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Gás natural de Rovuma tem baixo teor de carbono

O mundo discute formas de substituir o uso de combustíveis fósseis essenciais para a dinamização da economia mundial. A Europa, com a Alemanha à direcção, acelera o passo da transição energética e o gás natural é o combustível eleito para fazer deixar de lado o petróleo. Acontece que a Alemanha depende em 90% do gás natural da Rússia e com a guerra na Ucrânia e as sanções impostas pela União Europeia, a Rússia antecipou-se e decidiu cortar o fornecimento desse combustível.

Esta situação coloca a Alemanha sobre a pressão de encontrar novos fornecedores de energia e vê no continente africano a solução para a sua aflição e, em particular, Moçambique. É nessa linha em que o vice-Chanceler e o ministro da Economia da Alemanha, Robert Habeck, iniciou uma périplo esta semana por Namíbia e África do Sul, tendo neste último, participado de um encontro com empresários de vários países africanos, incluindo Moçambique. O objectivo era discutir soluções energéticas.

Moçambique foi a este encontro para dizer aos alemães que pode ser, sim, parte da solução com as massivas reservas de gás natural da Bacia de Rovuma que podem chegar a Alemanha e outros destinos europeus como Gás Natural Liquefeito. Mas esta solução é ainda, por cima, de longe benéfica para as intenções da Alemanha de descarbonizar massivamente a sua economia: “o nosso gás é um gás mais doce, tem menos dióxido de carbono (CO2) se comparado com outros gases (LNG) dos outros países, portanto, a componente do carbono é menor, isso certamente é bom para os compradores que olham mais para questões específicas relativas às emissões de carbono e a necessidade de descarbonizar o mundo, o nosso gás vai ter mais apetência”, disse o ministro dos Recursos Minerais, Carlos Zacarias.

Por outro lado, o governante esclareceu que esforços estão a ser desencadeados para esclarecer os mercados, principalmente os mais exigentes como a Alemanha, desta vantagem comparativa do gás natural que sai das águas profundas da Bacia de Rovuma, até porque o mundo está a precisar de mais fontes de energia para alimentar a economia. “Numa primeira fase, pensava-se que a transição energética ia ser feita de um momento para o outro, mas a realidade e a situação geopolítica veio mostrar que temos que ir para uma transição gradual e que certamente irá levar alguns anos, e é um processo que nós temos que explicar ao mundo sobre os benefícios de fazer a transição usando um gás de baixo teor de carbono e ou CO2”, explicou.

Por seu lado, Robert Habeck reconheceu que, nesta altura, o seu país precisa dos recursos energéticos africanos para continuar a viabilizar a sua economia, sem abandonar o caminho da transição energética. Aliás, fez questão de esclarecer que parte dos minerais fósseis energéticos ao seu país os possui em demasia, mas não pode continuar a usá-los porque são altamente poluentes e neste momento o mundo precisa de uma abordagem ambientalmente responsável, “portanto, vivemos agora uma situação paradoxal devido à perda da energia da Rússia. Estamos a precisar de gás natural, agora mesmo, para 2023 e 2024 e o mais tardar para as próximas décadas, talvez até 2040 a 2045, porque aí o consumo de combustíveis fósseis, incluindo o gás natural vai reduzir. Para já, estamos a tentar repor, não só a tentar, conseguimos substituir o gás russo, porque a Rússia parou de nos fornecer gás natural, pelo LNG, e se agora alguém tiver a capacidade de fornecer o mercado mundial é bem-vindo”, esclareceu, abrindo portas para que o seu país possa contar com o Gás Natural Liquefeito moçambicano.

E o embaixador alemão em Moçambique, Lothar Freischlader, considera que a Alemanha considera o nosso país um parceiro estratégico e que está interessado em partilhar a experiência de desenvolvimento. O diplomata considera que os seus esforços não se trata apenas de um país que tem dinheiro e que precisa avidamente de matérias-primas para fornecer a sua economia e um país que vai continuar a ser fornecedor desses recursos, mas pretende que a cooperação seja desenvolvida no sentido de promover e diversificar a economia de Moçambique, através do estabelecimento de cadeias de valor dos produtos produzidos localmente.

A Alemanha está igualmente interessada em apoiar a exploração sustentável dos recursos, que vão permitir acelerar a transição energética não só no seu país europeu como em Moçambique. Este posicionamento é igualmente defendido por Melanie Mueller, que lidera um comité que trabalha no estabelecimento de parcerias na exploração de matérias-primas por parte de Alemanha e países africanos.

“Como sabe, Moçambique tem vários minerais, não só petróleo e gás natural e os outros minerais estão fortemente na agenda de parceria e cooperação económica da Alemanha. Na minha observação, parcialmente, os decisores políticos alemães estão a olhar para Moçambique e a explorar as oportunidades e absorver as dificuldades que claramente o país enfrenta, como a situação política, e ajudar nisso. Claramente vejo como um país que tem potencial e que se se usar essas oportunidades sabiamente estará na pista de crescimento”, disse.

Neste momento, Alemanha importa o grafite de Ancuabe em Cabo Delgado que está a usar para acelerar a produção de equipamentos que dinamizar o seu projecto de transição energética.

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