O País – A verdade como notícia

O Banco de Moçambique determinou um limite de 6 milhões de meticais para o pagamentos com cartões bancários no estrangeiro. A medida entrou em vigor ontem e tem duração de 12 meses.

Através de um documento a que o “O País” teve acesso, o Banco Central comunicou os novos limites de transações estrangeiras, através de cartões bancários. 

“As pessoas singulares e colectivas só podem efectuar pagamentos sobre o exterior com recurso a cartão bancário até ao limite anual equivalente a 6.000.000.00 MT (seis milhões de meticais).”

O aviso aplica-se às instituições de crédito sujeitas a supervisão do Banco de Moçambique, pessoas singulares e colectivas, titulares de cartões bancários emitidos em Moçambique, independentemente de serem ou não residentes ou cambiais.

O limite estabelecido corresponde ao valor agregado em todo sistema bancário nacional, ou seja, a utilização de cartões de diferentes bancos pela mesma pessoa não pode ultrapassar seis milhões de meticais, incluindo os levantamentos em numerário. Mas alerta que “o limite anual não prejudica os limites diários definidos para cada cartão pela instituição de crédito.”

Em caso de necessidade de extravasar o limite anual estabelecido, impõe que seja submetido, no prazo de cinco dias úteis, um pedido fundamentado  por: “documentos comprovativos do facto gerador da necessidade; Montante; Período; País de destino; e Outras informações relevantes”.

Posto isso, o Banco de Moçambique poderá decidir sobre o caso no prazo de 15 dias úteis. O não cumprimento destas medidas será considerado contravenções cambiais graves, “Puníveis com multas entre os 10 e os 500 salários mínimos para singulares, 20 e os 1500 salários mínimos para pessoa colectiva”. E se for instituições de crédito e sociedades financeiras a punição varia entre 50 e os 2500 salários mínimos. Para determinação do valor das multas, o salário mínimo aplicável é o do sector bancário”.

A Suiça decidiu acusar a Credit Suisse de branqueamento de capitais em caso relacionado com as dívidas ocultas. O facto está relacionado a pagamentos indevidos feitos a funcionários daquele banco para facilitarem a aprovação do Crédito que resultou em Dívidas Ocultas.

Depois dos Estados Unidos da América e do Reino Unido, agora é a vez da Suíça procurar penalizar o banco Credit Suisse por práticas criminosas no processo de aprovação e disponibilização de mais de 2.2 mil milhões de dólares para financiar a EMATUM, ProÍndicus e MAM.

Para o efeito, as autoridades suíças acusaram um antigo funcionário do Credit Suisse, integrado no UBS a partir de 2023, de branqueamento de capitais. É que parte do financiamento, numa quantia equivalente a 7,9 milhões de dólares foi transferida em 2013 a partir do Ministério das Finanças para uma conta do Credit Suisse na Suíça e que depois o valor foi encaminhado para uma outra conta sediada nos Emirados Árabes Unidos, e essas movimentações é que despoletaram a investigação.

Segundo a acusação, terá sido o responsável de compliance do Credit Suisse, na altura, que recomendou que o caso não fosse reportado às autoridades de controlo de lavagem de dinheiro, sugerindo antes o término da relação comercial. O Credit Suisse só reportou a transação em 2019, após o Departamento de Justiça dos EUA ter iniciado processos criminais relacionados com os empréstimos moçambicanos.

Neste novo capítulo, o procurador suíço acusou o banco e o UBS de “deficiências organizacionais” que impediram a prevenção de práticas ilícitas. Em comunicado, o UBS rejeitou firmemente as conclusões e afirmou que irá defender vigorosamente a sua posição.

Em 2021, o Crédit Suisse pagou 475 milhões de dólares às autoridades americanas e 147 milhões de libras à Financial Conduct Authority britânica, devido a falhas de supervisão nos empréstimos moçambicanos.

Moçambique e a África do Sul reafirmaram esta quarta-feira a cooperação bilateral nas áreas de energia, agricultura, turismo, recursos naturais, transportes e logística. A intenção foi manifestada pelos chefes de Estado dos dois países durante a IV Sessão Binacional, realizada na cidade de Maputo.

Três anos depois do último encontro, realizado em Pretória, em Março de 2022, Moçambique e a África do Sul voltaram a reunir-se para uma Sessão Binacional, desta vez em Maputo. A visita de trabalho de Cyril Ramaphosa teve início na noite de terça-feira e, esta quarta-feira, o estadista foi recebido pelo Presidente da República com honras militares.

