O País – A verdade como notícia

Há empresários que não conseguem importar a matéria-prima devido à escassez de moeda estrangeira no mercado financeiro nacional. Caso o problema perdure, o sector privado prevê o encerramento de algumas indústrias. 

Começa a soar o alarme vindo do sector privado, dando conta dos possíveis impactos causados pela falta da moeda estrangeira no mercado financeiro nacional, sobretudo o dólar.

O País ouviu o Presidente da Associação Moçambicana dos Panificadores, AMOPAO, que revelou ter recebido notificação de moagens que se queixam de dificuldades em importar matéria-prima.

Vitor Miguel explicou que, de acordo com o ofício recebido, a moageira, que pode ser uma das tantas em crise, defende que a situação “pode implicar na falta de matéria-prima deles, que é o grão, e levá-los a encerramento. Se de facto as moegeras encerraram, obviamente que isso vai ter uma implicação muito grande para nós que somos o consumidor final, portanto nós vamos ter, naturalmente, dificuldades em termos de produzir se efectivamente não recebermos farinha de trigo”.

A nossa reportagem sabe que o ofício em causa foi também encaminhado ao ministério da Economia. Vítor Miguel teme por momentos conturbados no futuro. 

“É difícil porque nós não temos recurso interno, portanto não há uma produção  interna do trigo, o trigo vem sempre de fora e naturalmente se não entrar o grão aqui em Moçambique, vamos ter uma crise enorme naquilo que é a nossa produção e pode haver de facto a escassez de pão”, disse.

A escassez de divisas não afecta apenas o sector de panificação, conforme explicou o Director executivo da CTA.

“Os sectores maioritariamente afectados, particularmente a indústria alimentar, com respeito à importação de matérias-primas diversas, tivemos a área de viagens, turismo, obviamente o próprio comércio em si, porque muitos produtos são importados, por exemplo a importação de produtos como arroz tem sido muito afectada. E também ultimamente já nos sectores de combustíveis, que já vinha sendo alertado que isso poderia afectar o sector de combustível também, disse Eduardo Sengo.

Sengo diz que o problema é bem mais antigo, de total conhecimento do Banco Central e que, inclusive, já houve propostas para melhorias.

“Um dos aspectos que em primeiro lugar é preciso ser feito é que a curto prazo tem que iniciar medidas de controle das exportações, no sentido de que a receita das exportações  possa ser de facto repatriada para o país e daí se disponibilize para que o mercado tenha liquidez de modo estrangeiro. Há uma tendência de os exportadores reterem a receita quando chegam aqui em Moçambique,  quando chegam no país, no lugar de vender os dólares, vender os euros para o mercado, alimentar o mercado, preferem reter até haver uma situação muito específica que eles obrigam a vender”. 

Mas o Governador do Banco de Moçambique nega haver falta de liquidez, numa conferência de imprensa concedida na semana passada.

“Avaliamos, como sempre avaliamos, não só para o CPO, nós avaliamos a liquidez diariamente. E posso, com a certeza absoluta dizer que neste momento nós estamos tranquilos com o nível de liquidez que existe no sistema Não há necessidade de tocar na liquidez existente, mexendo com as reservas obrigatórias, por isso vamos manter”, defendeu Rogério Zandamela.

Eduardo Sengo ouviu a declarações e disparou:

“Se o Banco Central vê que existem divisas no mercado, existe liquidez suficiente para lidar com a situação, com a demanda que está a emergir por parte das empresas, então tem  que perceber os bancos comerciais, o que está a acontecer para essa liquidez não fluir.  Será devido ao comportamento dos determinantes das divisas, particularmente dos exportadores? Se for por isso, então, que medidas devemos verificar? Nós sabemos que, em parte, também pode ser isso. Será porque nós temos números na economia, mas o que se reflete no setor real não são aqueles números? Qual é o problema?”, questiona e desafia a procurar soluções. 

Durante uma visita à província de Nampula, na semana finda, os empresários disseram ao Presidente da  República que enfrentavam falta de divisas. Daniel Chapo prometeu buscar soluções junto ao Banco de Moçambique e aos bancos comerciais.

A CTA avançou ainda que caso a situação se mantenha, muitas indústrias poderão fechar as portas.

