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Fátima Mendonça entende que Moçambique enfrenta um momento literário muito fértil, mas é preciso investir na internacionalização dos autores

A ensaísta e professora Fátima Mendonça defendeu, esta quarta-feira, na Fundação Fernando Leite Couto, na Cidade de Maputo, que Moçambique enfrenta um momento muito fértil na produção literária. Entretanto, é fundamental que os diferentes intervenientes invistam na internacionalização das obras dos autores poetas e escritores moçambicanos.

 

Entre 1977 e 2004, Fátima Mendonça leccionou na Universidade Eduardo Mondlane (UEM). Durante 27 anos, deu aulas a uma geração de ensaístas, escritores ou professores que, actualmente, são referências em Moçambique e no estrangeiro. Por exemplo, Francisco Noa, Paulina Chiziane, Nataniel Ngomane, Aurélio Cuna, Sara Jona Laisse e Aissa Mithá Issak. Aliás, tem-se dito que Fátima Mendonça é a professora de todos, no que à literatura diz respeito, pois, logo a seguir a independência nacional, foi uma das principais estudiosas que se dedicou a analisar as obras dos escritores nacionais ou o movimento literário.

Actualmente, Fátima Mendonça vive em Portugal, mas, ainda assim, continua muito atenta ao que se tem produzido em Moçambique. Por isso mesmo, na segunda sessão do Mabulu – livros e histórias da minha vida, realizada esta quarta-feira, na Fundação Fernando leite Couto, em Maputo, a ensaísta e professora reformada pela Faculdade de Letras e Ciências Sociais da UEM referiu-se abertamente às novas tendências literárias nacionais. Segundo disse Fátima Mendonça, o país enfrenta um momento muito fértil em termos de produção literária. Inclusive, com autores capazes de atrair interesses editoriais do estrangeiro, sobretudo do Brasil. “Eu não sou muito abundante em elogios, mas há, realmente, quer poetas, quer narradores, a surgirem agora, muito bons. Até me parece que são mais sensíveis em aperfeiçoar o que escrevem, em ser rigorosos e reescrever sem pressa de ter o texto pronto. Penso que daqui a uns 10 anos será possível ver o resultado deste movimento”.

No entendimento de Fátima Mendonça, o facto de haver movimentos dedicados à literatura em várias províncias do país favorece o surgimento de autores que se envolvem na dinamização da arte literária. No entanto, afirmou a ensaísta, apenas o momento fértil e a existência de bons movimentos não basta na colocação da literatura moçambicana num alto patamar. A acompanhar a qualidade literária, é indispensável a criação de revistas e páginas de jornais envolvidas na promoção e divulgação. Sem isso, há um vazio que fica. “Se ficamos só á espera das edições dos livros, fica um hiato entre o momento em que a pessoa começa a escrever e o momento em que realmente edita um livro. Esse hiato, quanto a mim, é preenchido pelas revistas. Os prémios também cumprem o seu papel, mas a divulgação tem de ser através da imprensa. E isso eu acho que falta, acho que falta espaço para divulgação”.

Além da divulgação interna, Fátima Mendonça referiu-se à importância da internacionalização das obras dos autores moçambicanos, o que depende da recepção, por exemplo, no país de chegada. “É preciso que aquilo que se exporta tenha uma boa recepção. Varia muito. Há países que gostam de um certo exotismo e um livro que tenha essas características é bem recebido”.

Ainda no campo da internacionalização literária, Fátima Mendonça destacou a importância das feiras do livro porque, além do intercâmbio artístico e cultural, é nelas que se conseguem contratos para edição e tradução.

Além de leccionar na UEM, Fátima Mendonça trabalhou em várias outras universidades. Por exemplo, no Zimbabwe, na África do Sul, na Rússia, em França, em Espanha, no Brasil e em Portugal. Como ensaísta, publicou Literatura moçambicana – as dobras da escrita (2012), Rui de Noronha: meus versos (2006), Antologia da nova poesia moçambicana (co-autoria, 1993), Literatura moçambicana – a história e as escritas (1989), co-organizou a edição da obra Sangue negro, de Noémia de Sousa, o livro póstumo Poemas eróticos, de José Craveirinha, e é co-autora de João Albasini e as luzes de Nwandzengele (2014). Em 2016, foi laureada com o Prémio de Literatura José Craveirinha, o mais importante do país.

 

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