O antigo Presidente da República, Joaquim Chissano, defende o diálogo permanente para a manutenção da paz no país. Outras personalidades ouvidas pelo Jornal O País sustentam que a paz definitiva vai trazer ganhos para o país.
Calmo e sereno, mas feliz, Joaquim Chissano, antigo Presidente da República e um dos signatários do Acordo Geral de Paz de 1992, assinado em Roma, testemunhou o fim da fase de desarmamento e desmobilização dos homens da Renamo.
“Para mantermos a paz é necessário o diálogo, sim, diálogo permanente. Eu estou muito alegre com o culminar de todo este processo de Roma até aqui todos os acontecimentos foram interligados e sempre houve este esperança de que um dia como este ia chegar, portanto estamos muito felizes e esta de parabéns todo povo moçambicano”.
Por sua vez, o antigo negociador chefe do Acordo Geral de paz pela Renamo, Raul Domingos, actual embaixador de Moçambique no Vaticano, diz-se animado.
“Finalmente trinta anos depois concluímos o processo, portanto é de facto marcante, é um momento assinalável na história de Moçambique e carregamos uma experiência que podemos transmitir à África e ao mundo sobre processos de paz e desarmamento e reintegração dos militares desmobilizados”.
Com este marco considerado histórico, o país ganha a pacificação e abre uma nova página para o desenvolvimento socioeconómico, segundo alguns dirigentes como disse o Ministro da Indústria e Comércio, Silvino Moreno. “A paz é bastante importante para o desenvolvimento do país, não há actividade que se faça seja ela de qualquer natureza que não precise da paz. E se formos a falar da actividade económica ela só se desenvolve quando há paz”. O também ministro das Obras Públicas, Recursos Hídricos e Habitação Carlos Mesquita alinha no mesmo pensamento. “Isto vai trazer tranquilidade mais estabilidade e é fundamental para atracação dos investimentos estrangeiros por um lado, investimento do sector privado por outro lado. ”
Os nossos entrevistados fizeram notar que para já cabe a toda sociedade moçambicana manter o espírito de tolerância e perdão de modo a garantir melhor reinserção social.
O enviado pessoal do Secretário-geral das Nações Unidas e chefe do grupo de contacto do DDR destaca a dedicação de Filipe Nyusi e Ossufo Momade para a criação da confiança mútua. Para si, tal trouxe os resultados hoje celebrados.
Mirko Manzoni, um dos homens de destaque no processo de desarmamento da Renamo, considera que Moçambique é exemplo de negociação para a paz. No seu relatório sobre o DDR, sublinhou o envolvimento das partes no diálogo, situação que embora tenha sido difícil e complexa, trouxe resultado positivo para o país.
“Estou profundamente grato pelo apoio contínuo que recebo de ambas as partes e do secretário-geral das Nações Unidas António Guterres. Foi um privilégio apoiar o processo desde a mediação até a fase de implementação. Agora que os nossos esforços colectivos se voltam para reintegração e reconciliação cabe a todos nós garantir que este processo possa ter continuidade no futuro e que os beneficiários do DDR e suas famílias incluindo a comunidade continuem a beneficiar mutuamente do processo de paz durante as gerações vindouras”.
Presentes na cerimónia, dois ex-guerrilheiros da Renamo desmobilizados no âmbito do DDR, contaram a sua história. Alina Mussanhane, recrutada em Junho de 1982, diz ter sido enfermeira na base de Vaduzi e foi desmobilizada em 2020.
“Fui acolhida pela minha família, sinto – me bem em fazer parte deste processo de DDR é difícil viver as memórias que vivi na vida militar, mas sinto – me feliz em fazer parte da vida civil junto a minha família. Todos ficaram surpreendidos e felizes em ver-me quando voltei a casa. O apoio social que tive foi na reintegração como agente da PRM”.
Quem também partilha a sua experiência é Marcos Martinho, de 52 anos de idade, que ingressou na Renamo em 1987 e foi igualmente desmobilizado em 2020.
“Por enquanto me sinto bem em reintegrar a comunidade e agradeço a deus e a liderança do partido no qual eu estava inserido. Fora das matas me sinto num ambiente diferente e acolhedor já e motivo do meu agradecimento. Com o apoio do DDR recebi material, de inserção e subsídio”.
Há ainda por reintegrar na sociedade um grupo de ex-guerrilheiros da Renamo que, recentemente, voltaram à vida civil.