Nem o Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano, dono do livro de Ciências Sociais, consegue explicar como erros tão graves passaram da avaliação até à fase da impressão. O manual não vai sair de circulação, o sector vai produzir erratas e pede desculpas aos pais e alunos.
Afinal, além de ter chegado atrasado aos alunos, o novo livro da disciplina de Ciências Sociais da 6ª Classe está cheio de erros. Quem “viaja” pelo conteúdo do manual de ensino que já está nas mãos dos alunos se depara com falhas inconcebíveis. Intitulado “O Nosso Continente”, o livro diz, por exemplo, na página 78, que a África Austral é composta apenas por cinco países, nomeadamente África do Sul, Botswana, eSwatini, Lesotho e Mamília, e exclui Moçambique dessa lista. O nosso país é colocado pelo livro na África Oriental, na mesma região que nações como Somália, Etiópia e Uganda.
E mais, na página 120, a imagem da Assembleia Nacional de Angola é usada para ilustrar a Assembleia da República de Moçambique; na página 86, os elaboradores afirmam que o Rio dos Bons Sinais é o mesmo que o Rio Inharrime, quando, na verdade, o Rio Inharrime está na província de Inhambane e o Rio dos Bons Sinais na província da Zambézia. Já na página 48, é ensinado aos alunos que o antigo Estado do Grande Zimbabwe tem o Mar Vermelho como um dos limites, quando o Mar Vermelho está no Norte de África.
As gralhas começaram a circular nas redes sociais e forçaram, este domingo, quadros do Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano a reunir-se de emergência, com a presença da ministra Carmelita Namashulua e o dirigente do Instituto Nacional de Desenvolvimento da Educação.
O MINEDH não sabe como erros tão graves terão passado até à fase da impressão do livro e anunciou, ontem, a criação de uma comissão de inquérito, até agora sem prazos, para apontar em que fase da cadeia as falhas foram deixadas passar. “Esta comissão de inquérito é que nos vai ajudar, como Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano, a perceber onde é que terá havido esta falha. Neste momento, não é possível dizer se a falha foi dos autores, comissão ou dos avaliadores.”
O que se sabe é que várias fases compõem a elaboração de um manual de ensino, etapas nas quais estão criadas condições para que erros como aqueles não sejam deixados passar. Segundo explicou a porta-voz do sector, Gina Guibunda, o processo começa com o lançamento de um “concurso de contratação de consultoria editorial. A editora apurada é que contrata os autores, revisores de conteúdos, ilustradores e maquetizadores. O draft do livro é submetido à avaliação por uma comissão de avaliação que, depois, elabora um relatório com recomendações específicas para cada livro. Este relatório e orientações são enviados à editora que as insere e manda o livro para o Instituto Nacional de Desenvolvimento da Educação que faz a avaliação final”.
Os erros não foram detectados nem corrigidos em todas essas fases, incluindo pela comissão de avaliação que é composta por técnicos do MINEDH, do Ministério da Cultura e Turismo e professores universitários.
SERÃO PRODUZIDAS ERRATAS PARA OS ALUNOS
Sobre a solução do problema, Gina Guibunda começou por falar da produção de uma errata com as indicações da interpretação correcta da informação constante da página 48. “A errata vai incluir a questão da página 48 do livro da 6ª classe de Ciências Sociais, mas também o MINEDH está, em simultâneo, a fazer um trabalho em todos os livros que possui.”
Só depois de uma questão colocada pelo jornal O País é que a porta-voz afirmou que a errata será para todos os erros que estão no livro. “Este é um trabalho que é feito em relação a todo o livro, mas nós dissemos e reafirmamos que, em relação a todos os outros livros, há um trabalho que está a ser feito e também vai produzir uma outra errata.”
Segundo o MINEDH, as erratas que serão produzidas não vão implicar custos significativos. Gina Guibunda terminou por apresentar um pedido de desculpas do sector. “O Ministério pede desculpas aos pais e/ou encarregados de educação e, principalmente, aos alunos por este embaraço que foi causado neste livro.”
Salientar que são 941 700 livros que já foram distribuídos, para os quais será necessária a entrega das erratas, e o MINED afirma que este processo não terá custos adicionais.
ANTIGA MINISTRA DEFENDE INVESTIGAÇÃO AO INDE
Em reacção, a antiga ministra da Educação e Desenvolvimento Humano, Conceita Sortane, começou por dizer que “esta é uma situação um pouco delicada”.
A antiga governante foi mais longe e falou da necessidade de uma investigação junto do Instituto Nacional de Desenvolvimento (INDE), para compreender o que se passou durante a elaboração dos manuais, uma vez que esta instituição é responsável pela verificação dos conteúdos.
“Temos o INDE que é a instituição apropriada, que faz todo um trabalho de produção, um trabalho de contacto com os investigadores que fazem a investigação da matéria, e esse é o papel do INDE. Então, eu penso que deve ser feito um trabalho de investigação junto do INDE”, sublinhou Sortane.
Esta é a primeira vez em que o país se depara com situação igual: primeiro o atraso de quase cinco meses para entrega de livros aos alunos e, agora, erros em cadeia sobre a matéria leccionada.