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Graça Machel preocupada: “parece que nossa identidade está um pouco à venda”

Foto: O País

Graça Machel diz estar preocupada com a perda de valores e da identidade moçambicana, que Samora e outros libertadores da pátria tanto lutaram para preservar. A antiga Primeira-Dama de Moçambique disse que o país tem de ter cara própria e não se deve ter vergonha de ser moçambicano.

Chilembene, província de Gaza, terra natal de Samora Machel, parou, este sábado, para homenagear o seu filho. Família, amigos, vizinhos, académicos e companheiros da luta de libertação nacional estiveram lá para recordar os feitos do primeiro Presidente de Moçambique.

A viúva de Machel, mais do que homenageá-lo, deu uma aula de sapiência, ao falar dos seus feitos. Conforme disse, ele não surgiu do nada; surgiu de uma história de luta, lutas que enfrentou durante toda a sua vida, como, por exemplo, a luta pela identidade nacional.

“Nós somos moçambicanos e temos muito orgulho de o ser, e se há uma pessoa que, com muita convicção, defendeu que somos moçambicanos, de tal maneira que pessoas olhavam e diziam “ó Moçambique!”, foi Samora Machel”, disse vincando que, com ou sem globalização, Moçambique tem de ter “cara própria, uma identidade reconhecível e respeitada”.

Durante o seu discurso, Mamã Graça, como é carinhosamente tratada, disse estar preocupada com a perda de valores na sociedade e que as lutas do arquitecto da unidade nacional, Eduardo Mondlane, de Machel e do também herói nacional, Marcelino dos Santos e tantos outros libertadores da pátria parecem ter sido esquecidas.

“Estou muito preocupada com esta coisa de nós andarmos assim e parecer que não temos direcção, de não sabermos muito bem para onde nós vamos. Parece que a nossa identidade está um pouco à venda. Precisamos de ser nós próprios, precisamos de ter uma sociedade de justiça, uma sociedade de iguais, como ele nos ensinou”.

Segundo Graça Machel, os moçambicanos já souberam o que é ser uma sociedade de iguais, por isso é importante que este legado seja resgatado, e é papel da actual geração continuar com a luta de Samora Machel, que era o valor da liberdade de ser moçambicano.
Como disse, ter identidade própria é obrigação primeira e última dos moçambicanos. Assim sendo, os princípios não podem vacilar, a identidade não pode ser vendida e o espírito de moçambicanos deve ser mantido intacto, sabendo que o respeito, o reconhecimento e o valor ao moçambicano só é dado se estes aspectos, por ela levantados, forem preservados.
“O significado de estarmos aqui, estarmos a celebrar estes 90 anos, é assumir o compromisso de cada um de nós carregar na sua veia e na sua acção esta coisa de ser moçambicano e sermos dignos de nós próprios”, recomendou Machel.
Sublinhou, ainda, que a identidade nacional não se constrói com palavras, mas com acções.

SAMORA MACHEL HOMENAGEADO ESTE SÁBADO EM CHILEMBENE
Numa sala cheia de diversas individualidades, recordações dos feitos de Samora Machel não faltaram.
Uma das figuras que esteve presente foi Eduardo Mondlane Júnior, filho do arquitecto da Unidade Nacional, que, na ocasião, subiu ao pódio para falar do papel de Samora Machel na vida da sua família após a morte do pai, num ataque-bomba, na Tanzânia.

“Quando o nosso pai, Eduardo Mondlane, foi barbaramente assassinado, em 1969, Samora assumiu pessoalmente a responsabilidade de cuidar de nós e fez questão de garantir que eu e as minhas irmãs fôssemos tratados como parte da sua família alargada”, recordou e agradeceu por tudo o que Machel fez pela sua família.

A família Simbine, família de Graça Machel, também recordou o herói nacional. Machel era para esta família um pai; cuidava de todos da mesma forma, era duro, exigente, chato mas, muito amoroso, conforme relataram os membros da família.

Já a Universidade Pedagógica de Maputo, que esteve representada por Sarita Manjate, destacou que Samora Machel, mais do que um líder político, foi um líder de esperança, e que seu legado deve ser usado como uma luz orientadora para o presente e o futuro do país.

“Mais do que celebrar o homem, é importante reflectir, cada um de nós, em conjunto, sobre os valores que ele defendia e levar adiante a tocha do seu legado, assegurando que os princípios pelos quais ele lutou com tanta coragem continuem a brilhar nos nossos corações e nas nossas acções”, apelou Manjate.

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