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Especialistas defendem práticas agrícolas comprometidas com a conservação da biodiversidade

Fotos: O País

A sessão de debates da quarta edição da feira de agro-negócios, Mozgrow, começou, hoje, na Arena 3D, em KaTembe, Cidade de Maputo, de forma incisiva. O grande protagonista do painel que reflectiu sobre “Agricultura e sustentabilidade ambiental” foi Faruk Tavares, para quem as práticas agrícolas comprometidas com a conservação da biodiversidade são imprescindíveis.

O gestor de Recursos Naturais e Mudanças Climáticas, Faruk Tavares, foi o principal orador do primeiro painel desta quarta edição da MOZGROW. Na sua intervenção, o especialista agrícola explicou que as práticas agrícolas comprometidas com a conservação da biodiversidade dependem de um factor importante: a consciencialização dos produtores agrícolas em matérias inerentes ao tema.

“É necessário que se pense na transformação dos hábitos dos agricultores familiares. Eles têm um paradigma que é antigo, que diz que a floresta só serve para o corte de árvores e produção agrícola. Nós queremos mudar esse hábito”, e reforçou: “O sucesso de todos os projectos estão baseados na população-alvo com quem trabalhamos. Não podemos falar da biodiversidade sem incluir o produtor familiar. Para que um projecto agrícola dê certo, é necessário que se olhe, primeiro, para as características da nossa agricultura”.

Portanto, num contexto em que vários produtores agrícolas contribuem para infertilidade do solo, com queimadas descontroladas ou para a erosão, devido ao desflorestamento desmedido, transformar a agricultura familiar em eco-agricultura, integrando a produção e a conservação, é urgente pela seguinte razão: “Se continuarmos a uma velocidade de 267 mil hectares por ano, numa província como a Zambézia, por exemplo, Moçambique vai transformar-se num deserto. As províncias que se encontram na zona costeira já começaram a ressentir-se dos efeitos das mudanças climáticas. Não é castigo de Deus, somos nós que estamos a causar esses fenómenos. Por isso, precisamos de entender qual é a importância dos recursos naturais para nós”.

Ao alcançar-se uma prática agrícola pró-ambiente, segundo Faruk Tavares, a sustentabilidade financeira será uma realização certa, até porque, actualmente, aumenta o número de pessoas e instituições interessadas em adquirir produtos conforme o modelo de produção. Quem argumentou esta visão foi a auditora para a Agricultura Sustentável, Sabine Lydia Mueller. “Há muita gente que gosta de comprar produtos seguros, que são cultivados em locais que não estão a destruir a natureza e que não comprometem a saúde das pessoas. Por exemplo, existe uma empresa moçambicana que está a produzir moringa de forma orgânica, isto é, sem utilizar pesticidas, mas com manejos orgânicos”.

A partir de Niassa, via zoom, participou, neste dia inaugural da Mozgrow, o gestor de Agronomia Ivans Popinsky, para quem “um dos nossos grandes desafios é, realmente, mudar a agricultura através de introdução de novos sistemas, incluindo a agricultura sintrópica, que não é fácil, mas é um dos passos importantes. “A interacção entre culturas e este modelo de reconhecer que, em áreas pequenas, os produtores conseguem produzir mais e melhor, é importante para garantirmos a sustentabilidade”, reforçou Popinsky.

No mesmo painel subordinado ao tema “Agricultura e sustentabilidade ambiental”, interveio José Carlos Marques, engenheiro agrícola português, que, via zoom, se referiu às práticas que devem ser abandonadas, quando se fala de desenvolvimento da agricultura. “Sabe-se, hoje, que a utilização da charrua em solos tropicais ou de clima mediterrânico tem um impacto negativo nos solos e na vida dos solos.”

Em geral, portanto, Faruk Tavares, Sabine Lydia Mueller, Ivans Popinsky e José Carlos Marques estiveram de acordo no que diz respeito à necessidade de investir numa actividade agrícola comprometida com a conservação da biodiversidade, pois as vantagens são claras para o produtor e para o ambiente.

A quarta edição da Mozgrow foi aberta hoje, na Arena 3D, em Maputo, e termina amanhã.

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