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Falta água no bairro Paulo Samuel Kankhomba em Boane 

Foto: O País

A população do bairro Paulo Samuel Kankhomba, no município de Boane, sente-se excluída e esquecida, pois, desde 2019, não jorra água nas torneiras das suas casas, mas, no final do mês, chegam as facturas. Como solução, recorrem ao rio Umbeluzi.

A situação está a deixar a população indignada, pois acorda, muitas vezes de madrugada, por volta das duas horas, para se dirigir a um fontanário, para tirar o precioso líquido, uma vez que a mesma pára de sair até às seis horas. 

São várias famílias e muitas delas não conseguem tirar água no referido fontanário, pois muitas vezes sai sem pressão. Como solução, os residentes do chamado PSK recorrem ao rio Incomáti para ter o precioso líquido. 

“Nós estamos a pedir socorro, não faz sentido o que estamos a viver. Desde 2019, não sai água nas nossas casas; agora temos de vir ao rio, aqui tiramos água suja para beber, cozinhar e fazer limpeza. Aqui, há crocodilos, às vezes há corpos a flutuar, e não temos escolha”, lamentou Lucrécia Filipe. 

Por isso, muitas vezes, a busca pela água é em grupo. Com os recipientes à cabeça, as mulheres tomam o caminho para casa, algumas até com crianças ao colo, outras grávidas e até idosas fazem por dia, pelo menos duas vezes este percurso, de cerca de 30 minutos até às suas casas, para ter o precioso líquido. 

Segundo os moradores, quando o projecto de ligação de água chegou ao bairro, muitos fizeram dívidas para conseguir dinheiro e ter água em casa, mas a mesma não saiu por mais de três meses. 

“Tenho dois filhos, um deles é este bebé aqui nas minhas costas. Tenho de madrugar com ele para tirar água. Aqui há mosquitos, no tempo frio, a criança fica gelada, mas tenho torneira em casa e, quando o fornecedor decide, leva a factura para pagarmos. Será que faz sentido isso?|”, questionou, irritada, a jovem Laura da Graça. 

As facturas, segundo contaram, apresentam, às vezes, valores acima de cinco mil Meticais, por “água que nem saiu”. Entretanto, nos últimos tempos,  desde Março do ano passado, as facturas chegam via mensagens enviadas por telefone, depois de os residentes daquele bairro terem ameaçado os funcionários das Águas da Região de Maputo. Dizem que, nas referidas mensagens, informam que quem não pagar sofrerá o corte de água.

“Como é possível cortarem água que não sai? Como eu vou pagar água que não sai? A minha torneira está seca, todos os dias tenho de tirar água ou do rio ou deste fontanário; aqui pagamos dois Meticais por bidão e, no rio, apanhamos doenças, como diarreia, ainda tenho de pagar por algo que não sai. Que eles venham tirar essa ligação”, disse, indignada, Belinha Valentim. 

O que mais inquieta a população é que, no mesmo bairro, há casas com água, por isso se sentem excluídos. 

A situação já é do conhecimento das Águas da Região de Maputo, e o director de Manutenção admite haver problemas no fornecimento de água, não só neste bairro, como também por quase toda a vila de Boane. Mas o que acontece com Paulo Samuel Kankhomba é que o bairro está localizado numa zona alta, o que dificulta o abastecimento de água. 

Para já, está em curso a mobilização de financiamento junto do Banco Mundial, que prevê  a colocação de uma bomba dedicada para Vila de Boane e aumento da capacidade de reserva no centro distribuidor em mais cinco mil metros cúbicos e uma conduta de transporte de cerca de oito quilómetros até à vila de Boane, bairro seis Mahubo e bairro Picoco. 

Além da falta de água, os residentes daquele bairro apresentam mais queixas, como, por exemplo, o estado das vias, falta de transporte, fornecimento de energia, criminalidade e mau atendimento no posto de saúde.

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