O Ministério dos Recursos Minerais e Energia deu início, esta segunda-feira, à revisão e modernização do quadro legal das áreas de mineração, petróleo e gás e energia como parte de reformas estruturantes para garantir  o incremento da participação do sector na economia nacional, de forma sustentável. 

De acordo com o comunicado de imprensa da instituição, Estevão Pale, Ministro de Recursos Minerais e Energia, disse, no seu discurso de abertura de lançamento das reformas legislativas, que o Governo de Moçambique pretende aumentar a transparência e combate firme às práticas que prejudicam o Estado, garantindo que os recursos naturais do País sejam geridos de forma eficiente e que beneficiem objectivamente a todos os moçambicanos.

“Nosso compromisso é ter um sector que gere benefícios tangíveis para todos, que seja transparente e que, por meio de um quadro legal actualizado, posicione Moçambique como líder energético na região e no mundo”, afirmou o Ministro Estevão Pale. 

Pale acrescentou que “a modernização da legislação vai garantir a atracção de investimentos que agreguem mais valor ao país através do processamento de parte dos recursos em Moçambique, um elemento chave para ampliar a cadeia de valor, criar oportunidades de autoemprego e emprego, gerar renda e desenvolver novas indústrias que contribuam para as receitas do Estado”, disse. 

Ao longo desta semana, quadros no activo, reformados e ex dirigentes e especialistas do sector, trabalharão na: Revisão da Lei dos Petróleos e seu Regulamento; Revisão da Lei de Minas e seu Regulamento; Criação do Braço Comercial do Estado no Sector Mineiro; Desenvolvimento de um regulamento para a Concessão de Produção, Transporte, Distribuição, Comercialização, Armazenamento, Importação e Exportação de Energia Elétrica; Estabelecimento de um Regulamento da Taxa de Acesso Universal; Elaboração da Lei de Conteúdo Local.

As reformas propostas também incluem fortalecimento das salvaguardas ambientais e a criação de incentivos para capacitação e transferência de tecnologia para empresas moçambicanas.

Ao fim da presente semana, o MIREME pretende ter documentos de base para posterior harmonização com outras legislações relevantes para evitar ambiguidades que possam levar a interpretações divergentes, além da socialização com diversos intervenientes, tanto do sector público assim como o privado.

Pretende-se que, ainda este ano, esses instrumentos estejam prontos para aprovação pelo Governo.

Além dos quadros do sector, participam no seminário representantes de Ministérios e instituições afins.

 

A crise económica agravada pela tensão pós-eleitoral colocou muitas pequenas e médias empresas moçambicanas à beira do colapso. A incerteza, a queda no consumo e as dificuldades de acesso a crédito tornaram o ambiente de negócios ainda mais desafiador. No entanto, há uma esperança para os jovens empreendedores: os diversos fundos disponíveis para apoiar a recuperação das empresas. Mas a grande questão é – estarão todos preparados para aceder a esse financiamento?

Foi essa a reflexão que dominou a cerimónia de implantação da Associação Nacional dos Jovens Empresários (ANJE) em Inhambane, um momento que reuniu empresários locais para discutir os desafios e oportunidades do sector. Lineu Candieiro, presidente da associação, foi categórico ao afirmar que, sem conformidade legal, muitas empresas continuarão de fora das oportunidades de financiamento.

“O acesso aos fundos não é automático. Os empresários precisam de estar regularizados, ter uma estrutura organizada, cumprir as normas fiscais e apresentar um plano de negócios sustentável. O Estado e as instituições financeiras querem garantir que o dinheiro investido realmente terá um impacto e não será apenas um alívio momentâneo”, frisou Candieiro, destacando a importância da formalização.

Para muitos empresários, a burocracia é um obstáculo. A falta de documentação, o desconhecimento sobre as exigências legais e as dificuldades para cumprir com as obrigações fiscais afastam muitos jovens da possibilidade de aceder a fundos de apoio. Candieiro defende que a formalização deve ser vista como um investimento e não como um fardo, pois além do financiamento, abre portas para novas oportunidades de crescimento, parcerias e participação em concursos públicos.

