Cerca de 175 mil metros cúbicos de água perdem-se mensalmente do sistema de abastecimento em vários bairros das cidades de Maputo e Matola. Em causa, estão as fugas de água, devido à deficiente rede de tubagem e ligações clandestinas.
O jornal “O País” deslocou-se a Chamanculo “C”, onde, à semelhança de outros bairros da capital do país e da Matola, o crónico problema é evidente.
As ruas estão alagadas, com pântanos e lama a despontarem. O esforço, que as pessoas e viaturas fazem para transitar, revela quão penosa é a situação no terreno.
As águas paradas nas ruas poderiam ser da chuva, mas não são. Trata-se de águas projectadas, através da tubagem da rede de abastecimento, há tempo obsoleto.
Não é só o colapso das condutas que causa a fuga das águas, mas a erosão que abre, gradualmente, crateras nas ruas vai deixando os tubos ao ar livre.
Os técnicos do Fundo de Investimento e Património de Água (FIPAG) tentam repor os danos e evitar desperdícios, que os moradores dizem ser recorrentes.
“Os técnicos têm vindo ao local, mas o problema depois continua. Muitas vezes, somos nós próprios que arregaçamos as mangas para minimizar o problema”, queixou-se Atanase Alicai, residente no bairro de Chamanculo “C”.
As queixas de Atanase Alicai são as mesmas de Lídia Machava que pede uma intervenção definitiva, pois “já não dá”.
“Convivemos com os pântanos nas ruas. Um dia é pior que outro. Esta situação já está acima das nossas capacidades”, apelou.
São cerca de 175 mil metros cúbicos de água que mensalmente escapam da rede de abastecimento, uma realidade também evidente numa rua localizada no quarteirão 54, na Polana Caniço “B”.
Naquele bairro, a água é projectada pelas condutas que passam pelo espaço do Autódromo Internacional de Maputo (ATCM). A água, que escapa das condutas, está a um metro de altura, situação que se agrava com o lençol freático que lá predomina.
Além do desperdício aos poucos, a água vai pressionando a vedação que se despedaça paulatinamente. No local, as crianças galgam o muro que, num instante, pode desabar, que o diga Rodrigo Rocha, presidente do ATCM.
“São milhões de litros que se perdem e que poderiam estar a beneficiar residentes locais. A situação é desagradável, numa altura em que o Homem se debate com a escassez de água”, disse.
Os moradores vivem com águas paradas há mais de um ano, um problema cuja solução tarda chegar. Enquanto a solução não chega, as águas vão fazendo das suas. Os moradores temem pelas crianças que podem contrair doenças, uma vez que as águas paradas são propícias para os mosquitos se procriarem.
Mário Mbalane, septuagenário e residente no bairro da Polana Caniço “B”, sente na pele as consequências provocadas pela fuga de água. E não é para menos – são mais de 15 famílias que ficaram sem água potável.
“As crianças já padecem de malária e outras doenças que derivam de água parada”, lamentou Mário Mbalane.
EM MANGA, SOLUÇÕES A CURTO E MÉDIO PRAZOS
A Empresa de Águas da Região de Maputo reconhece as dificuldades em responder às fugas do precioso líquido. Fora os desperdícios, mais de três milhões de metros cúbicos também se perdem mensalmente, devido às práticas clandestinas.
Sobre a demora na reposição de tubos, o Director de distribuição a nível de Região de Maputo, João Francisco, disse que há situações que os clientes não reportam.
“Reconhecemos que há dificuldades decorrentes no terreno. Temos equipas preparadas para responder prontamente a qualquer eventualidade, mas é, de facto, necessário um esforço adicional”, precisou.
A maior rede de distribuição de água em Maputo e Matola é a que foi implantada no tempo colonial e já apresenta o estado avançado de degradação. Até ao fim do presente ano, a empresa Águas de Região de Maputo prevê substituir cerca de 30 km da linha de distribuição, dos quais 16 km já foram intervencionados.
A Região Metropolitana de Maputo possui uma carteira de 256.892 clientes, dos quais 139.740 são do Município de Maputo.