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“Escrever significa construir uma máquina de linguagem”

“Escrever e publicar: o que faz um escritor?” foi o tema da última mesa redonda que decorreu, esta quarta-feira, no Centro Cultural Brasil-Moçambique, em Maputo. Lucílio Manjate é autor e docente que, como orador, procurou desmistificar alguns mitos sobre a escrita, a publicação e a formação do escritor, que têm sido veiculados ao longo dos anos no contexto da literatura moçambicana.

Lucílio Manjate acredita que escrever significa construir uma máquina de linguagem. “O poeta é um objecto construído que não nasce da inspiração, mas que resulta do labor, da linguagem que o autor utiliza. Esta ideia de trabalho contrapõe-se à ideia de inspiração”, afirmou, subsidiando: “olhamos a literatura do mundo e vemos autores jovens a ganhar prémios e vemos escritores que não esperam por um momento para ter o devido reconhecimento. A idade e a experiência contam, mas o conhecimento e o domínio de técnicas mais ainda”.

Por outro lado, Manjate explicou que a literatura enquanto construção exige regularidade, constância, que o escritor aprende em cada livro que escreve, daí que não pode publicar quando achar conveniente, deve publicar com regularidade de modo a avaliar quem são seus leitores. “Há autores que depois de algum tempo não reconhecem suas obras, e, para não esquecerem, os mesmos deve escrever e publicar”.

Como forma de encerar o primeiro momento, que foi referente aos tabus, Lucílio acrescentou dizendo que a literatura não é uma pista de atletismo, os escritores não estão a competir, simplesmente o autor deve superar o seu próprio trabalho.

Ora, Manjate deixou algumas dicas do que um escritor deve fazer: ler obras clássicas, ficção, medicina ou física, de modo a aprender técnicas mesmo que de forma inconsciente. O escritor realça, igualmente, a importância dos jornais, da rádio e da televisão. “Tem de estar cercado de informação para adquirir consciência do tempo em que vive. O escritor tem que saber em que género escreve, deve ler mais para saber como este se manifesta. O escritor deve ler de forma crítica as suas próprias obras. Deve também escrever muito para adquirir experiência e aprimorar seus conhecimentos, aliás, a arte faz-se na prática”.

No momento, o escritor realçou a importância da recepção crítica e da crítica literária pois estes ensinam o autor a escrever. “O escritor olha com aversão ao crítico, mas o autor deve ler o que a crítica diz, quando o crítico escreve para o jornal é para introduzir o leitor à obra. Não tenham medo de inovar, recriar, combinar o improvável, a rebeldia torna-se a marca do escritor” apelou.

 

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