Por sua vez, a delegada da ANJE em Inhambane, Fatália Gulele, destacou que o apoio financeiro, por si só, não é suficiente. Segundo ela, muitos empreendedores conseguem captar fundos, mas acabam por fracassar por não saberem gerir o dinheiro. “O que temos visto são casos de empresários que recebem financiamento, mas que, por falta de conhecimento em gestão financeira, rapidamente entram em dificuldades e não conseguem honrar os compromissos”, explicou.

Com esse cenário em mente, Fatália anunciou que a ANJE vai promover iniciativas de treinamento e suporte técnico para capacitar os jovens empreendedores, garantindo que eles saibam gerir os recursos de forma eficiente e sustentável. “Queremos que os jovens empresários de Inhambane tenham conhecimento das ferramentas necessárias para gerir os seus negócios com responsabilidade, garantindo que o financiamento recebido gere crescimento real e duradouro”, destacou.

A delegada enfatizou ainda que a associação trabalhará para criar um ecossistema de negócios mais sólido, onde os empresários possam trocar experiências, criar redes de apoio e fortalecer o ambiente empreendedor da região. “A formalização e a capacitação são dois pilares fundamentais. Não basta apenas ter acesso ao dinheiro, é preciso saber usá-lo de forma estratégica para garantir que o negócio prospere”, afirmou.

A chegada da ANJE a Inhambane representa uma esperança para muitos jovens que tentam consolidar os seus negócios. A expectativa é que, com o apoio da associação, mais empresários consigam superar os desafios e aproveitar as oportunidades disponíveis, tornando-se parte ativa na recuperação económica da província. Com um mercado cada vez mais exigente e competitivo, a aposta na qualificação e na conformidade legal pode ser o diferencial entre o sucesso e o fracasso dos pequenos negócios.

A cerimónia de implantação da associação foi marcada por um clima de otimismo, mas também de realismo. O caminho para a estabilidade financeira das pequenas empresas ainda é longo, mas com as ferramentas certas, muitos empreendedores poderão transformar os seus desafios em oportunidades.

 

 

 

A ONU estima que o rácio da dívida pública sobre o PIB na média dos países africanos caia ligeiramente, este ano, para 62,1%, um valor, ainda assim, insuficiente para garantir o necessário investimento público.

A região do norte de África lidera o índice dos maiores rácios de dívida face ao PIB, com 76%, seguida da África Austral, onde está Angola e Moçambique, com 70,7%, sendo a África Oriental a região menos endividada, com uma dívida pública que está nos 39,2% do PIB, de acordo com a Comissão Económica das Nações Unidas para África (UNECA) .

Segundo a  UNECA, citada por Lusa,  a dívida pública em África deverá descer de 62,5%, no ano passado, para 62,1%, este ano, depois de, em 2023, ter chegado aos 67,3%, mas esta queda não chega para eliminar a crise da dívida que muitos países da região enfrentam.

“Apesar da ligeira queda, os níveis de dívida ainda estão elevados e são comparáveis aos valores registados antes das iniciativas de alívio da dívida, em meados dos anos 2000”, lê-se no Relatório Económico sobre África (REA), divulgado na sequência da conferência dos ministros das Finanças africanos, que decorreu este mês na capital da Etiópia, Adis Abeba.

No documento, os peritos da ONU escrevem que a política orçamental está a voltar ao normal, mas alertam para “significativos pagamentos de dívida este ano, com os desafios financeiros actuais a obrigarem os países a reduzirem despesas públicas essenciais e a direcionarem recursos para o serviço da dívida”, o que perpetua o ciclo de endividamento.

Os custos de servir a dívida deverão ter chegado a 163 mil milhões de dólares, mais 12% do que no ano anterior, diz a UNECA, salientando que apesar de 2024 dever ter marcado o ano de pagamentos mais altos, “os valores vão continuar bem acima dos níveis anteriores à pandemia da Covid-19, a curto e médio prazo”.

A instituição refere ainda “as vulnerabilidades a permanecerem elevadas, demonstradas pelas elevadas taxas de juro, volatilidade das finanças públicas, acumulação de atrasos nos pagamentos e um prolongado impacto dos choques externos”.

O governo alemão vai desembolsar 500 mil euros, o correspondente a mais de 34 milhões de meticais, para o desenvolvimento de um estudo de mercado de hidrogénio verde, para a produção de energia eléctrica, no âmbito das energias limpas. O compromisso foi assumido hoje, durante a assinatura de um memorando de entendimento com a EDM.

