Mesmo com os efeitos nefastos da guerra na Ucrânia, a COVID-19 e o terrorismo em Cabo Delgado, o Fundo Monetário Internacional mostra-se optimista em relação ao crescimento da economia nacional. Para este ano, prevê que Moçambique cresça 3.8%, depois do registo de 2,2% no ano passado.
Para os próximos anos, a perspectiva de crescimento da economia nacional é ainda melhor, ou seja, o FMI espera que o Produto Interno Bruto de Moçambique (PIB) aumente na ordem dos 5% em 2023 e 13.1% em 2027, a maior subida já registada desde o ano 1987.
Entretanto, a instituição financeira internacional prevê um agravamento do custo de vida no país, estimando, assim, uma subida generalizada do nível geral de preços na ordem dos 9% este ano, contra as estimativas do Governo que, apesar da subida dos combustíveis, ainda apontam para 5,3% este ano.
Para o próximo ano, o FMI prevê um recuo da subida dos preços para 7%. Estes dados constam do mais recente relatório da instituição, intitulado “World Economic Outlook”, divulgado esta terça-feira.
Devido ao impacto directo da guerra na Ucrânia, associados às sanções impostas à Rússia, o Fundo Monetário prevê ainda que a economia mundial cresça 3,6% neste e no próximo ano. Já para a África Subsaariana, espera-se um crescimento económico de 3,8 e 4,0 este ano e em 2023, respectivamente.
FMI PREVÊ AGRAVAMENTO DAS PERSPECTIVAS DE CRESCIMENTO ECONÓMICO DE 4,4% PARA 3,6%
As perspectivas de crescimento global agravaram-se significativamente devido aos efeitos combinados da inflação, guerra na Ucrânia e pandemia persistente, anunciou ontem (18 de Abril), o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Estes impactos são descritos no relatório World Economic Outlook, divulgado no início das reuniões de Primavera do FMI e do Banco Mundial em Washington DC, pelo novo economista-chefe, Pierre-Olivier Gourinchas.
“Bem, há uma redução significativa nas nossas projecções de crescimento para a economia global de 4,4% em Janeiro para 3,6% na nossa última actualização, ou seja, 0,8 pontos percentuais de diferença. Há três razões principais para este rebaixamento. Primeiro, a invasão russa à Ucrânia, que está a aumentar os preços da energia e das mercadorias em todo o mundo e está a conduzir a menos produção e a mais inflação. A inflação é mais elevada na maioria dos países, e espera-se que persista por mais tempo. Além disso, temos um abrandamento da economia chinesa com bloqueios mais frequentes devido à Omicron que está a pesar para baixo e depois também pressões elevadas sobre os preços em muitas partes do mundo ou bancos centrais líderes para apertarem os controlos da política monetária”, disse Pierre-Olivier Gourinchas, economista-chefe do FMI.
Segundo Gourinchas, os riscos globais para as perspectivas económicas aumentaram acentuadamente e os compromissos de política tornaram-se cada vez difíceis.
“Bem, há uma série de riscos negativos importantes para a nossa previsão. Primeiro, deixem-me começar pela própria guerra. O conflito pode escalar, as sanções podem tornar-se mais amplas, e isto é claramente o que pesaria sobre a actividade económica. Em segundo lugar, as pressões inflacionistas estão a acumular-se. Em alguns países, como os EUA, a inflação está no nível mais alto dos últimos 40 anos. Existe o risco de isto poder persistir e exigir uma acção mais enérgica por parte dos bancos centrais, que pesaria sobre a produção e a actividade económica. Em terceiro lugar, a pandemia da COVID 19 ainda está entre nós. Poderíamos assistir ao aparecimento de novas variantes resistentes às vacinas que causariam mais lockdowns e perturbariam as cadeias de abastecimento globais. Em quarto lugar, poderíamos ter, no contexto do aperto das taxas de política em todo o mundo, poderíamos ver também mais instabilidade financeira. Muitos países poderiam descobrir que os fluxos de capital se esgotam, as moedas poderiam começar a desvalorizar-se. Esta instabilidade financeira é outro factor. Por último, temos também o potencial de agitação social dado o aumento dos preços da energia e dos alimentos em muitos países”, acrescentou Gourinchas.
Mesmo quando os decisores políticos se concentrarem em amortecer o impacto da guerra e da pandemia, a atenção terá de ser mantida em objectivos a mais longo prazo, pelo que o FMI aconselha os decisores políticos, primeiro, a fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para acabar com a guerra agora. Além disso, sugere que devem pensar na política monetária, na política fiscal e na política de saúde.
Aos países onde a situação sanitária o permite, o FMI sugere a retirada do apoio que foi posto em prática nos últimos dois anos, e depois abordar as populações vulneráveis, implementar políticas específicas e temporárias que as ajudarão a enfrentar preços mais elevados para os alimentos e a energia. Isto pode assumir diferentes formas, sob a forma de descontos nas facturas de serviços públicos, sob a forma de subsídios aos preços dos alimentos e da energia, desde que sejam temporários e existam cláusulas claras de caducidade, e que todas estas políticas estejam inscritas em quadros fiscais, quadros fiscais de médio prazo, de modo a assegurar a sustentabilidade fiscal.
Por fim, em matéria de política de saúde, precisamos de implementar um conjunto abrangente de ferramentas com monitorização, testes, vacinas e tratamentos para garantir que todos os países possam emergir da pandemia da COVID 19.
“E isto exigirá também que os doadores internacionais completem o financiamento das ferramentas internacionais que colocamos em prática com necessidades de financiamento que rondam os 23,4 mil milhões de dólares”, concluiu Gourinchas.