O sector privado quer ser envolvido no Plano Nacional de Vacinação, através de importação de vacinas e distribuição não gratuita pelas clínicas privadas. Já a Associação de Comércio, Indústria e Serviços diz que as novas medidas anunciadas pelo Presidente da República são nocivas à actividade económica.
Na última quinta-feira, o Presidente da República, Filipe Nyusi, falou à Nação e anunciou uma série de medidas, que, em geral, trazem mais aperto para o funcionamento de estabelecimentos comerciais – encerrou escolas em alguns pontos e limita um pouco mais a circulação das pessoas nas cidades e vilas do país inteiro.
O Director-executivo da Associação de Comércio, Indústria e Serviços, Edson Chichongue, mostrou-se insatisfeito com estas medidas, explicando que, na verdade, se trata de mais sufoco para o empresariado moçambicano.
Chichongue começa por falar mesmo da redução dos horários de funcionamento dos estabelecimentos comercias, defendendo que, primeiro, isso fará com que as pessoas visitem os locais ao mesmo tempo e, por isso, criar-se-ão aglomerados nesses locais, daí que são medidas que “só concorrem para que tenhamos mais casos da COVID-19” no país. Isto é por um lado.
Mas, por outro lado, a redução dos horários de funcionamento dos estabelecimentos comerciais “significa reduzir a capacidade de produção das próprias empresas” e, havendo essa diminuição, reduzem, também, os rendimentos, o que não facilita a manutenção dos postos de trabalho, daí que a ACIS questiona: “como é que vamos assegurar o pagamento de salários desses trabalhadores?”
Enquanto isso, a Confederação das Associações Económicas de Moçambique entende que as novas medidas estão à altura de conter a propagação do vírus e que, por isso, se justifica, até porque “antes das medidas de prevenção, as empresas estão a ser afectadas pelo próprio vírus”, tal como explicou Evaristo Madime, vice-presidente da Comissão do Sector Privado para Resposta à COVID-19.
Todavia, Madime defende que, mais do que se apertarem as medidas de prevenção, no sentido tradicional, é preciso que se acelere o processo de vacinação dos moçambicanos para que, mais rapidamente, o país possa voltar à normalidade.
Para isso, o sector está disponível para participar de forma activa no processo. E essa participação seria feita através de venda de vacinas por via das clínicas privadas. Sendo privado, a distribuição destas vacinas não teria como ser de forma gratuita.
Porém, Madime diz que os preços praticados não teriam em conta a necessidade de se obterem lucros. O facto é que “as empresas adquiriram as vacinas e tiveram custos” e a perspectiva seria justamente de “suportar o custo da aquisição da vacina e nunca seria numa perspectiva de negócio”.
Aliás, o sector privado já começou a interagir com o Governo para que o projecto de vacinação, com participação do sector privado, seja aprovado e sejam importadas mais doses, de modo a completar-se a meta de 17 milhões de moçambicanos.