A empresa Electricidade de Moçambique e o Banco de desenvolvimento alemão, KFW, assinaram, nesta sexta-feira, um memorando de entendimento, para a elaboração de um estudo de mercado de hidrogénio verde no país, com vista à produção de energia limpa.

O estudo terá duração de três meses e está orçado em mais de 34 milhões de meticais

“A criação de mercados de hidrogénio verde traz oportunidades para o desenvolvimento de cadeias de criação de valor local e de postos de trabalho qualificados e vai fortalecer o desenvolvimento tecnológico e a inovação. Por isso, muitas empresas em todo o mundo precisam de hidrogénio verde. É uma grande honra presenciar a assinatura do Acordo de Financiamento para apoiar a EDM no estudo de mercado para a produção de hidrogênio verde em Moçambique. Este estudo vai ajudar  Moçambique a identificar o seu potencial em hidrogênio verde”,  explicou Ronald Munch, embaixador da Alemanha em Moçambique.

O governo de Moçambique, representado pela directora nacional de energia, explicou que o fundo será direcionado à contratação de especialistas, e o projecto está ligado ao projecto de transição energética.

“Este projeto está alinhado com a estratégia de transição energética em Moçambique. A estratégia da EDM 2018-2028 prioriza o uso de fontes limpas e sustentáveis no processo de eletrificação nacional, cuja meta é garantir o acesso universal à energia a todos os moçambicanos até 2030. Na prática, este importantíssimo financiamento é destinado à contratação de consultores especializados e conduzirão estudos de mercado para iniciativas de hidrogénio verde, um elemento fundamental no processo de diversificação da matriz energética moçambicana”, explicou Marcelina Mataveia, Directora Naconal de ernergias.

Na ocasião, o Presidente do Conselho de Administração da EDM disse que o país está a caminhar, a passos largos, para a materialização do projecto energia para todos até 2030, e só no ano passado foram feitas 500 mil novas ligações.

Joaquim ou-chim disse que, “Quando nós começamos o programa, ligávamos cerca de 100 mil a 150 mil novas ligações. Hoje em dia podemos ligar um pouco mais de 500 mil novas famílias beneficiárias. Crescemos (desde o início numa ligação de cerca de 5% ao ano e no ano passado tivemos 7%. Continuamos a pensar e a acreditar que vamos ter esta taxa crescente e vamos ter o acesso universal em 2030 conforme previsto.”

O estudo do mercado de hidrogênio verde é um passo importante no projecto de transição energética no país, num momento em que o Governo definiu que 40 por cento da iniciativa energia para todos, em 2030, será assegurado pelas energias renováveis.

O Presidente da República, Daniel Chapo, dirigiu, esta sexta-feira, a cerimónia de lançamento do Fundo de Recuperação Empresarial e de entrega de cheques gigantes da terceira edição do Fundo Catalítico. 

O fundo conta de recuperação conta, actualmente, com um montante de cerca de 320 milhões de meticais e visa, segundo avançou o Presidente, o apoio à tesouraria e ao investimento de micro, pequenas e médias empresas do sector privado em Moçambique, depois de eventos climáticos que reduziram a sua capacidade  operacional e de empregabilidade e, em alguns casos, colocaram  em  causa a continuidade do funcionamento de empresas. 

Durante o seu discurso, o Presidente da República explicou que com o Fundo de Recuperação Empresarial, o Governo espera resultados que incluem “a resiliência das  nossas empresas a choques (…), bem como  à manutenção dos postos de trabalho e criação de  mais e melhores empregos, sobretudo, para  mulheres e jovens”. 

Daniel Chapo explicou ainda que, devido aos choques climáticos recorrentes, há cada vez mais exigência da inclusão da componente de  salvaguardas ambientais e sociais nos projectos  financiados com recursos públicos, o que, segundo Chapo, não deve ser entendido  como um obstáculo ao acesso ao financiamento, mas como um esforço para que os investimentos  sejam mais resilientes.  

“Gostaríamos, por isso, de apelar aos nossos empresários para priorizarem os aspectos de salvaguardas ambientais e sociais nos projectos submetidos para financiamento”, vincou. 