Após a cerimónia, os dois líderes dirigiram-se à IV Sessão da Comissão Binacional Moçambique–África do Sul, a quarta desde o primeiro encontro, em Outubro de 2015. Moçambique afirma ter cumprido as mais de quarenta decisões saídas da terceira sessão, realizada em Pretória.

“Durante a terceira sessão, há três anos, adoptámos 42 decisões e a avaliação que fazemos é que conseguimos honrar a sua implementação, apesar de, no ano passado, o país ter enfrentado manifestações violentas. Demos passos significativos em diferentes sectores. Este relacionamento de excelência é um instrumento de visão partilhada entre os dois países, visando a estabilidade e a integração regional”, afirmou Daniel Chapo, Presidente da República.

Por sua vez, a África do Sul afirma ter identificado durante os últimos anos, novas áreas de investimento em Moçambique com o domínio que consolide a cooperação 

“É essencial que implementemos as nossas decisões e identifiquemos novas áreas de oportunidade. Como comentávamos durante o jantar de ontem, identificámos várias possibilidades que os nossos países podem explorar. Devemos construir progressos através do Corredor de Desenvolvimento de Maputo, uma grande rede de transporte e uma zona económica que liga os nossos dois países”, disse o Presidente da RSA.

Na Sala dos Grandes Actos, os dois países reforçaram os laços bilaterais com a assinatura de vários instrumentos de cooperação em energia, agricultura, turismo, recursos naturais, transportes, logística, ciência e educação. Com Daniel Chapo explicou as prioridades 

“Pretendemos promover a diversificação de fontes energéticas e construir infraestruturas de geração e transmissão de energia elétrica entre os nossos países. Nos transportes e logística, há compromisso de modernizar os corredores de desenvolvimento já existentes, como o de Maputo, e avançar com novos projectos, como os de Ponta do Ouro e de Mapinhane–Pafuri.”

O Chefe de Estado moçambicano reforçou ainda que esta cooperação pode gerar emprego e fortalecer a segurança alimentar:

“O nosso sector privado clama por maior facilitação no transporte de bens, pessoas e mercadorias. Queremos promover um turismo mais robusto entre os nossos países. Na agricultura e pecuária, pretendemos reforçar a cooperação nesta área vital, que emprega muitas pessoas tanto na África do Sul como em Moçambique. Queremos beneficiar da experiência, tecnologia e investimentos sul-africanos para, juntos, produzirmos riqueza e garantirmos o bem-estar dos nossos povos, sobretudo no domínio da segurança alimentar.”

A África do Sul considera Moçambique um parceiro estratégico para impulsionar o desenvolvimento e o investimento privado.

Segundo Cyril Ramaphosa “A África do Sul é um parceiro confiável e leal de Moçambique, e Moçambique também o é para a África do Sul. É o nosso maior parceiro comercial na região e está entre os quatro principais destinos das nossas exportações no mundo. Moçambique acolhe mais de 300 empresas sul-africanas, e esse número deve aumentar com uma cooperação mais profunda em energia, mineração, infraestrutura, agricultura, serviços financeiros, telecomunicações, saúde, turismo e indústria hospitalar.”

Moçambique aproveitou ainda a ocasião para agradecer à África do Sul pela cooperação no combate ao terrorismo em Cabo Delgado.

O Reino Unido e a Holanda poderão retirar o apoio de 2,2 biliões de dólares ao projecto de gás liderado pela TotalEnergies na Bacia do Rovuma. Segundo a Reuters, suspeitas de violação de direitos humanos estão entre as razões.

Poucos dias depois de ter anunciado a intenção de retomar o seu projecto de gás em Cabo Delgado, após suspender devido à insegurança, a TotalEnergies poderá ver parte do financiamento que previa ter para avançar a ser cancelado.

Segundo a Reuters, o Reino Unido e a Holanda vão retirar um apoio conjunto de 2,2 biliões de dólares ao projecto de Gás Natural Liquefeito localizado na Bacia do Rovuma devido a suspeitas de violação de direitos humanos e insegurança.

“O governo britânico disse que estava a rescindir o seu apoio de 1,15 bilião de dólares ao projecto, depois de prometer em 2020 um empréstimo de 300 milhões e um seguro de cerca de 700 milhões para o projecto de 20 biliões de dólares por meio da UK Export Finance. O governo holandês também afirmou, na segunda-feira, que a Total retirou um pedido de seguro de exportação de 1,1 bilião de dólares para o projecto”, escreve a Reuters.

