O título da nova longa-metragem da Leopardo Filmes (Portugal) é o nome de um insecto: Mosquito. A obra cinematográfica foi rodada, primeiro, em Nampula. Depois, quando se tornou arriscado regressar àquela província por causa dos ataques no Norte do país, a equipa de produção virou as atenções para Marracuene. Naquele distrito de Maputo, foi montada uma aldeia igual a que se pretendia inicialmente. E pronto. As filmagens prosseguiram com um elenco constituído por vários actores moçambicanos, como são os casos de Josefina Massango, Ana Magaia, Mário Mabjaia, Aquirasse Nipita, Gigliola Zacara, Maria Clotilde, Messias João, Hermelinda Simela e Gezebel Mocovela – além de Sufaida Moiane que esteve como figurante.
Assim, tendo como realizador João Nuno Pinto e como produtor Paulo Branco, a longa-metragem irá inaugurar o Festival Internacional de Roterdão, nos Países Baixos, no dia 22 deste mês, o que, segundo entendem Josefina Massango e Gigliola Zacara é uma grande oportunidade de exportar a arte e a cultura moçambicanas no estrangeiro.
Ora, Mosquito é a história de Zacarias, avança a sinopse, “um jovem português sedento por viver grandes aventuras heroicas durante a Primeira Guerra Mundial. Enviado para Moçambique, onde o conflito se desenrola longe dos olhares do mundo, o soldado vê-se deixado para trás pelo seu pelotão e parte numa longa odisseia mato adentro, à procura da guerra e dos seus sonhos de glória”. Mais do que isso, é igualmente uma história de desespero, isolamento, esperança e amor, que, essencialmente, descortina os bastidores da guerra, afinal, adianta Ana Magaia, é importante resgatar peripécias da guerra “para nos ajudar a lembrar de onde viemos, para onde vamos, o que fizemos e como foi que tudo aconteceu”. Para que as gravações do filme acontecem com sucesso, a actriz realça: “a Josefina teve um papel preponderante em todo o processo, porque foi a pessoa que, de certa maneira, ajudou o realizador a encontrar as actrizes, na tradução e em tudo o resto”.
Com a participação no Mosquito, pela primeira vez, Gigliola Zacara inicia-se num filme histórico, o que a actriz considera notável para o seu currículo. No filme, Gigliola é uma das integrantes da Aldeia das Mulheres, onde o papel de líder humana foi confiado a Josefina Massango e de guia espiritual a Ana Magaia.
Não obstante, Mosquito é uma história de ficção baseada em factos reais. Numa publicação feita sobre a longa-metragem, o realizador revela: “Em 1917, com apenas 17 anos, o meu avô paterno desembarcou em Moçambique junto com a 4ª Companhia Expedicionária Portuguesa, para defender a ex-colónia portuguesa da ameaça alemã. Como tantos outros soldados europeus em África durante a Primeira Grande Guerra, teve de fazer centenas de quilómetros a pé, em marchas diárias, enfrentando as mais duras privações, doenças, fome e sede. A diferença é que ele fez isso tudo sozinho, à procura da guerra e dos seus sonhos de glória. Mosquito é inspirado na história da chegada do meu avô a África. No entanto, o que se passou durante a sua longa e solitária caminhada pouco se sabe. É aqui que entra a ficção, a fabulação e o sentido que pretendo dar à narrativa”.
A longa-metragem Mosquito é uma produção da Leopardo Filmes em co-produção da Alfama Filmes Productions (França), APM Produções (Portugal), Delicatessem Filmes (Brasil) e Mapiko Filmes (Moçambique).
REALIZADOR NASCEU EM MOÇAMBIQUE
O realizador de Mosquito, João Nuno Pinto, nasceu em Moçambique, em 1969, e mudou-se para Portugal com cinco anos, logo a seguir à independência nacional. Os últimos anos do realizador têm sido divididos entre Lisboa (Portugal) e São Paulo (Brasil), onde residiu durante vários anos. A sua primeira longa-metragem de ficção é América, uma irónica reflexão sobre Portugal enquanto país destino de imigração. Mosquito, o seu mais recente filme, foi escrito pela sua mulher e também guionista, Fernanda Polacow, e por Gonçalo Waddington. O filme demorou quase sete anos a preparar.