Com a terceira edição do Fundo Catalítico, o Governo coloca à disposição do sector privado 945 milhões de  meticais, prevendo, desta forma,  financiar cerca de 100 Pequenas e Médias  Empresas, em diversos sectores. Chapo adiantou ainda que estão a ser envidados esforços para a retoma de alguns projectos. 

“Nós,  como Governo, a nível central, estamos a fazer tudo o  que está ao nosso alcance, para que os projectos do gás  do Rovuma sejam retomados. Por isso, é do  conhecimento público e de todos que o Banco de  Exportação Norte-Americano aprovou, recentemente,  cerca de 4,7 biliões de dólares, do projecto da  Total para o financiamento deste projecto, e é o valor  maior que a Total esperava para que o projecto seja  retomado”, avançou.

O Chefe do Estado apelou para que os empresários que receberem o fundo de recuperação sejam exemplares na utilização do  financiamento, para que sirvam de exemplo para juventude moçambicana e  outras mulheres moçambicanas, e “para que sirva de  encorajamento ao nosso Governo, também, para  continuarmos a apostar no Fundo Catalítico, para  Inovação e demonstração como modelo de  financiamento ao sector privado”.

O Governo diz que está a rever a estratégia de gestão da dívida pública 2022-2025, por forma a desenhar um novo plano para tornar a actual dívida sustentável. A ministra das Finanças, Carla Louveira, diz que está em curso a reestruturação da dívida  através de uma nova emissão de títulos. 

Em 2022, o Governo aprovou uma estratégia de gestão da dívida pública, com o objectivo de tirar a dívida dos anteriores 113% do Produto Interno Bruto para 60%, até 2025, conforme garantiu o então ministro da Economia e Finanças, Max Tonela.

Findo o período, a dívida pública continua acima dos 60% e o Governo diz estar ciente, estando em curso, por isso, o processo de revisão da estratégia 2022-2025, com o objectivo de tornar a dívida sustentável.

Na quarta-feira, a ministra das Finanças falou sobre as actividades em curso.

“Estamos a reflectir sobre que acções adicionais o Governo pode tomar, para assegurar a sustentabilidade  da nossa dívida.  Conforme nós sabemos, estamos numa trajectória de crescimento da dívida, que poderá colocar em questão aquilo que é o Orçamento do Estado, pelo que carece de fazermos uma revisão dessa estratégia, que está plasmada inclusivamente na nossa Lei do E-SISTAFE, a revisão de tempos em tempos da nossa estratégia da dívida.O que nós estamos a fazer no período corrente é, essencialmente, o que já está plasmado na estratégia vigente, que é esta estratégia de 2022-2025, que já prevê alguns instrumentos que o Governo tem, para se refinanciar”, explicou Carla Loureiro. 

A governante disse ainda que Há alguns Bilhetes do Tesouro, BTs, que foram emitidos no passado, e o prazo expira este ano. Daí caberia ao Governo decidir pelo simples encerramento, pagamento ou renovação, mas “a estratégia que está vigente neste momento até 2025 prevê aquilo que nós chamamos de leilões de troca. Neste momento, o que está a acontecer é um leilão de troca dos BTs que foram emitidos  no passado, para um período subsequente.  Todas as novas acções, com vista o repensar da sustentabilidade da dívida, vão constar dessa estratégia que vai vigorar nos próximos quatro anos”.

Louveira garantiu também que a revisão da estratégia 2026-2029 será pública.

“Isso será um processo inclusivo em termos de socialização, sobretudo com o sistema  financeiro, o Banco Central, portanto, as partes afins em matéria de dívida pública. Também estamos a trabalhar com os nossos consultores em matéria de dívida, nós temos consultores vindos do Banco Mundial, do Fundo Monetário Internacional, entre outras entidades que também apoiam na matéria relativa à dívida do nosso país”.

Pagamento das horas extras está a 50%

Falando à margem da abertura da primeira sessão da Assembleia da República, a governante comentou ainda sobre o estágio do pagamento das horas extras.

O sector da Educação e Saúde são os que mais casos registam, sendo o da saúde o que mais pressão faz ao Governo, aliás é só recordar que os enfermeiros ameaçam retomar a greve a partir de 31 de Março, caso suas exigências não sejam satisfeitas. 

