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Escritores africanos libertam ‘Espíritos quânticos’ em Maputo

Livro organizado por Virgília Ferrão foi lançado esta sexta-feira, na Fundação Fernando Leite Couto, na Cidade de Maputo.

 

Virgília Ferrão percebeu que pouco se escreve sobre ficção especulativa em Moçambique e nos outros Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa. Por isso, propôs-se o desafio de organizar o livro Espíritos quânticos: uma jornada por histórias de África em ficção especulativa. A antologia reúne contos de autores de Moçambique, África do Sul, Malawi, Angola, Cabo Verde e Nigéria. Por exemplo, Mia Couto, Oghenechovwe Ekpeki, Zukiswa Wanner, José Luís Mendonça, Suleiman Cassamo, Vera Duarte, Nick Wood,  Marcelo Panguana, Bento Baloi, Jorge Ferrão e Agnaldo Bata.|

A cerimónia de lançamento, com efeito, realizou-se esta sexta-feira à noite, na Fundação Fernando Leite Couto, na Cidade de Maputo, e contou com a presença de tantos outros escritores, inclusive, a organizadora do projecto. Segundo disse Virgília Ferrão, primeiro, a experiência foi bastante interessante porque os envolvidos no processo estão a explorar um género que é ainda raro. Além disso, acrescentou: “Estamos contentes por podermos contribuir para promovermos este género literário, a ficção especulativa, e por podermos trazer mais vozes ao projecto”.

Reagindo à iniciativa de Virgília Ferrão, Daniel da Costa destacou que Espíritos quânticos é fundamental porque coloca um certo tipo de África a falar com África. “Acho muito importante que o continente tenha maior diálogo entre si. Os escritores africanos não se comunicam muito e, nesse aspecto, o livro faz uma ponte para os escritores africanos”.

No mesmo tom que Daniel da Costa, interveio Lex Mucache, para quem “Espíritos quânticos vem marcar uma nova visão sobre a literatura moçambicana, uma visão jovem e que mistura aspectos da ciência e da africanidade em si. A nossa questão sempre foi esta: como fazer uma mistura entre esses dois lados. A Virgília conseguiu nos convidar para este projecto interessante”.

Para a antologia, Sónia Jona foi buscar a casa das avós a inspiração para escrever. “Para mim, foi uma honra participar. É bom sabermos que fomos seleccionados e falarmos de um assunto que muitos nem querem ouvir falar. Temos de debater sobre estes assuntos porque tratam do nosso dia-a-dia. A história que escrevi, faz parte das minhas vivências, sobretudo quando frequentava a casa das minhas avós, em Inhambane e aqui em Maputo”.

Espíritos quânticos também conta com um texto de Álvaro Taruma, para quem o projecto é importante por ser pioneiro e inédito em Moçambique pela tipologia textual. “Reúne fantástico como o conhecemos, mas também adiciona elementos da ficção científica, completamente novos. Para mim, foi um pouco tremido porque não venho da tradição narrativa, mas acho que investi numa narrativa mais preocupada pela técnica do que pela própria história”.

Taruma acredita que Espíritos quânticos está a ser uma pedra basilar para coisas futuras da produção literária em Moçambique. Quem concorda com esta abordagem é Mélio Tinga: “Foi uma experiência interessante no sentido da experimentação do que pouco escrevemos. Foi um exercício prazeroso poder traduzir esses espíritos, já como designer, através da capa”.

A obra literária foi editada pelo blog Diário de uma qawwi.

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