O País – A verdade como notícia

Gás canalizado na cidade de Maputo em marcha lenta

Apenas 50 famílias de um total de 411 contempladas no projecto de gás canalizado é que estão a usar o combustível, no bairro do Aeroporto A, na cidade de Maputo. E mais, a execução do projecto está lenta e o Governo aponta problemas financeiros e de natureza técnica.

Há vários pontos de toma do gás canalizado em algumas artérias da cidade de Maputo. É a partir destas estruturas que o gás de cozinha é canalizado para as residências, tal como foi no bairro do Aeroporto A, na cidade de Maputo.

A concessão para a distribuição e comercialização de gás natural na cidade de Maputo e no distrito de Marracuene foi atribuída pelo Governo à Empresa Nacional de Hidrocarbonetos em 2009 e é implementada pelo consórcio ENH-Kogas.

Na chamada rua principal deste bairro, por sinal a única onde algumas famílias já estão a beneficiar do gás canalizado, encontramos a residência de Maria de Lurdes. Diferentemente de muitas moradias nesta zona, a chama do fogão a gás canalizado ganha vida. De Lurdes conta as boas experiências no uso do combustível canalizado.

“É muito bom usar o gás canalizado, pois o sistema é cómodo, uma vez que usando o gás de botija é muito arriscado, pois num descuido, facilmente inflama e explode, colocando em risco a vida dos usuários, sobretudo das crianças”, referiu-se.

Se para de Lurdes a experiência é boa, para outros provavelmente também seria. Mas o gás canalizado tarda a chegar a muitas residências, que em 2019 terão manifestado interesse em aderir à rede de abastecimento.

Exemplo disso é a casa do Rogério Arnaldo, que fica na rua das Camélias, onde o “O País” constatou que nenhuma residência tinha gás de cozinha canalizado.

Rogério Arnaldo fez parte do inquérito que apurou que mais de 400 famílias desejavam usar o precioso combustível via tubagem. Debalde!

“Passaram por aqui há mais de um ano. Questionaram-nos se precisávamos de gás canalizado e dissemos que esse era o nosso interesse. Mas, de lá até cá, ainda não voltaram”, queixou-se Rogério Arnaldo.

O gás também tarda a chegar à cozinha de Celeste Mungone, que já não fazia ideia do projecto. Celeste, que trabalha como empregada doméstica no bairro do Aeroporto “A”, só teve algo a dizer depois duma breve explicação do que se tratava.

“Vivo num outro bairro. De facto, lembro-me que em há alguns anos, vi técnicos a implantarem estruturas de gás canalizado, mas onde trabalho continuamos a usar gás em botijas”.

O bairro de Aeroporto “A” foi escolhido para acolher o projecto-piloto de gás canalizado na cidade de Maputo. A princípio, tinham sido projectadas 35 residências para beneficiar das primeiras ligações, entretanto, mais 15 foram abrangidas, sendo no total 50.

O facto é que as restantes famílias das 411, não estão a usar este combustível nos moldes em que foi concebido. Moradores pedem o gás canalizado.

Tanto a Direcção Nacional de Hidrocarbonetos e Combustíveis como a Empresa Nacional dos Hidrocarbonetos justificam a fraca abrangência das famílias com problemas financeiros e também técnicos.

“Infelizmente, por motivos de natureza financeira, em Maputo e em Marracuene, o projecto não teve a mesma velocidade tal como aconteceu em Inhambane”, disse o director Nacional de Hidrocarbonetos e Combustíveis, Moisés Paulino.

Problemas financeiros também são evocados pela Empresa Nacional de Hidrocarbonetos, que os associa à conjuntura económica e social vigente. Para o director Comercial e Marketing da ENH, Titos Nhabomba, neste momento, está em curso um trabalho de mobilização de recursos para que mais famílias sejam abrangidas.

Segundo o director Comercial e Marketing da ENH, o consumidor paga apenas uma taxa simbólica de 5.000 meticais para a instalação do sistema do gás canalizado na residência.

“Só para ter uma ideia dos custos que as ligações acarretam, cada residência necessita de 150 mil meticais para a instalação do sistema de gás canalizado e esse valor é o Governo que disponibiliza. Portanto estamos a falar de um grande investimento ”, disse Titos Nhabomba.

 

EDIFÍCIOS NÃO ESTÃO DEVIDAMENTE PREPARADOS PARA O GÁS CANALIZADO 

Se para alguns residentes o gás canalizado tarda a chegar, os que têm, questionam a segurança do sistema de canalização. É que algumas residências têm a tubagem externa do gás e o medo dos moradores é que alguém de má-fé vandalize e até mesmo atear fogo.

“Eu acho que o sistema de tubagem externa do gás não é seguro. Penso que podia ter-se estabelecido o sistema de canalização interna”, referiu-se Jonasse Cuinica.

Aliás, segundo Moisés Paulino, os problemas técnicos que influenciam no avanço do projecto têm, em parte, a ver com aspectos de segurança. A nossa fonte afirmou que maior parte dos edifícios não foram construídos para acomodar o sistema de canalização do gás.

Moisés Paulino garante, entretanto, que a tubagem externa não constitui perigo e assegura que é preciso fazer mais, em tanto que o plano, agora, é que se crie um instrumento legal que regule a construção de edifícios capazes de receber o sistema de gás canalizado.

“Vamos ter que produzir regulamentos na perspectiva das construções acomodarem o sistema do gás canalizado e possibilitar que a curto e a longo prazo os edifícios emerjam nessa metamorfose”, disse Moisés Paulino.

Entre limitações e atrasos, Moisés Paulino, garante que os trabalhos vão continuar, tendo referido que depois que ainda este ano, o gás canalizado chegará a outros bairros, a começar pelo bairro da Polana Caniço.

A fase piloto no projecto do Aeroporto “A” contou com um investimento de cerca de 17 milhões de meticais desembolsados pelo Governo, no âmbito de um programa de massificação de uso de gás natural. O bairro do Aeroporto “A” faz parte do traçado da rede de distribuição de gás canalizado de Maputo, que foi inaugurada em 2014.

Partilhe

RELACIONADAS

+ LIDAS

Siga nos