A ministra diz estar em curso o pagamento, pelo menos, das horas extraordinárias para este sector. 

“O sector da saúde, em particular, a dívida de horas extras foi paga na íntegra até 2023.

Existem pequenos casos pontuais referentes a 2023, que ainda carecem de validação de dados bancários, NUIT e outras características que dizem respeito ao próprio funcionário,  mas é residual. E também um grupo específico de 2023, que diz respeito a profissionais estrangeiros cujo pagamento será feito por via da embaixada para o seu país de origem.  Portanto, no nível da saúde em particular, a dívida que ainda reconhecemos que deve ser paga diz respeito ao ano de 2024. Neste momento, está a decorrer a validação pela Inspeção Geral de Finanças”. 

No sector da Educação também há pagamentos em curso.

“Foi pago na íntegra a dívida até 2022. Em 2023 fizemos um apuramento da dívida do sector da educação, num montante de 3,2 mil milhões de meticais e a estratégia prevê pagamento em três tranches de mil milhões de meticais cada. E o que se fez foi, na primeira tranche de mil milhões foi pago na íntegra. Portanto, até inícios deste ano, início de Janeiro, foi pago na íntegra mil milhões de meticais a todo o país. A segunda tranche de 1,1 mil milhões de meticais foi incluída no plano de 100 dias de governação, portanto, neste momento, estamos a assegurar o pagamento dentro deste plano de 100 dias de governação e estamos com um nível de realização de 50% até ao presente momento. Vamos continuar a trabalhar para fechar esta segunda tranche”, explicou a ministra.

A terceira tranche do valor poderá ser incluída no Orçamento de Estado de 2025.

O Comité de Política Monetária (CPMO) do Banco de Moçambique decidiu reduzir a taxa de juro de política monetária, taxa MIMO, de 12,25% para 11,75 %. Segundo o Banco Central, a medida decorre da manutenção das perspectivas da inflação em um dígito, no médio prazo, não obstante o aumento das incertezas quanto aos efeitos do agravamento do risco fiscal.

“As perspectivas da inflação mantêm-se em um dígito no médio prazo. Em Fevereiro de 2025, a inflação anual fixou-se em 4,74 %, após 4,69 % em Janeiro. A inflação subjacente, que exclui frutas e vegetais e bens com preços administrados, manteve-se estável. A manutenção das perspectivas da inflação em um dígito, no médio prazo, reflecte, essencialmente, a estabilidade do Metical e o impacto das medidas tomadas pelo CPMO”, justifica o Banco de Moçambique.

Para o médio prazo, excluindo o gás natural liquefeito (GNL), perspectiva-se um crescimento económico moderado. No quarto trimestre de 2024, estima-se que, excluindo o GNL, o produto interno bruto (PIB) tenha contraído 3,1 %, após ter crescido 2,8 % no trimestre anterior. Quando incluído o GNL, o PIB contraiu 4,9%, após crescer 3,7 % no trimestre anterior. 

A médio prazo, antevê-se que a actividade económica, excluindo a produção do GNL, recupere gradualmente, não obstante as incertezas quanto aos impactos dos choques climáticos na produção agrícola e nas infra-estruturas diversas e dos efeitos da tensão pós-eleitoral sobre os sectores de actividade.

Apesar destes cenários, o Governador do Banco de Moçambique, Rogério Zandamela alerta que a pressão sobre o endividamento público interno continua a agravar-se. A dívida pública interna, excluindo os contratos de mútuo e de locação e as responsabilidades em mora, situa-se em 447,2 mil milhões de meticais, o que representa um aumento de 31,7 mil milhões em relação a Dezembro de 2024. 

Por outro lado, as taxas de juro do mercado monetário continuam a reduzir. A taxa de juro de referência para o crédito, Prime Rate, continua a reduzir, em linha com as decisões de política monetária. O mesmo comportamento observa-se nas taxas de juro que os bancos praticam com os seus clientes. Por seu turno, o crédito à economia aumentou 5,7 % de Janeiro de 2024 a Janeiro de 2025.

Os riscos e incertezas associados às projecções da inflação aumentaram. Rogério Zandamela destacam como prováveis factores de aumento da inflação, no médio prazo, os impactos do agravamento do risco fiscal, num contexto de crescentes desafios para a mobilização de recursos financeiros para o Orçamento do Estado, e os efeitos dos choques climáticos e da tensão pós-eleitoral sobre os preços de bens e serviços.

