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Entre bajuladores e trabalhadores — a moral de Mussampili

Na gíria popular moçambicana, há uma expressão amplamente utilizada para afirmar que, sem esforço, não há sustento: “Quem não trabalha, não manduca”. Trata-se de uma frase carregada de um significado profundo, que exclui os preguiçosos do direito à alimentação. Esta máxima remete-nos a discursos dos antepassados do território de Mussampili, onde se proclamava com firmeza: “Não há lugar para os preguiçosos”. 

Naquele tempo, o trabalho era visto como o alicerce da evolução. Vale lembrar trechos emblemáticos desses discursos: “Vamos ser implacáveis com os indisciplinados, os incompetentes, os preguiçosos, os negligentes, os corruptos, os que praticam o burocratismo, os que cultivam a inércia, os que se acomodam à rotina, os que desprezam o povo, os que esbanjam os bens do povo”. 

Com o passar do tempo, no entanto, surgiu uma sociedade sustentada pelo bajulismo e pela adulação. Uma sociedade em que vicejam a fofoca, a intriga e, por vezes, a incompetência de certos indivíduos que, ao que se dizia, se apoderaram de tudo quanto era necessário para o progresso comum. 

Desde o início, percebeu-se tratar-se de um verdadeiro espectáculo de sombras, dançando ao som de uma ilusão colectiva. Vestindo a máscara da sabedoria, encenavam erudição, simulavam grandeza. Mas, nos bastidores, reinava um imenso vazio. Fingiam ser uma sociedade instruída, repleta de mentes brilhantes, quando, na verdade, apenas representavam o conhecimento. E o mais grave: fingiam não perceber que estavam à deriva.

Infelizmente, viviam como abelhas — apenas sobrevivia quem fosse o primeiro a poisar na colmeia. Um mel, por vezes doce, por vezes amargamente indigesto. E a colmeia? Ninguém antes se preocupara em protegê-la ou em garantir a partilha justa do seu néctar. 

Será mesmo que vamos continuar a viver assim? Nkani mim…

Neste chamado ao trabalho, não há lugar nem canto para bajulação ou adulação. Preocupa-nos, sim, o facto de que muitos, durante anos, se fizeram passar por estafetas da bajulação, lambendo até as marraspas…

 

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