A companhia petrolífera norte-americana Exxon Mobil considera que o investimento no gás natural de Moçambique está encaminhado para ser tomada uma Decisão Final de Investimento em 2025, começando a produzir no final da década.
Esta é a primeira vez que a Exxon Mobil fala em datas relativamente ao projecto de construção de uma fábrica no Norte de Moçambique, depois de o projecto estar parado desde 2020 devido à insegurança na região.
“Muito depende ainda da situação de segurança, que tem estado a ser muito bem gerida”, ressalvou, esta semana, o vice-presidente da companhia para a exploração de petróleo e gás, Peter Clarke, numa conferência em Vancouver.
Citado pela agência de informação financeira Bloomberg, o responsável acrescentou que “o Governo moçambicano está a fazer um bom trabalho” e disse esperar “ter notícias mais positivas sobre isso” até ao final do ano.
Uma aprovação em 2025 colocaria o projecto no bom caminho para iniciar a exploração e exportação no final desta década, segundo a Bloomberg, sem citar directamente o vice-presidente da Exxon a dizer que a Decisão Final de Investimento, o ponto a partir do qual se torna mais caro desistir do projecto do que avançar, será tomada em 2025.
O projecto da Exxon, na Bacia do Rovuma, em Cabo Delgado, previa, no seu início, uma produção de 15,2 milhões de toneladas por ano, mas a companhia antevê uma produção anual de 18 milhões de toneladas actualmente.
A nível global, a petrolífera planeia duplicar, até 2030, o portefólio de Gás Natural Liquefeito (GNL), cuja produção está actualmente nos 24 milhões de toneladas anuais.
Moçambique tem três projectos de desenvolvimento aprovados para a exploração das reservas de gás natural da Bacia do Rovuma, classificadas entre as maiores do mundo, ao largo da costa de Cabo Delgado.
Dois desses projectos têm maior dimensão e prevêem canalizar o gás do fundo do mar para terra, arrefecendo-o numa fábrica para o exportar por via marítima em estado líquido.
Um é liderado pela TotalEnergies (consórcio da Área 1) e as obras avançaram até à suspensão por tempo indeterminado, após um ataque armado a Palma, em Março de 2021, altura em que a energética francesa declarou que só retomaria os trabalhos quando a zona fosse segura.
O outro é o investimento ainda sem anúncio à vista liderado pela ExxonMobil e Eni (consórcio da Área 4).
Um terceiro projecto concluído e de menor dimensão pertence também ao consórcio da Área 4 e consiste numa plataforma flutuante de captação e processamento de gás para exportação, diretamente no mar, que arrancou em Novembro de 2022.
A plataforma flutuante deverá produzir 3,4 mtpa (milhões de toneladas por ano) de gás natural liquefeito, a Área 1 aponta para 13,12 mtpa e o plano em terra da Área 4 prevê 15 mtpa.
A província de Cabo Delgado enfrenta há cinco anos uma insurgência armada com alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
A insurgência levou a uma resposta militar desde Julho de 2021, com apoio do Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projectos de gás, mas surgiram novas vagas de ataques a sul da região e na vizinha província de Nampula.
O conflito já fez um milhão de deslocados, de acordo com o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), e cerca de 4000 mortes, segundo o projecto de registo de conflitos ACLED.
EXXON MOBIL ENTROU NA BACIA DO ROVUMA EM 2017
A Exxon Mobil é uma das maiores empresas de energia de capital aberto do mundo e também é um dos maiores produtores de petróleo e gás em África. Através das suas afiliadas, opera em África há mais de 100 anos e, desde 2006, comprometeu-se em investir mais de 46 biliões de dólares em África, incluindo em projectos na Nigéria, Angola e muitos outros países. A ExxonMobil tem uma vasta mão-de-obra em África, contando com 3300 trabalhadores no continente.
A Exxon Mobil anunciou, no dia 13 de Dezembro de 2017, a conclusão da sua aquisição de 25% da participação indirecta na Área 4 offshore em Moçambique.
A Exxon Mobil Moçambique irá liderar a construção e operação futura do GNL e instalações relacionadas para a Área 4 enquanto a Eni continuará a liderar o projecto de GNL flutuante da Coral e todas as operações upstream. O bloco das águas profundas da Área 4 contém reservas de mais de 85 triliões de pés cúbicos de gás natural, o que irá fornecer recursos para o projecto de GNL de classe mundial, em que os parceiros esperam investir dezenas de biliões de dólares.
A descoberta de enormes depósitos de gás natural tem o potencial de transformar Moçambique. Abre o caminho para que o país se torne num dos principais exportadores de GNL regionais e um importante operador energético mundial.