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Famílias retiradas de Chalambe enfrentam dificuldades no novo bairro

Há cerca de um ano, 60 famílias foram retiradas do bairro Chalambe, uma área vulnerável a enchentes de marés e águas pluviais, e realojadas nas novas habitações construídas pela edilidade de Inhambane, num projecto bastante turbulento. Embora a mudança tivesse como objectivo proporcionar melhores condições de vida, os residentes enfrentam, actualmente, uma série de desafios que comprometem o seu bem-estar e segurança.

No momento do reassentamento, foi prometido às famílias um subsídio de reintegração no valor de 60 mil Meticais. No entanto, muitos residentes relatam que apenas receberam metade desse montante e alguns receberam apenas 15 mil Meticais. Um dos moradores expressou a sua frustração: “Foi-nos prometido um subsídio de reintegração de 60 mil Meticais, mas só recebemos 30 mil e, mesmo assim, nem todos receberam, pois há quem só recebeu 15 mil Meticais. Esse valor recebemos depois de muitos meses e perante várias guerras travadas com a edilidade, o que dificultou muito a adaptação.”

Esta situação financeira precária tem dificultado a adaptação das famílias ao novo ambiente, limitando a sua capacidade de investir em melhorias necessárias nas suas habitações e na comunidade.

As novas casas apresentam problemas estruturais significativos. Durante as chuvas, é comum a infiltração de água pelos tectos, resultado de deficiências na construção. Um residente contou ao “O País”: “As casas têm muitas falhas. Sempre que chove, a água entra pelo tecto e molha tudo que está lá dentro, desde a roupa até material escolar entre outros. O material usado não é de qualidade, e isso cria ainda mais dificuldades para nós.”

Estas infiltrações não só comprometem a integridade das habitações, mas também representam riscos à saúde dos moradores, devido ao desenvolvimento de bolor e à deterioração dos materiais de construção.

A ausência de um sistema adequado para a gestão de resíduos sólidos levou as famílias a adoptarem práticas improvisadas e potencialmente perigosas. Sem um serviço de recolha de lixo ou infra-estruturas apropriadas, os moradores são obrigados a fazer covas nos seus quintais para depositar o lixo doméstico. Esta prática levanta várias preocupações, pois a acumulação de resíduos em covas abertas pode atrair vectores de doenças, como roedores e insetos, aumentando o risco de surtos de doenças transmissíveis.

Por outro lado, as covas representam um risco físico, especialmente para as crianças que brincam nas proximidades, podendo ocorrer acidentes graves. Além disso, a decomposição inadequada dos resíduos pode contaminar o solo e as fontes de água subterrâneas, afectando negativamente o meio ambiente local.

Um dos moradores destacou: “Sem alternativa, temos de abrir covas nos quintais para deitar o lixo. Isto é perigoso para as crianças e cria problemas de higiene, mas, num terreno tão pequeno como este, é complicado estar sempre a abrir novas covas.”

Além das questões habitacionais e de saneamento, as famílias enfrentam desafios relacionados com a falta de infra-estruturas comunitárias essenciais. Durante o processo de realojamento, foi prometida a construção de um mercado local para facilitar o acesso a bens de primeira necessidade. No entanto, até à data, essa promessa não foi concretizada. Um residente desabafou: “Disseram-nos que iam construir um mercado aqui, mas até agora nada foi feito. Somos obrigados a percorrer longas distâncias para mercados como Guiúa, para comprar coisas básicas. Isso torna a vida muito difícil.”

A falta de um mercado local obriga os moradores a deslocarem-se para áreas distantes, o que implica custos adicionais e dificuldades logísticas, especialmente para os idosos e pessoas com mobilidade reduzida.

Passado um ano desde o realojamento das famílias do bairro Chalambe, os desafios enfrentados no novo assentamento são numerosos e complexos. As promessas iniciais de subsídios completos, habitações de qualidade e infra-estruturas comunitárias adequadas não foram cumpridas na totalidade, deixando os moradores em condições precárias.

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