no repórter, com a expressão facial de um profissional que não encontra explicação para a decisão tomada precipitadamente, sem dar espaço aos especialistas em medicina legal para fazerem o trabalho de identificação daqueles corpos.

Na sua explicação, Ceia elencou uma série de métodos científicos que são utilizados para o reconhecimento de corpos carbonizados, dos quais destacou a Odontologia Forense, que estuda as placas dentárias, e a Antropologia Forense, que usa a técnica de medição da estrutura óssea para determinar a identidade das vítimas.

“Os dentes não estão queimados. Seria preciso uma temperatura de 900 a 1 200 graus centígrados para os dentes desaparecerem. Naquele caso, foi uma temperatura de mais ou menos 200 graus. É possível reconhecer! Não queremos odontologia forense, podemos também usar a antropologia, com os familiares existentes, medirmos os ossos e compararmos. Podemos fazer a comparação craniofacial. Temos mil e uma variantes… não se pode enterrar, hoje em dia, na vala comum, por causa de um acidente”, desabafou.

Refira-se que Virgílio Ceia liderou, ano passado, a equipa de médicos legistas que foram deslocados de Maputo para Tete com vista a ajudarem na identificação dos corpos das vítimas da explosão do camião de combustível em Caphirizange, onde, dos 12 corpos, nove foram identificados e entregues aos legítimos familiares, tendo os restantes três sido sepultados separadamente, num cemitério local, porque ninguém foi reclamar. Ainda assim, têm as suas descrições, que vão permitir a identificação, no dia que forem reclamados.

Mais uma vez, Virgílio Ceia colocou-se à disposição para se deslocar a Inhambane, para o mesmo trabalho. “Vou fazer isso para a minha alma estar em paz com Deus”, terminou.

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