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Falta de manutenção periódica leva mais de 40 autocarros à “garagem” no Grande Maputo

Foto: O País

Estão avariados e, por isso, parados mais de 40 autocarros dos 430 alocados, pelo Governo, às cooperativas de transporte da região do Grande Maputo desde 2016, o que contribui para a falta de transporte.

Muitas horas de espera nas paragens e nos terminais rodoviários, filas longas e falta de transporte. Esse é o retrato do dia-a-dia por que muitos moçambicanos passam.

É um problema vivido há décadas nas principais cidades do país. Por exemplo, embora a área metropolitana do Grande Maputo tenha recebido, nos últimos seis anos, mais de 400 autocarros, à luz do plano 1000, muitos deles se encontram inoperacionais.

“O que eu posso dizer é que, na área metropolitana, temos agora, com os 80 recebidos recentemente, 430 autocarros, mas nem todos estão operacionais”, disse António Matos, presidente do Conselho de Administração da Agência Metropolitana de Transportes de Maputo.

Na Avenida 24 de Julho, encontrámos, na manhã da última quinta-feira, Anita, supervisora de um dos autocarros, da rota Nkobe–Baixa da Cidade, na companhia do motorista e cobrador, que tentavam trocar dois pneus estourados.

“Não temos nenhum rebocador para o caso de estourar pneu”, disse Anita, que acrescentou que, “estamos a tentar trocar os pneus para tirarmos o carro da estrada até à oficina, uma operação que vai durar cinco minutos”, mas foram precisas longas horas para a remoção do autocarro e já sem passageiros.

Trata-se de um problema que assola muitos autocarros que circulam na área metropolitana do Grande Maputo. Vimos um pneu velho e com fissuras num dos autocarros em circulação, o que coloca em perigo a vida de muitos passageiros. José Jaime Mandlate, motorista, diz que as estradas degradadas são a causa do problema.

“A questão aqui são as nossas estradas, no troço de Kongolote até Primeiro de Maio, incluindo Muhalazi, há muitas lombas e valetas, as estradas não estão em condições; ali, na Zona Verde, há muitas covas.”

Hilário Bila, também motorista, entende que falta rigor na manutenção dos autocarros: “Alguns se desleixam na própria manutenção, mesmo com um fio solto, que pode causar faíscas, não vão à oficina para fazer a reposição dessas peças”.

De problemas simples, chegou-se à situação de autocarros que caem aos pedaços enquanto circulam, uns com plásticos a substituírem os vidros, além de rachas que podem interferir na visibilidade, outros com para-choques partidos.

Vamos agora às contas: um autocarro, de marca Yutong, num dia normal de trabalho, embarca 50 passageiros sentados e 40 em pé, numa viagem da rota Zimpeto–Baixa da Cidade de Maputo. Significa que, numa única viagem, os 27 autocarros parados poderiam transportar, nesse trajecto, 2430 pessoas.

Enquanto isso, a procura por transporte continua alta. Na Cooperativa de Transporte de Marracuene (COOTRAMAR), que tem 21 autocarros recebidos entre 2018 e 2019, que ligam aquele distrito à Cidade de Maputo, quase todos estão em estado crítico.

“Temos diferentes marcas, os VW ainda estão em estado razoável, os Yutong têm problemas mecânicos no motor e os de marca Tata são uma lástima mesmo”, disse Alfredo Mandlate, responsável da COOTRAMAR, que acrescentou que as empresas contratadas pelo Governo não estão a fazer devidamente a manutenção dos autocarros.

A Federação Moçambicana dos Transportadores Rodoviários (FEMATRO) reforça a ideia e acusa as duas empresas contratadas pelo Governo (Matchedje Motors e Sir Motors) de fugirem das suas responsabilidades.

Filisto Bustani, gerente-geral da Matchedje Motors, rebate as questões levantadas pela FEMATRO, afirmando que não vende peças contrafeitas nem adquiridas no circuito informal. “Nós somos representantes da Marca Zongtong em Moçambique, inclusive temos um contrato com o fornecedor. Estamos proibidos de comprar peças em mercados que não sejam da Zangtong.”

Quanto à outra empresa contratada pelo Governo para fazer a manutenção periódica dos autocarros, a FEMATRO diz que “há mais de dois anos que a Sir Motors não faz a revisão dos autocarros”.

Por sua vez, a Sir Motors diz ter contrato com o Governo para garantir a revisão e manutenção de 250 autocarros que forneceu ao Fundo de Desenvolvimento de Transportes e Comunicações. Pelo sim ou pelo não, a empresa diz não constituir verdade o que a FEMATRO diz e dá a sua versão: “Em 2021, assistimos, em termo de manutenção, 59 viaturas e, até agora, já deram entrada, nas nossas oficinas, 49 autocarros e, se continuarmos assim, podemos ultrapassar os números do ano passado, que mostram que a Sir Motors não abdicou das suas obrigações contratuais”.

A Agência Metropolita de Transporte de Maputo culpa os gestores das cooperativas de transporte pelo problema, por não cumprirem manutenções dos autocarros.

O Ministério dos Transportes e Comunicações, através de Fernando Ouana, director nacional de Transportes e Segurança, diz que a revisão obrigatória está assegurada pelo Governo, através do Fundo de Desenvolvimento de Transporte e Comunicações, e a responsabilidade de fazer manutenções periódicas nas viaturas é dos operadores.

Fernando Ouana diz que o Ministério dos Transportes e Comunicações, não está satisfeito com a conservação dos autocarros: “A avaliação é de que não surtiu os efeitos desejados. Continuo a dizer que este é um dos reflexos de que o operador, apesar de ter garantido a durabilidade do carro, não fez a conservação da estrutura interna e externa. Não se pode generalizar, são várias cooperativas, algumas tiveram um desempenho melhor e outras não”.

Ouana diz que o Governo já pensa em novas formas de aquisição e alocação de autocarros para melhorar a sustentabilidade, uma vez que o sistema de cooperativismo não tem dado resultados satisfatórios.

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