O Bastonário da Ordem dos Médicos acusa o Governo de denegrir a imagem de profissionais que um dia considerou heróis. Gilberto Manhiça diz ainda que o Executivo quer colocar o médico numa situação de precariedade perante os utentes.
Gilberto Manhiça falava durante uma conferência de imprensa, ocorrida hoje, na Cidade de Maputo, cujo tema de fundo era a greve dos médicos, por si considerada legítima.
No evento, Manhiça começou por recordar que os médicos sempre deram de tudo, até nos momentos difíceis do país, como no caso da guerra civil e da pandemia da COVID-19, em que trabalharam em condições precárias, arriscando suas vidas e de seus familiares para cuidar e salvar pacientes.
Segundo o Bastonário, o Governo não está a encarar, hoje, com seriedade, as suas preocupações e os compromissos assumidos durante as negociações sobre a Tabela Salarial Única (TSU).
Gilberto Manhiça diz que as reclamações dos médicos são legítimas e arrastam-se há mais de 10 anos, e a Tabela Salarial Única só veio evidenciar problemas que o Governo parece estar a ignorar.
“No que toca à Tabela Salarial Única, entende o Governo que o subsídio de risco deve reduzir de 30% para cinco por cento, o que representa cerca de 2300 Meticais para um médico de Clínica Geral, ou seja, entende-se que um médico deve arriscar a sua vida, a vida de seus familiares em troca dos 2300 Meticais”, lamentou o bastonário.
Ainda em defesa dos seus colegas, Manhiça referiu que, para o Governo, os compromissos acordados parecem não ter validade alguma, pois, durante um dos encontros com a classe, foi acordado que seriam pagos 20% aos especialistas na forma de subsídio de investigação, mas a percentagem foi unilateralmente reduzida para cinco por cento.
Os médicos justificam a greve com a necessidade de serem valorizados pelo Governo, à semelhança do que tem feito com os médicos estrangeiros, pois representam um pilar importante no Sistema Nacional de Saúde do país.
“Queremos apelar ao Governo para deixar de denegrir a imagem dos médicos, que exercem as suas funções no Sistema Nacional de Saúde com excelência e abnegada dedicação, assegurando a saúde do povo nas diferentes vertentes”, desabafou.
Para Gilberto Manhiça, o direito à greve é constitucional e, ao protestarem como estão a fazer, estão a reivindicar a melhoria de condições de trabalho.