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Artistas africanos almejam intensificação de intercâmbio artístico-cultural


No dia inaugural do fórum “Nosso futuro: diálogos África-Europa, no Instituto Francês de Maurícias, na Cidade de Port Louis, artistas africanos de vários países debateram questões cruciais sobre a aposta na colecção artístico-cultural da região do Ocenao Índico. Nessa e noutras sessões, os artistas defenderam que o sector das artes necessita de mais intercâmbios no continente.

 

O primeiro texto do livro “Poema fértil”, da autoria de Jason Lily, poeta e cantor das Maurícias, diz, na segunda estrofe: “Nas notícias da ilha, e uma casa muito perfeita”.

Nesse exercício literário, o sujeito de enunciação retrata uma espécie de ocorrência que se materializa num lugar ideal, ou seja, a ilha: o equilíbrio entre a terra firme e o oceano.

Como se concordassem com a abordagem de Jason Lily em relação à ilha, vários artistas africanos fizeram do Instituto Francês de Maurice a sua “casa muito perfeita”, esta sexta-feira. Pois, entre diferentes compromissos, escolheram aquele espaço com uma arquitectura original, mais ou menos na linhagem do Franco-Moçambicano, para exprimir as suas ideias e as suas emoções.

Assim, por volta das 10 horas, a organização do fórum “Nosso futuro: diálogos África-Europa” realizou a sessão inaugural, convidando todos os participantes a um dia intenso e com discussões pertinentes para os países africanos e europeus.

Uma das sessões do dia, relacionada à colecção cultural na região do Oceano Índico, contou com a participação de Jason Lily, artista com enormes projectos. Já lançou o seu primeiro livro. Em breve, um álbum discográfico também vai sair. Para o autor, o fórum em que está a participar é realmente importante. E justiça: “Eu sinto-me muito grato por estar aqui porque precisamos de definir a arte africana. Temos de reflectir sobre as nossas mentalidades, os nossos projectos, o nosso futuro e aspectos relacionados às fronteiras”.

Com efeito, conforme ficou claro, quer o debate sobre os aspectos artísticos, quer a partilha de ideias relacionadas à protecção do património oral, imaterial e material, devem ser disseminados para que os artistas e a cultura possam transformar vidas de forma positiva.

Presente no mesmo debate, Soumette Ahmed avançou que, “Para mim, é certo que com os meios de criação e distribuição que temos, ou não, é interessante dar a conhecer a cultura e a arte das nossas ilhas para além das nossas fronteiras. Seria interessante continuarmos nos encontrando e nos conhecendo melhor. Mais intercâmbios nas artes, na cultura e na literatura são necessárias”, defendeu o actor, director e responsável por um centro cultural de Comores, que, inclusive, já esteve em Moçambique.

Na Cidade de Maputo, Soumette Ahmed trabalhou com Lucrécia Paco numa peça teatral e o artista lembra-se da actriz, da encenadora Manuela Soeiro e do Mutumbela Gogo com muita saudade.

Quem também encontra no intercâmbio cultural a força motriz para aproximação das nações africans e europeias é Ndoume Nelson. Na opinião do estudante de doutaramento do Gabão, o debate sobre as vicissitudes do Índico é pertinente “No sentido de que é a nossa história que deve ser contada e perpetuada”. Logo, acrescentou, “O Ocidente deveria rever as suas relações com África”.

No mesmo contexto de interacção, Siti Amina, cantora da Tanzania que faz questão de dizer que é natural de Zanzibar, a ilha onde nasceu Freddy Mercury, avançou que a conexão com os artistas do Índico é necessária uma vez que todos têm desafios comuns. Por exemplo, “O desenvolvimento de uma mentalidade a favor da conservação e partilha do património, acompanhada de divulgação”.

Num contexto em que a mobilidade de pessoas e bens constitui um enorme desafio para os africanos, os artistas presentes e um dos membros da organização do fórum “Nosso futuro”, Zia Gopee, historiador de arte, enalteceram que o objectivo dos encontros é encontrar soluções para à conectividade artistico-cultural permanentes. “A arte faz-se com estes encontros no reforço das nossas relações e das nossas identidades”.

Ainda assim, todos acreditam que há muito trabalho árduo a fazer, para que os artistas se mantenham num caminho comum. “Começamos pequenos, mas vale a pena parceiros de diferentes países trabalharem juntos em debates como estes que encurtam distâncias”, frisou o comediante das Comores, Soumette Ahmed.

No dia inaugural, do Quénia também houve uma contribuição. “Nós, os artistas africanos, precisamos de cada vez mais espaços para interagir. Isso é realmente fundamental para que possamos nos compreender melhor e aceitar o outro”, defendeu o poeta, cantor e guitarrista Teardrops, que vai lançar o seu livro em Dezembro.

Com o fórum “Nosso futuro”, portanto, a organização espera estimular um diálogo sobre a criação de uma colecção Índico-oceânica com artistas que trabalham em diversas disciplinas, visando apoiar a implantação de museus digitais, como o que existe no Instituto Francês das Maurícias. A ideia é explorar as riquezas artísticas da região e, posteriormente, integrá-las numa colecção. Tal evento, espera impulsionar a circulação do conhecimento artístico-cultural.

 

 

 

 

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