Em Novembro último, uma ONG apresentou queixa-crime contra a Total, alegando que a firma foi cúmplice de tortura e desaparecimentos cometidos por militares. Em resposta, a Total afirmou que as alegações carecem de provas.

Na segunda-feira, o governo holandês afirmou que as duas empresas por si contratadas para investigar o caso consideraram as alegações de tortura críveis, embora não tenham conseguido determinar o alegado envolvimento da Total.

Questionado sobre a retirada do financiamento à Total, o Governo disse não ter ainda informação. “O Governo ainda não foi notificado sobre a matéria. Aliás, ainda hoje, o Governo foi informado sobre os passos que têm de ser dados para a materialização da última decisão que foi tomada para o avanço doprojecto da área 4”, disse ontem o porta-voz do Conselho de Ministros, Inocêncio Impissa.

No mês de Março último, o Banco de Exportação e Importação dos Estados Unidos aprovou um empréstimo de quase 5 biliões de dólares para o projecto.

Depois de declarar força maior em 2021, a Total Energies mostrou disponibilidade, há um mês, para retomar o projecto de gás, tendo dito que durante a pausa teve custos recuperáveis, que serão auditados pelo Governo.

“Em preparação para reiniciar o projecto, a UK Export Finance recebeu uma proposta para alterar os termos de financiamento que havia acordado originalmente”, disse numa nota o ministro britânico de negócios, Peter Kyle.

“Meus funcionários avaliaram os riscos do projecto e, na opinião do Governo de Sua Majestade, esses riscos aumentaram desde 2020”. Os interesses dos contribuintes do Reino Unido “são melhor atendidos com o encerramento de nossa participação no projecto”, acrescentou.

O ministro da Planificação e Desenvolvimento diz que Moçambique não pode repetir o erro de explorar os recursos sem beneficiar as comunidades locais. Salim Valá afirma, por isso, que é preciso instituir que os grandes projectos integrem jovens, mulheres e empresas nacionais na sua cadeia de valor.

Foi diante de uma plateia composta por empresários, políticos e governantes que Salim Valá apresentou a exploração de recursos naturais de que o país dispõe como uma das saídas para a recuperação económica, contudo, ao mesmo tempo, chamou atenção para a necessidade de cautela nas expectativas criadas, uma vez que se trata de “investimentos de grande impacto, capazes de transformar a estrutura económica do país ao longo das próximas décadas”.

“Queremos deixar aqui a mensagem de que o gás natural não é um fim em si mesmo: é um mecanismo para financiar a diversificação económica, modernizar a agricultura, expandir a industrialização, fortalecer o capital humano, implantar infra-estruturas modernas, potenciar as PME e criar empregos. Os países que prosperaram com recursos naturais foram aqueles que transformaram receitas extraordinárias em investimentos estratégicos. É essa a rota que Moçambique pretende seguir.”

É que, no seu entender, “Moçambique já não aceita ser um país rico em recursos, porém pobre em benefícios”. Para ele, este é um erro histórico que alguns países cometeram, mas que o nosso não pode cair nele.

“Por isso, estamos a avançar com políticas de conteúdo local, com mecanismos de financiamento produtivo, com fundos territoriais, com reforço do capital humano e com incentivos claros, para que os grandes projectos integrem jovens, mulheres e empresas moçambicanas nas suas cadeias de valor. Não queremos apenas extrair riqueza; queremos transformá-la, multiplicá-la e distribuí-la, contornando, assim, a doença holandesa e a maldição dos recursos naturais”, afirmou.

Salim Valá apresentava, na manhã desta quinta-feira (11), em Maputo, os contornos da implementação do Plano de Recuperação e Crescimento Económico 2025-2029, no âmbito das celebrações das três décadas (30 anos) do Millennium Bim.

Igual ao gás está o investimento em infra-estruturas de transporte e logística, como oportunidades imprescindíveis para o país tirar benefício da localização estratégica, com rios e extensas áreas marítimas, com a visão governativa de se tornar “hub logístico e comercial de referência na África Austral, servindo os mercados do hinterland e integrando Moçambique nas cadeias de valor regionais e globais”.

Para o efeito, a modernização de infra-estruturas é crucial.

