A enfermaria de trânsito de doentes testados positivos para COVID-19 no Hospital Central de Maputo (HCM) foi transformada em centro de internamento e tratamento. Tem capacidade para 100 camas, mas 65 já estão ocupadas e as outras 35 podem esgotar a qualquer momento, devido à pressão. Aliás, no HCM há 375 profissionais infectados pelo Coronavírus, dos quais 110 são médicos.
A enfermeira de trânsito do maior hospital do país tinha sido preparada para receber doentes que testaram positivo à COVID-19 e dali transferidos para o Hospital Geral da Polana Caniço, arredores da cidade de Maputo, onde foi instalado um centro de “excelência” para o acompanhamento e tratamento de doentes.
Entretanto, o Hospital Geral da Polana Caniço já está no limite, por isso os enfermos passam a receber cuidados em internamento no HCM, onde para entrar é preciso observar medidas com vista a evitar contaminação.
Esta quinta-feira, “O País” visitou a enfermaria de trânsito do HCM. Madalena Manjate, médica internista, explicou que o centro funciona vinte quatro horas ao dia e tem pessoal especializado.
“Temos toda a equipa do pessoal que trata os doentes [com COVID-19] em prontidão 24 horas. A enfermaria dispõe de enfermeiros e médicos”, disse a médica.
No início da pandemia no país, a enfermaria de trânsito contava com 40 camas. Os casos subiram e, volvidos 10 meses, desde que se anunciou o primeiro paciente infectado, mais de 30 mil indivíduos foram vítimas do vírus. O HCM passou de 60 para 100 camas e a demanda aumenta a cada dia.
Mouzinho Saíde, director-geral da maior unidade sanitária do país, disse que por mais que a unidade sanitária tenha capacidade de internamento de 100, “com a avalanche” que existe por dia “não sabemos se vai ser suficiente para manter o nível de atendimento que estamos a ter ”.
Ainda segundo Mouzinho Saíde, as tendas montadas para servirem de salas de atendimento de pacientes “não são suficientes e adequadas para todos, daí o nosso grande apelo para que toda a população continue a observar medidas de protecção individual e colectiva, para não expandirmos esta doença”.
Desde 22 Março do ano passado, altura em que a doença foi detectada no país, pelo menos 375 profissionais de saúde afectos ao HCM testaram positivos para a COVID-19, entre eles 110 médicos, 92 enfermeiros e os restantes são distribuídos pelo pessoal técnico e administrativo.
“Até ao dia 20 de Janeiro, tínhamos 100 profissionais com casos activos. São profissionais que não estão a trabalhar porque estão infectados. Temos mais de 250 profissionais recuperados. Isto faz-nos reflectir porque se nós continuarmos a registar este nível de infecções com certeza teremos dificuldades em atender adequadamente os nossos doentes”, alertou o dirigente hospitalar.
De acordo com Mouzinho Saíde, há muitas pessoas que se fazem ao HCM, estima que sejam 6.000 por dia, incluindo as que pretendem fazer visitas, mas podiam evitar.
No interior da enfermaria instalada no HCM para doentes com Coronavírus há homens e mulheres que cruzam o estreito corredor daquele edifício, onde dia e noite lutam para salvar vidas.
Jorge Mambo, médico recém-formado, está na linha da frente no combate à COVID-19. Lançou apelos à sociedade no sentido de tomar a doença com seriedade.
“Queria apelar a todos a optarem pelas recomendações de prevenção emanadas pelo Ministério da Saúde porque COVID-19 é uma doença que mata. É uma doença que preocupa as autoridades e os médicos. Vamos todos colaborar na luta contra esta pandemia”, exortou Jorge Mambo.
Helena Chissaque, enfermeira chefe de internamento, também está engajada nesta luta para travar a COVID-19. Ela contou os desafios do dia-a-dia.
“Neste momento, os casos estão a aumentar bastante e a direcção não mede esforços em providenciar equipamentos para a protecção do pessoal e lutarmos contra esta pandemia. O dia-a-dia tem sido um desafio, podia dizer que não tem sido fácil. Mas também não tem sido difícil, estamos aqui para trabalhar”, considerou Helena.
A doença caracterizada pela insuficiência respiratória aguda aumentou a necessidade de oxigénio. As 29 botijas que eram necessárias por dia, anteriormente, aumentaram para 110 em função da demanda em cada turno.
Pelo menos 20 doentes morreram de COVID-19 no centro instalado no HCM. No início e fim de cada turno de trabalho há orações no recinto da enfermaria. Durante o momento são invocadas as divindades para que derramem o espírito santo sobre os profissionais da saúde na linha da frente de combate do vírus, assim como sobre os doentes ali internados.