Uma equipa de reportagem do Jornal O País e STV escalou ontem a vila de Mocímboa da Praia. No local as Forças de Defesa e Segurança (FDS) exibiram material bélico diverso capturado do inimigo que deixou para trás na fuga daquela importante vila portuária. Entre o material capturado haviam documentos que podem ajudar as FDS a traçar o perfil da liderança dos insurgentes, bem como prever os seus futuros planos.
Encontrou-se uma reprografia com manuais de instrução de utilização de diversos tipos de armas de fogo, bem como manuais e livros religiosos. Dentre os documentos foi achado um mapa desenhado a mão da vila de Palma e com a indicação clara da localização das bases e postos avançados das Forças de Defesa e Segurança, bem como a localização exacta de igrejas, edifícios de instituições públicas, hotéis e outros pontos de interesse público. Acredita-se que o mapa tenha sido elaborado no acto do planeamento do ataque naquela vila em Março passado.
Em relação ao armamento, as Forças Armadas de Defesa de Moçambique dizem que não terá sido roubado dos seus quartéis, mas as suas características indicam que é de uso militar. Encontrou-se partes de uniforme militar e da Unidade de Intervenção Rápida, que era usado para se fazer passar pelas forças militares nacionais.
Neste momento as FDS dizem que continuam a levar a cabo acções de alargamento do perímetro de segurança na vila para permitir que a população possa regressar e retomar a sua vida normal, pois actualmente aquela vila é deserta e sem nenhum civil.
No entanto, na passada terça-feira apareceram oito mulheres com crianças em Mocímboa da Praia e foram levadas para um lugar seguro. As autoridades militares suspeitam serem esposas e filhos dos terroristas, pois têm como hábito raramente matarem mulheres e por estarem a ser perseguidos terão preferido libertar as mulheres para não consentirem o sacrifício típico de uma perseguição.
O cenário que caracteriza actualmente a vila de Mocímboa da Praia é de total destruição, e a face mais visível é o porto onde se podem ver guindastes, os camiões de carga e até a mercadoria que estava no interior dos contentores foram queimados. Este cenário vê-se um pouco por toda a vila pois quase nenhum edifício escapou a acção dos terroristas que transformou uma vila que já foi bastante movimentada e com uma economia dinâmica impulsionada pelo próprio porto, pela pesca, comércio geral e agricultura em escombros.
E como forma de demonstrar a afronta à soberania do Estado Moçambicano os terroristas destruíram os edifícios onde funcionam os principais órgãos do Estado, a começar pelo Tribunal Judicial do Distrito, o edifício do Governo do Distrito e do Conselho Autárquico, bem como as residências oficiais do Administrador Distrital e do Presidente do Conselho Autárquicos. Todas as outras instituições como as direcções distritais, o comando distrital da PRM, as delegações da Autoridade Tributária, da Migração, da Administração marítima foram reduzidos a escombros.
As agências bancárias não escaparam à fúria dos malfeitores que deitaram abaixo a agência do BCI, queimaram a agência do Millenium Bim e do Absa. Os terminais das transportadoras e seus autocarros foram reduzidos a cinza. Lojas, barracas e até residências privadas não foram poupados.
Ontem a empresa Aeroportos de Moçambique enviou uma equipa a Mocímboa da Praia para avaliar os danos causados ao seu aeroporto e já projectar o que deve ser feito para restaurar a infraestrutura e permitir que ela volte a assistir a navegação aérea.
O Aeroporto de Mocímboa da Praia tinha sido reabilitado e modernizado recentemente permitindo que receba voos regionais, bem como permitir que receba qualquer voo em caso de emergência a qualquer hora do dia. Mas todo o sistema que havia sido montado e equipamentos de comunicação foram destruídos.
Hoje a vila vai receber a visita do Governador da província de Cabo Delgado, Valige Tauabo, que vai inteirar-se das acções em curso para a “limpeza” da urbe e já começar a pensar na forma de devolver a população oriunda daquela região que neste momento vive em campos de deslocados nos distritos de Mueda, Metuge, Chiúre a na cidade de Pemba.