“Estamos a investir de forma estratégica em corredores de desenvolvimento, modernização portuária, infra-estruturas ferroviárias e rodoviárias, incluindo a EN1, e a conectividade digital, criando condições para que o país se torne um ponto de convergência para o comércio, indústria e inovação tecnológica”, defendeu o governante.

 

PIB poderá cair em 1,6 pontos percentuais em 2026

O anúncio da revisão em baixa das perspectivas de crescimento económico para o ano 2026, dos anteriores 3,2% para  2,8%, foi feito durante o briefing do Conselho de Ministros desta semana.

Nesta quinta-feira, o ministro da Planificação e Desenvolvimento mostrou-se esperançoso com a inversão dos gráficos, como resultado da implementação do plano de recuperação e crescimento económico 2025-2029 (PRECE), orçado em mais de 2,75 mil milhões de dólares.

Valá diz que o instrumento está a restaurar a confiança dos investidores e da população, e, consequentemente, gera a possibilidade de crescimento médio do Produto Interno Bruto.

“Estimamos um crescimento médio do Produto Interno Bruto de 5%, durante o período de implementação do PRECE, impulsionado pela retoma dos investimentos de capital intensivo nos sectores de gás natural, agro-negócio, mineração, energia, turismo e infra-estruturas, aumento da produção interna e exportações dos grandes projectos, menor pressão inflacionária decorrente da estabilidade da taxa de câmbio do metical face ao dólar americano, descida das taxas de juro resultante de uma política monetária expansionista, implementação de reformas no quadro fiscal e regulatório para a melhoria do ambiente de negócios.”

Ao mesmo tempo que o país se apresenta confiante na melhoria da economia, há desafios cuja influência é quase inevitável. Para além dos naturais, existem os de procedimento, como é o caso da baixa produtividade, sobretudo no sector agrícola.

Valá fez questão de enumerar os desafios ligados a infra-estruturas ainda insuficientes em matéria de estradas, energia rural, logística e armazenamento e oscilações dos preços internacionais de combustíveis, fertilizantes e alimentos.

“Além de a economia enfrentar desafios relacionados com o endividamento, pressões fiscais e reduzida oferta de moeda externa, há ainda uma vulnerabilidade estrutural que não aparece apenas nas contas nacionais, mas em cada comunidade: a combinação de baixa produtividade, elevado nível de informalidade e desigualdades territoriais”, declarou, chamando atenção para a necessidade de ter em conta a realidade social, quando se aborda o contexto económico actual, para não se ocuparem apenas nos indicadores macroeconómicos.”

O ministro afirma que o Executivo está ciente das dificuldades, por isso desenvolveu instrumentos como Estratégia Nacional de Desenvolvimento 2025-2044, Programa Quinquenal do Governo, 2025-2029, Cenário Fiscal de Médio Prazo 2026-2028, Plano Económico e Orçamento do Estado, Plano de Recuperação e Crescimento Económico 2025-2029 e a estratégia nacional de financiamento climático, para, segundo o governante, fazer face aos desafios económicos e alcançar resultados esperados, com base em políticas claras, mecanismos de análise e previsibilidade necessários.

Governo e bancos colocam cidadãos numa “maratona burocrática”

O ministro das Comunicações e Transformação Digital afirma que a não digitalização das instituições que prestam serviços públicos dificulta a experiência do cidadão no dia-a-dia.

Américo Muchanga fala de um cidadão que, sempre que busca por algum serviço, primeiro deve deslocar-se ao local, fisicamente. Chegado ao local, deve preencher documentos e ainda assinar, por forma a ser reconhecido.

E tudo fica mais difícil se tiver de concluir o processo noutra instituição, cuja comunicação é deficiente. Aí o cidadão “queima” o dia neste processo. 

O ministro considera o processo uma “maratona burocrática”, que atrasa processos e desvaloriza as instituições. É daí que o Governo elegeu cinco plataformas nacionais consideradas importantes, para alterar esta experiência do cliente ou cidadão.

