O impacto da guerra entre a Rússia e a Ucrânia em Moçambique será mais sentido em áreas cruciais para a vida da população, nomeadamente, nos combustíveis e nos produtos alimentares, situação que poderá tornar a vida ainda mais difícil.
É que a dependência produtiva de Moçambique em relação aos dois países torna a economia nacional vulnerável às mudanças dos preços no mercado internacional e incapaz de determinar os preços a nível local praticados aos consumidores finais.
Segundo as perspectivas económicas do FMI para África Subsaariana, que destaca a parte moçambicana, Moçambique importa da Rússia cereais, fertilizantes, combustíveis e seus derivados, produtos fundamentais para a inflação global.
E da Ucrânia, Moçambique também importa cereais e fertilizantes, bem como óleo alimentar. São estes os produtos, que, segundo o Fundo Monetário Internacional, poderão continuar a impactar no agravamento de preços na economia nacional.
O relatório do Fundo foi divulgado ontem. Na ocasião, o representante residente do FMI em Moçambique, Alexis Meyer Cirkel, alertou que a dependência em relação à Rússia e Ucrânia irá impactar nos preços dos alimentos e dos combustíveis.
Para Rússia e Ucrânia, Moçambique vende tabaco, minérios, frutas, produtos químicos diversos. Já na África Subsaariana, 85% dos cereais consumidos são importados e uma parte significativa vem da Rússia, indicam dados do FMI.
“A região enfrenta um novo desafio com a crise entre a Rússia e a Ucrânia que vem afectar o preço dos alimentos. Todas as pessoas sentem isso em casa, através do custo maior dos alimentos, do petróleo e dos combustíveis”, disse Alexis Meyer.
Uma das saídas é a diversificação da economia, há muito debatida no país. Pela fraca produção no país, a directora nacional de Políticas Económicas e Desenvolvimento, Enilde Sarmento, lança parte da culpa para o sector privado.
“Produzir internamente passa também por termos um sector privado virado para este tipo de actividade de produção interna. Passa também por pensarmos em ter um sector privado que esteja a operar no sector produtivo e que, de facto, produza. O Governo é também chamado para a responsabilidade sobre a necessidade de fazer investimentos nas infra-estruturas produtivas, porque o sector privado para operar necessitará de infra-estruturas, sobretudo orientadas para a produção”, defendeu a directora nacional de Políticas Económicas e Desenvolvimento.
Em relação ao risco do aumento dos preços, Enilde Sarmento diz que o Banco de Moçambique está em melhores condições de controlar a situação que o Governo.
“Num momento de crise em que estamos com algumas pressões do lado fiscal, pensarmos que temos que arranjar uma solução do lado fiscal é sempre difícil”, referiu Enilde Sarmento.
Para este ano, o FMI espera que os preços em Moçambique aumentem cerca de 9%, elevando, assim, o custo de vida, uma situação a melhorar nos próximos anos.
VIDA CONTINUARÁ CARA NOS PRÓXIMOS MESES
O custo de vida continuará elevado nos próximos meses, alerta o Banco de Moçambique, instituição que decidiu ontemmanter a taxa de juro de referência no mercado em 15,25%.
“A curto prazo, a inflação continuará elevada, reflectindo o impacto do ajustamento dos preços dos bens administrados. O Comité de Política Monetária considera que as perspectivas macroeconómicas recentes estão em linha com a manutenção do actual nível da manutenção da taxa MIMO no curto prazo, por forma a garantir uma inflação baixa e estável”, disse Rogério Zandamela, governador do Banco de Moçambique.
Trata-se de uma decisão tomada tendo em conta as incertezas associadas à tensão na Europa. “O Comité de Política Monetária do Banco de Moçambique decidiu hoje (referindo-se a ontem) manter a taxa de juro de política monetária, taxa MIMO, em 15,25%. Esta decisão é sustentada pelas perspectivas de manutenção da inflação em um dígito, a médio prazo, não obstante os elevados riscos e incertezas associados a estas projecções, com destaque para a tensão geopolítica na Europa”, referiu Rogério Zandamela.
O Comité de Política Monetária do Banco de Moçambique promete continuar a monitorar a evolução dos riscos e das incertezas associados às projecções de inflação e não hesitar em tomar as medidas correctivas necessárias.