O défice da moeda estrangeira, com destaque para o dólar, está a comprometer a importação de combustíveis para o país, um cenário que se revela em escassez em algumas bombas de abastecimento no país. A informação foi avançada por Hélder Chambisse, Presidente do Conselho de Administração (PCA) da  Petróleos de Moçambique, Petromoc.

Alguns postos de abastecimento de diesel e gasolina têm estado encerrados nas últimas semanas, por falta de combustível. O fenómeno é aliado a vários factores relacionados à cadeia de importação e distribuição dos combustíveis, mas o destaque vai para a falta de moeda estrangeira no mercado nacional, e a não facilitação dos créditos pelos bancos. 

“O mercado de distribuição de combustíveis tem várias nuances, vários factores que contribuem para a dinâmica de funcionamento das empresas. Por exemplo, tal como outros importadores, também enfrentamos o desafio da disponibilidade de moedas estrangeiras”, disse em entrevista ao Noite Informativa da STV, o Presidente do Conselho de Administração (PCA) da Petromoc, Hélder Chambisse, apontando igualmente que “o nível de importação de combustíveis determina que lidamos com bancos.”  

É uma escassez que transcende os limites normais de gestão segundo  Chambisse, e compromete as importações. 

“O que nós notamos nos últimos meses, ou nos últimos dois anos, é que este desafio começou a tornar-se um pouco mais elevado. O desafio aumentou, e a sequência, a velocidade de emissão de garantias bancárias para os bancos, e depois dos pagamentos, começou a tornar-se um pouco mais dilatada, e depois de criar desafios para responder às exigências contratuais com o fornecedor”, elencou e acrescentou que “os atrasos na emissão de garantias bancárias levam a que o produto seja descarregado, mas fica em financial hold, não pode ser utilizado. Atraso no pagamento leva depois a que haja também da parte do fornecedor alguma retenção.” 

Em termos de capacidade de abastecimento do mercado, a lei determina que o país deve ter pelo menos 45 dias de stock para garantir gestão em situações de emergência, o que a Petroc assegura que é sempre acautelado. 

“Em relação à capacidade de armazenagem, nós temos capacidade suficiente, não só para o consumo interno, como também para utilizar a valência de sermos um país de costa e, pelos produtores, alimentar também os países do interland” , assegurou Chambisse. 

Aliás, o responsável tranquiliza mais e diz que tudo está a ser feito para garantir que em nenhum momento haja ruptura de stock

“Estamos satisfeitos com a capacidade que temos, em Maputo, por exemplo, estamos agora na fase final de uma operação de 160 mil metros cúbicos, capacidade máxima o suficiente para a nossa operação e também para o servidor interland. Na Beira, que é onde existe o maior número de operadores, a nossa capacidade é suficiente, mas também os nossos concorrentes, os nossos co-agentes têm também capacidade suficiente para o consumo interno. Eventualmente, onde pode haver algum défice é em Nacala, mas esta cidade serve essencialmente ao consumo interno, da zona centro e depois da zona norte, em termos de corredores”, explicou. 

Tendo em conta que a cadeia de valor de distribuição de combustível pelo país tem se mostrado frágil, situação que se agrava em tempos de chuvas fortes ou ciclones, a Petromoc entende que há uma necessidade de aumentar os pontos de distribuição, para prevenir cenários como os que foram vistos em Palma, Cabo Delgado. 

“Temos quatro portos de descarga, e depois temos depósitos intermédios, que é exatamente para permitir uma melhor logística na distribuição de combustível. Há necessidade de pontos adicionais, que certamente haverá, de forma a reduzir o uso da viagem rodoviária para a distribuição, ou seja, os camiões não têm de se deslocar para os portos, e terminais oceânicas, para fazer a distribuição para os diversos pontos de consumo, utilizam-se os depósitos intermédios. Mas, concordo que há necessidade eventualmente de aumentar os depósitos intermédios, sem dúvidas”, apontou. 

Helder Chambisse respondeu às questões relacionadas com a cadeia de valores de importação e logística de combustíveis, numa entrevista exclusiva ao Grupo Soico. 

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