“A primeira plataforma de que nós precisamos é a plataforma de assinatura digital. Temos de trabalhar em conjunto, sobretudo os bancos vão tirar vantagem desta plataforma da assinatura digital. Ela tem de ser segura, inclusiva e poder funcionar com vários instrumentos de acesso, desde o telefone móvel, computador ou qualquer plataforma digital; precisamos de estabelecer uma plataforma de interoperabilidade que seja um backbone de identidade que permita, a partir dos dados do cidadão, para podermos identificar o cidadão uma única vez. Portanto, se eu me apresento ao Estado e dou a minha informação sobre a minha identidade, o Estado já conhece a informação, onde quer que eu vá, basta lhe dar um identificador para ele poder ter acesso a todos os meus dados. A terceira plataforma é a plataforma de identidade digital, que é o instrumento de que o cliente ou cidadão precisa para poder-se autenticar quando ele está a usar uma plataforma digital. Precisamos de pagamentos digitais, portanto sistemas de pagamentos digitais. Aqui, a banca tem um papel preponderante. Finalmente, para retirar aquilo que chamei de maratona do cidadão, maratona burocrática, nós precisamos de ter um portal cidadão, que é o único ponto para onde o cidadão se deve dirigir quando pretende ter serviço do Estado”, disse.

Muchanga desafiou ainda a Banca Nacional a engajar-se na criação de Banca Digital, “porque, para servir 24 milhões de pessoas em todo o sítio onde estão, eles não podem funcionar da maneira como a banca tradicional funciona”.

O CEO da Sociedade de Desenvolvimento do Porto de Maputo (MPDC), Osório Lucas, defende reformas e estabilização da legislação para garantir a diversificação económica e na exportação. Segundo ele, é preciso que haja estabilidade legislativa, uma vez que as constantes alterações criam um ambiente de incerteza na economia nacional, num contexto em que o país necessita de investir no valor local. 

Falando no painel sobre a diversificação económica e valor local, um dos temas em debate na conferência sobre economia no quadro das celebrações dos 30 anos do Millennium Bim, Lucas alertou que só há investimento onde reina um ambiente seguro a vários níveis, ao mesmo tempo que é preciso que haja entendimento sobre as leis para quem queira apostar numa determinada área.  

Segundo explicou na sua intervenção, há várias leis que estão em vigor no país, mas persiste a diferença de interpretação entre os que operam e os quem têm a responsabilidade na execução dos instrumentos legislativos. 

“Nós podemos ter num período de três ou quatro anos o mesmo número de reformas na legislação, e para quem vem a Moçambique a primeira coisa que quer saber é em que condições vai operar. Há quem diga, até, que é preferível ter uma taxa de impostos de 50 por cento do que ter um ambiente marcado por oscilações”, alerta Osório Lucas.

Lucas defende ainda a aposta nas fronteiras únicas digitais como forma de flexibilizar as exportações, sobretudo ao nível da região. Para ele, Moçambique tem de saber tirar proveito da dádiva em relação ao seu posicionamento geográfico. 

“Não basta ter infra-estruturas, ainda que seja bom. (…) Elas têm de se converter em serviços. As pessoas compram o que querem e não que nós queremos vender”, alerta, sublinhando que é preciso que o país melhore a qualidade de serviços, facto que passa por o serviço portuário funcionar de forma integrada.

“Uma das alternativas é a integração digital. Há muita conversa sobre a criação da fronteira única. O nosso sentimento é de que a criação de fronteira única física pode levar muito tempo por razões políticas e de outra natureza.”

Nesse sentido, entende Osório Lucas, o país deve avançar para as fronteiras digitais, através de um sistema interligado entre as várias instituições.

 

APOSTA NO AGRO-NEGÓCIO

O PCA da I2A, Amado Mabasso, alerta que Moçambique deve apostar naquilo que chama de industrialização leve, voltada sobretudo para o agro-negócio, que integra desde a produção até o consumidor final, passando por vários sectores como transporte, tecnologia e logística. 

Segundo ele, o agro-negócio é importante e deveria ser prioridade, sobretudo para um país com características económicas, geográficas e com tanta terra arável como Moçambique. 

“Pensar na agricultura só não resolve e pensar na indústria sozinha também não resolve. É preciso criar mecanismos de investimento, criando confiança nas pessoas e ao nível da banca”, disse Amado Mabasso.

Defende ainda que é preciso proteger a indústria nacional, através do robustecimento das empresas, o que, segundo explicou, pode contribuir para que o país alcance resultados tangíveis no sector do agro-negócio. 

Falando também no mesmo painel, o representante do Fundo Monetário Internacional em Moçambique, Olamide Harrison, fez uma análise sobre a situação económica do país, que considera complicada, ainda que a inflação permaneça em baixa entre quatro e cinco por cento. 

“O crescimento económico em Moçambique ainda está em recuperação de uma forma gradual, devido aos últimos acontecimentos marcados por protestos pós-eleitorais. 

