O ex-administrador financeiro da ANLABA não sabe se Gregório Leão era accionista daquela empresa, pois nunca teve acesso aos títulos das acções e tudo o que fazia na instituição era intermediado pelo réu António Carlos do Rosário. Bilal Sidat nega, ainda, ter participado na venda dos imóveis da ANLABA que o Ministério Público solicita seu arresto.
Era mais uma sessão para discutir o arresto de bens no âmbito das dívidas ocultas e que o Ministério Público pede o seu arresto preventivo.
Na audição desta terça-feira, foi ouvido Bilal Sidat, ex-administrador financeiro da ANLABA Investiments, empresa que, segundo o Ministério Público, foi criada por Gregório Leão para camuflar as riquezas adquiridas através do dinheiro do calote. Mas Sidat desconhece os accionistas daquela entidade.
“O meu vínculo com a ANLABA foi por via de António Carlos do Rosário. Nunca tive contacto com o Dr. Gregório Leão, porque eu recebia instruções escritas ou verbais única e exclusivamente de António Carlos do Rosário”, revelou Bilal Sidat, ex-director financeiro da ANLABA Investments.
Bilal Sidat não só desconhecia os accionistas da ANLABA Investiments, como também nega que a empresa tenha recebido valores provenientes da Privinvest. “A ANLABA não recebeu nenhum fundo, pelo menos na conta bancária da Previnvest. Os valores que a ANLABA recebeu, salvo o erro, tal como a Txopela, foi do tesouro”, afirmou, a duvidar, Bilal Sidat.
A ANLABA Investiments tinha três imóveis que foram vendidos a terceiros e que o Ministério Público solicita o seu arresto. Segundo consta dos autos, Bilal Sidat fez parte daqueles que assinaram acta da venda das casas, mas ele negou tudo.
“Nunca estive envolvido na venda do imóvel, por isso não tenho informações sobre como é que se processou a sua venda e como é que foram feitos os respectivos pagamentos”, desmentiu o ex-administrador financeiro da ANLABA Investments.
Alinhou-se à negação de ter participado da venda dos imóveis da ANLABA Taiob Cadangue, também ex-administrador da empresa, apesar de ter assinado muitos documentos.
“Apesar de muitas vezes o senhor António Carlos do Rosário ter ligado para mim a informar que estava a mandar um documento, eu só assinava, mas a assinatura nesta acta não é minha”, declinou Taiob Cadangue, ex-administrador da ANLABA Investments.
Entretanto, Abdul Carino, comprador de um dos imóveis da ANLABA, confirma a compra da casa no valor de pouco mais de 10 milhões de Meticais em Maio de 2019 e diz que verificou a autenticidade da acta da qual consta os nomes de Bilal Sidat e Taiob Cadangue no cartório.
“Eu fui fazer a verificação da acta no cartório. Depois de reconhecer a assinatura de Bilar, não falei com mais ninguém da empresa. Deixei assim”, disse Abdul Carino, comprador de um dos imóveis da ANLABA.
Abdul Carino não buscou detalhes sobre a compra da casa número 602, registada em nome da sua esposa, Fátima Bibi Abdul, e que está a ser arrendada a 100 mil Meticais.
“Não sei quem foi descontar os cheques e são do meu sogro. Não me lembro muito bem; o senhor Adiel foi uma das pessoas que me ligou e foi uma das que foi levantar o cheque, que eu me lembre”, avançou Abdul Carino.
Ainda para esta terça-feira, estava previsto que fosse ouvido o advogado Imran Issa, mas foi impossível sob pretexto de sigilo profissional, embora o juiz Efigénio Baptista tenha esclarecido que não é bem assim.
“As decisões no processo, quem toma é o juiz. Se formos por esse entendimento de que a Ordem dos Advogados é que autoriza o advogado a vir ou não prestar depoimentos no tribunal, significa que quem está a tomar decisões no processo é Ordem e não o Tribunal”, observou o Efigénio Baptista, acrescentando que, se o juiz entender que é de todo o interesse ouvir o advogado, “levanta um incidente, manda para o Tribunal Superior do Recurso, pode ouvir a Ordem e pronuncia-se sobre o pedido, depois toma ou não a decisão de levantar o sigilo”.
A audição sobre o arresto de bens retoma na próxima terça-feira, dia 03 de Maio, e serão ouvidas outras testemunhas do processo de venda de imóveis da empresa ANLABA.
EFIGÉNIO BAPTISTA ESTRANHA DESAPARECIMENTO DE DOCUMENTOS
A ideia da sessão de hoje era produzir a prova sobre se Gregório Leão era accionista da ANLABA Investiments e, no meio disso, o juiz das “dívidas ocultas” constatou um fenómeno que considerou preocupante – o desaparecimento de alguns documentos.
“Por ser uma sociedade anónima, não vêm escritos os nomes dos accionistas, mas foram colocados na certidão integral os nomes de três membros do conselho fiscal, que são Gregório Leão, António Carlos do Rosário e Imran. Mais tarde, quando era para publicar no Boletim da República, retiraram os nomes. Foi publicado sem os nomes e, porque foi registado no Balcão de Atendimento Único, tinha que haver BI dessas pessoas que foram lá constituir a empresa, mas os documentos desapareceram”, afirmou Efigénio Baptista, num tom de espanto.
E disse mais: “Um acto curioso é que pedimos à Imprensa Nacional para dar-nos BR, a instituição deu uma certidão integral que não tinha os nomes do Conselho Fiscal nem tinha o nome do requerente. Não sei por que a Imprensa pratica esse tipo de acto. É vergonhoso”, lamentou Efigénio Baptista.