Nota prévia: para não entrar no mato e embalar num debate eivado de argumentos, fértil em ataques pessoais e objectivos obscuros, socorro-me de um instrumento legal que norteia o funcionamento das agremiações desportivas em Moçambique: a Lei do Desporto.
O artigo 48 na sua alínea 2 refere que os titulares dos órgãos sociais das federações e associações desportivas provinciais e distritais só se podem recandidatar uma vez. O mesmo artigo, já na sua alínea 1, diz que a duração dos mandatos deve ser de apenas quatro anos.
O artigo 43 da Lei de Desporto refere que as federações desportivas nacionais estão sujeitas a fiscalização pela entidade que superintende o desporto, neste caso o Ministério da Juventude e Desportos através da inspecção-geral.
Acontece, pasme-se, que tal tem sido pontapeado perante o olhar impávido do Ministério da Juventude e Desportos. A título de exemplo: o mandato do actual elenco da Federação Moçambicana de Basquetebol, encabeçado por Francisco Mabjaia, venceu em Junho de 2018, sendo que na altura devia ter sido convocada uma assembleia-geral para a eleição de novos corpos directivos.
Equivale, isso, dizer que a Federação Moçambicana de Basquetebol está fora do mandato há cerca de oito meses.
Quais criadores do tal e qual sem igual, as alinhadas associações provinciais de basquetebol, sem mandato para tal e numa clara violação da Lei do Desporto, decidiram que Francisco Mabjaia devia continuar como presidente da FMB até Dezembro de 2019!
O que, feitas as contas, colocaria Mabjaia num caso sem igual: presidir uma agremiação desportiva com cerca de um ano e meio fora do mandato. Não procede, não procede mesmo, o argumento de que havia necessidade de o actual elenco continuar com o trabalho que esteve a desenvolver porque há várias actividades este ano!
Quer dizer, quando houve a reeleição de Francisco Mabjaia não se sabia que este ano teremos os campeonatos africanos de basquetebol seniores masculinos e femininos, provas previamente calendarizadas pela FIBA-Africa? Não sabíamos que temos um ciclo olímpico?
Por uma questão de elegância, e se quisermos até de ética, Mabjaia não devia aceitar esta proposta das enredas em choque com a lei associações províncias de basquetebol.
Mabjaia, sejamos claros: teve bons resultados durante o seu mandato. Qualificamo-nos, na sua era, para um Mundial de basquetebol em seniores femininos, em 2014, na Turquia, conquistámos a Taça dos Clubes Campeões Africanos de basquetebol em 2012 (extinta Liga Desportiva) e Ferroviário de Maputo (2018, em Maputo).
O mérito do elenco de Francisco Mabjaia não se fica por aqui: foi no seu mandato que, pela primeira vez, Moçambique assegurou a presença no Campeonato Mundial de sub-19, entre outros ganhos.
Mas nem tudo foi um mar de rosas, diga-se! Não se fez formação de qualidade.
Pelos feitos e defeitos, sujeitos a escrutínio por parte dos fazedores da modalidade da bola ao cesto, Mabjaia merece sair bem pelo trabalho que (não) fez e ser colocado em cheque. Precisamos, em todas as esferas, de pessoas comprometidas com o trabalho. Precisamos de pessoas competentes que fazem bem o seu trabalho. Porca Madona, diria o poeta.
PS: o desfecho dos campeonatos nacionais de juniores masculinos e femininos, no pretérito fim-de-semana, não dignifica o basquetebol moçambicano. Não dignifica os fazedores da modalidade.
Apagão no pavilhão do Maxaquene no decurso da final de juniores femininos a sete minutos do fim, boicote da equipa da casa a final de juniores masculinos e não realização dos quartos-de-final no dia marcado por falta de pagamento aos árbitros não valorizam esta modalidade. Vamos reflectir, deixar os egos de que somos mais que fulano A e B e lutar pelo desenvolvimento do basquetebol?