Olamide Harrison espera que a economia moçambicana volte a ganhar estabilidade no próximo ano. Para tal, defende que a redução dos riscos fiscais é um dos caminhos para a melhoria da política monetária no país. 

O Presidente da Comissão Executiva do Millennium bim defende que o sistema financeiro não é apenas um intermediário, mas também um catalisador do desenvolvimento. Rui Pedro falava hoje, na Cidade de Maputo, na conferência económica Visão M que marca os 30 anos de existência do banco comercial.

Com um olhar para o futuro e Moçambique no centro das suas atenções, o Millennium bim, um dos maiores bancos do país, celebrou, nesta quinta-feira, o seu trigésimo aniversário com a realização da Conferência Económica Visão M.

Diante de vários convidados, entre eles, governantes, o antigo vice-primeiro-ministro de Portugal, empresários, entre outros, Rui Pedro, Presidente da Comissão Executiva do banco explicou a essência da conferência.

“Mais do que uma celebração institucional, esta conferência representa a nossa forma de reafirmar um compromisso, o de sermos parte activa nas reflexões e soluções para o futuro de Moçambique”, explicou o PCE do banco comercial.

De acordo com Rui Pedro, o sistema financeiro não deve ser visto apenas como um intermediário, mas também como um catalisador do crescimento e desenvolvimento económico das nações. 

“No Millennium bim assumimos este papel com ambição e determinação, investindo em soluções digitais inovadoras e em educação financeira e em parceria que potenciem o crescimento das empresas e das famílias”, afirmou.

Com o lema ‘Geopolítica e o Futuro das Economias Emergentes – Prioridades para Moçambique’, o banco convida a sociedade moçambicana a reflectir sobre como transformar as incertezas em estratégias de crescimento sustentável.

“Num mundo em rápida transformação, com incertezas geopolíticas, transições energéticas e uma aceleração tecnológica sem precedentes, as economias emergentes como a moçambicana enfrentam simultaneamente riscos e oportunidades. Riscos associados à volatilidade internacional, mas também oportunidades para posicionar Moçambique como um actor relevante na região e no mundo”, refere o Presidente da Comissão Executiva do Millennium bim.

No entender do gestor bancário, para que as estratégias produzam efeitos desejados, há três ingredientes fundamentais: visão, colaboração e acção coordenada. Ao ser anfitrião do evento, o banco procura fomentar o diálogo e reforçar pontes entre sectores público, privado e parceiros de desenvolvimento. 

“Permitam-me sublinhar que esta conferência não é apenas um espaço de debate, mas um convite à acção”, destaca o PCE do Millennium bim.

Rui Pedro lembra que o evento acontece num contexto em que o país procura consolidar o seu papel como produtor estratégico de energia, atrair investimento e acelerar a diversificação económica com foco na industrialização.

O Presidente da Comissão Executiva do Millennium bim diz ainda que as três décadas do banco comercial em Moçambique ensinaram que “o sucesso está intrinsecamente ligado ao desenvolvimento económico e social do país”. 

Moçambique tem, hoje, todas as condições para fazer das próximas duas décadas, um período de transformações económicas profundas, afirmou o ministro da Planificação e Desenvolvimento, durante a intervenção na “Conferência Económica” realizada pelo Millennium Bim, no âmbito da celebração dos 30 anos, período durante o qual a instituição “investiu no país e cresceu” com ele.

No evento, Salim Valá disse que “temos recursos naturais estratégicos, uma localização geoeconómica privilegiada, uma economia com potencial para se diversificar e tornar-se mais robusta e, sobretudo, um povo com um talento e uma resiliência extraordinárias”.

O governante entende que a “transformação que o país precisa só acontecerá se encararmos com coragem, disciplina e audácia o momento desafiante que atravessamos. O país enfrentou tensões económicas e sociais que não podemos ignorar – e é assumindo esta realidade com transparência que construiremos a confiança necessária para avançar”.

“Os três grandes desafios estruturais continuam presentes”, nomeadamente “a pobreza persistente, o desemprego – sobretudo juvenil – insiste em não cair e as desigualdades territoriais entre zonas urbanas e rurais mantêm-se. Sabemos que alterar esse quadro não será um labor simples, automático nem de curto prazo, e envolverá o Estado, o sector privado, a sociedade civil e a academia, além dos parceiros de cooperação”.

O Millennium Bim é considerada uma instituição que, ao longo de três décadas, se tornou um dos pilares do sistema financeiro moçambicano e um actor preponderante na dinamização da economia.

