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Evolução da televisão em Moçambique: Crescimento exponencial gera cada vez mais conteúdo local

Por: Elcídio Bila

O crescimento da televisão é notório em todos os quadrantes do mundo. Se em 1926, o escocês John Logie Baird apresentou a televisão mecânica aos cientistas da Academia Britânica, em Londres, hoje, após de várias experiências, temos a televisão digital, por satélite ou a cabo, oferecendo maior qualidade na transmissão de conteúdos.

Em Moçambique, o processo de transição digital começou em 2021, com o apagão dos emissores analógicos, permitindo a acomodação do país no padrão europeu de televisão, uma decisão conjunta do bloco dos países da SADC, na área das Telecomunicações.

Trata-se de um processo de migração que viveu vários cenários, tendo acompanhado uma evolução substancial entre 2015 e 2017, com a adopção de muitas inovações, incluindo a abordagem de negócios e o início da digitalização em algumas emissoras ao longo das principais cidades do país, gerando a expansão do sinal de televisão e atraindo cada vez mais pessoas.

A nível público, a liderança deste processo foi confiada à TMT, mas provedores privados como DStv, GOtv, Zap, Startimes e TV Cabo são outras propostas de acesso à televisão digital nos tempos actuais.

Se a TMT responde uma solicitação política, em 2015, como uma alternativa à TVM na transmissão dos conteúdos no processo de transição para o digital, outros provedores já estavam enraizados no país. Por exemplo, a DStv chega a Moçambique em 1992 e, em 1995 já tinha lançado a TV por satélite, à qual a TVM começou a aderir em 2001.

A TV Cabo chega em 2006, como pioneira na distribuição de dados e conteúdos por cabo no continente africano. A Zap, em 2011, alarga a distribuição de televisão por satélite em língua portuguesa em Moçambique. É no mesmo ano que começa a actuar a Startimes. E a GOtv, em 2014, entra no mercado moçambicano em cumprimento do objectivo do Grupo MultiChoice em tornar a televisão digital terrestre acessível, oferecendo televisão a preços acessíveis a todos os níveis da comunidade.

As distribuidoras de televisão por satélite, compõem, hoje, as preferências dos moçambicanos, mostrando o quão a indústria televisiva está robusta, numa viagem que inicia em 1981, quando a televisão em Moçambique ainda era experimental.

Ao mesmo tempo que há esta diversidade de serviços, a preocupação em colocar melhores conteúdos, sobretudo programas nacionais, tem aumentado gradualmente. Se na era analógica, canais como TVM, Miramar e Stv eram o eco de produções internacionais, sobretudo brasileiras, como séries, telenovelas e filmes, agora, na digitalização, há mais propostas nacionais, principalmente com o surgimento de novos canais.

Já é possível, nos dias actuais, grudar-se à tela para assistir as nossas histórias, ver as nossas pessoas – gente com quem cruzamos na rua – e reconhecer os edifícios e estradas que usamos no dia a dia, para além de nos solidarizarmos com os dramas, fantasias e utopias descritas nas séries, telenovelas, filmes e reality shows por serem a mais fiel descrição da nossa realidade.

Por exemplo, neste mês (21) de celebração da televisão em todo o mundo, o Maningue Magic – um canal recente que se esmera em trazer conteúdo local – divulgou a sua próxima produção, fruto de uma audição pública para captar conteúdos criativos e impactantes. A série seleccionada, nesta experimental abordagem de recrutamento de conteúdo, foi “Ex-Amicíssimas”, de Lorna Zita (produtora: AfroCinemakers).

Ainda no Maningue Magic temos a “Maida”, uma telenovela que já se apresenta a si própria, por romper os paradigmas de uma produção televisiva sem fragmentos, tal como nos habituaram os brasileiros desde os tempos de propostas como “Saçaricando” ou “O Bem-Amado”.
Aliás, tal como o Maningue Magic, canais novos como Mega TV, com reality shows e Tua TV, de Fred Jossias, com programas de entretenimento, são o exemplo de como o conteúdo local é a grande aposta nos dias de hoje. Mesmo os canais tradicionais, como TVM, Stv, Miramar e, agora, TV Sucesso têm preferido uma grelha transversal, apostando cada vez mais em conteúdos moçambicanos.

Esta aposta por produtos dos criativos locais tem elevado o sector da produção audiovisual no país, permitindo que criadores possam garantir sustentabilidade das suas obras, o que antes era quase que impensável.

Portanto, celebrar a televisão, nos dias de hoje é, acima de tudo, a celebração das histórias locais. Neste 21 de Novembro, não só os técnicos e os operadores de televisão merecem sorrir, mas os actores das indústrias culturais e criativas, no seu todo, já têm motivo de se juntar à festa, pois a televisão deixou de ser um espaço dos outros, mas, pouco a pouco, vai revelando e contando com o talento moçambicano.

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