Nesse contexto, o ministro da Planificação e Desenvolvimento considerou que o Millennium Bim ajudou Moçambique a construir estabilidade, modernidade e confiança económica e financeira ao longo de 30 anos da sua existência. “Ou seja, cresceu com o país, investiu no país, tem confiança no país e, por isso, acredita no futuro do país”.

O crescimento económico de Moçambique, anotou o ministro, tem sido impulsionado pela agricultura, pelos serviços, pelo comércio, pela energia, por alguns projectos de mineração e hidrocarbonetos e por um processo gradual de recuperação pós-pandemia. “Este nível de crescimento é positivo, mas ainda está longe de ser o que desejamos em termos de impacto sobre a pobreza, o emprego e o bem-estar das famílias”.

“No quarto trimestre de 2024, o país viveu uma contração de 5,7%, e no primeiro semestre de 2025 registou-se uma contração de 2,4%, estimando-se que no terceiro e quarto trimestres de 2025, o PIB recupere em cerca de 2,1% e 3,4%, e até o final do ano atinja 1,6%, contra 2,9% previsto no PESOE de 2025”.

Para o próximo ano, a projecção inicial de crescimento do PIB, fixada em 3,2%, poderá ser revista em baixa, ficando nos 2,8%, isto é, maior que a taxa de crescimento projectada para 2025, explicou Valá e apontou “sinais encorajadores”, nomeadamente a inflação, que chegou a níveis elevados no período pós-pandemia. Mas tem estado a recuar, tendo sido de 4,8% em Outubro deste ano, depois de em Setembro ter atingido 4,9%”.

“O metical revelou relativa resiliência quando comparado com outras moedas, as reservas internacionais têm sido geridas com prudência,e o país tem procurado reforçar a disciplina fiscal, num contexto em que o espaço orçamental é limitado e as necessidades sociais são grandes”.

Valá lembrou que a balança comercial do país continua fortemente marcada pelas exportações de carvão, alumínio, gás, energia, grafite e alguns produtos agrícolas. “Continuamos demasiado dependentes de matérias-primas, mas começam a surgir sinais de diversificação, ainda tímidos, na agro-indústria, serviços logísticos e iniciativas ligadas à economia azul”.

O sector privado moçambicano ganha uma nova folga financeira com a implementação do projecto “Mais Oportunidades”, uma iniciativa que promete injectar cerca de 20 milhões de dólares directamente nas pequenas, médias e grandes empresas de quatro províncias do país, incluindo Inhambane. 

O programa, agenciado pelo Ministério das Finanças, financiado pelo Banco Mundial e operacionalizado por várias agências nacionais e internacionais, surge como uma das apostas mais ambiciosas do Governo para dinamizar três sectores estratégicos da economia: turismo, agro-negócio e construção civil.

Em Inhambane, o projecto chegou com expectativas elevadas. Empresários, técnicos e representantes institucionais participaram num encontro de apresentação que serviu, ao mesmo tempo, para esclarecer dúvidas, prestar contas sobre o andamento do processo e abordar, sem rodeios, os entraves que continuam a travar o acesso das empresas ao financiamento.

À frente da componente técnica do programa está Mário Ubisse, especialista em desenvolvimento do sector privado e membro da equipa de assistência técnica do projecto “Mais Oportunidades”, também operacionalizado por entidades como a agência Vale do Zambeze. Segundo explicou, o programa abrange quatro províncias — Sofala, Manica, Gaza e Inhambane — e desenvolve-se em várias frentes, desde capacitação empresarial até financiamento directo por via de subvenções.

“O projecto actua em três áreas-chave: turismo, agro-negócio e construção civil. Além das subvenções, estamos a investir fortemente em capacitação, porque entendemos que não basta dar dinheiro; é preciso fortalecer as empresas para que saibam gerir e ampliar esses recursos”, afirmou Ubisse, sublinhando que a formação já arrancou em Gaza está em fase de implementação em Inhambane, com a província de Sofala prevista para entrar no calendário nas próximas semanas.

No que toca ao financiamento, os números impressionam. Só para as quatro províncias abrangidas pela primeira fase, estão reservados cerca de 20 milhões de dólares em subvenções, enquanto as acções de capacitação contam com mais um milhão de dólares. No conjunto, o projecto “Mais Oportunidades” movimenta um pacote global de cerca de 200 milhões de dólares, abrangendo outras componentes como infra-estruturas da “última milha” e inclusão financeira.

A expectativa criada em Inhambane é grande. Ao nível da província, 42 pequenas e médias empresas já foram pré-seleccionadas e encontram-se, neste momento, a desenvolver os seus planos de negócio ou subprojectos. Estas empresas fazem parte de um universo mais vasto: ao todo, 393 empresas submeteram candidaturas nas quatro províncias, das quais 138 passaram para a fase de elaboração de projectos, sendo Inhambane responsável por quase um terço dessa lista.

A leitura sectorial confirma as tendências económicas locais. Inhambane destaca-se sobretudo no turismo, enquanto Gaza apresenta maior peso no agro-negócio. A construção civil, por seu turno, marca presença transversal nas quatro províncias, impulsionada pelo crescimento urbano e pelos investimentos em infra-estruturas.

Mas a corrida ao financiamento não tem sido um percurso sem obstáculos. Um dos pontos mais sensíveis — e frequentemente ignorados por muitas empresas — é o cumprimento das obrigações fiscais. Para Mário Ubisse, este é, actualmente, o maior nó de estrangulamento no acesso às subvenções.

“Estamos a falar de fundos públicos, administrados pelo Ministério das Finanças. Uma empresa que não cumpre as obrigações legais terá, naturalmente, dificuldades para aceder a este financiamento. Muitos empresários não conseguem apresentar evidências do cumprimento fiscal, e isso compromete seriamente as suas candidaturas”, explicou, num tom directo.

É aqui que o discurso técnico encontra eco no desabafo empresarial. Abdul Razak, presidente do Conselho Empresarial de Inhambane, não escondeu as frustrações do sector privado quanto ao ritmo e à previsibilidade dos processos.

“Temos muitos fundos lançados, mas o problema é a demora e a falta de comunicação. Não se pode deixar um empresário dois ou três meses sem saber se foi ou não aprovado. Isso é angustiante para quem está a planear o futuro da empresa com base nesses fundos”, lamentou.

Além da morosidade, Razak aponta problemas mais profundos na articulação entre o fisco e o sistema financeiro. Um dos exemplos mais citados no encontro foi a incompatibilidade entre os modelos fiscais exigidos às pequenas empresas e os requisitos bancários.

“Muitas microempresas são registadas no modelo 10 nas Finanças, mas quando chegam aos bancos pedem o modelo 20, que é próprio de médias e grandes empresas. Isto cria uma barreira desnecessária. Não é uma questão de capacidade de pagamento de impostos, mas de classificação administrativa”, explicou.

Na sua visão, é urgente que o Estado harmonize estas exigências, permitindo que pequenas empresas possam beneficiar de modelos fiscais flexíveis sem que isso as impeça de aceder ao crédito e aos fundos públicos.

“O problema não é a contabilidade organizada. Uma empresa pequena pode ter contabilidade organizada à sua escala. O verdadeiro bloqueio é o modelo fiscal que não conversa com a realidade do empresariado local”, acrescentou.

O debate decorreu num ambiente marcado por expectativas elevadas, mas também por uma clara exigência de mais transparência, mais agilidade e mais diálogo. Para muitos empresários, o “Mais Oportunidades” representa mais do que um fundo: é uma porta para sair da sobrevivência económica e entrar numa lógica de crescimento.

A província de Inhambane, com forte vocação turística e um sector agrário em expansão, tem no projecto uma oportunidade rara para consolidar empresas locais e atrair novos investimentos. Ao apostar simultaneamente em financiamento e capacitação, o programa tenta quebrar o ciclo vicioso que limita o crescimento empresarial: falta de formação, má gestão, incumprimento fiscal e exclusão financeira.

O desafio agora é garantir que o dinheiro não fique preso em teias burocráticas e que o discurso de apoio ao empresariado se traduza em resultados palpáveis. Não basta anunciar milhões, é preciso que cheguem ao destino.

Para os empresários de Inhambane, o recado é claro: quem quiser aceder aos fundos precisa de organizar a casa, regularizar a situação fiscal e apresentar projectos consistentes. Para o Governo e parceiros, a exigência é outra: tornar o processo mais transparente, previsível e funcional.

Se essas duas partes se encontrarem a meio caminho, o “Mais Oportunidades” poderá deixar de ser apenas mais um programa e transformar-se, de facto, num catalisador de negócios, empregos e desenvolvimento real.

E é exactamente isso que o empresariado espera: menos promessas e mais resultados.

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