O País – A verdade como notícia

A província de Inhambane está prestes a viver um momento histórico na sua trajectória de desenvolvimento económico. O Conselho Executivo Provincial e a MozParks Holding formalizaram um memorando de entendimento para a criação de dois parques industriais, um em Inhassoro e outro em Jangamo, avaliados inicialmente em cerca de 2 milhões de dólares, com implementação faseada.

A escolha destes distritos combina factores estratégicos fundamentais. Inhassoro e Jangamo beneficiam de proximidade aos projectos de gás natural, areias pesadas e transformações energéticas em curso no país, acessibilidade a portos e rodovias, e um forte potencial agrícola e turístico que pode sustentar novas cadeias de valor. Essas características posicionam os parques como pólos de atracção para investimentos, com capacidade para integrar empresas de sectores como agroindústria, manufactura leve e logística.

Durante a cerimónia de assinatura, o governador Francisco Pagula destacou que o acordo vai muito além de um compromisso institucional. Segundo ele, os parques industriais “vão criar um ambiente que promova a integração de micro, pequenas e médias empresas, permitindo que empreendedores locais conquistem espaço na cadeia de fornecimento dos grandes projetos energéticos”. Para Pagula, a iniciativa representa uma resposta concreta ao desafio da diversificação econômica, reduzindo a dependência do turismo, um setor vulnerável à sazonalidade.

A MozParks Holding, representada pelo CEO Onório Manuel, enfatizou que a empresa busca consolidar um modelo de parques industriais sustentáveis, com planejamento e gestão moderna. “Queremos espaços onde empreendimentos nacionais e internacionais operem de forma eficiente, com infraestrutura partilhada, logística integrada e incentivos que promovam competitividade”, afirmou o gestor, citando como modelo bem-sucedido o Parque Industrial de Beluluane (Maputo), que abriga mais de 70 empresas de 18 nacionalidades, emprega cerca de 10 mil trabalhadores e acumulou mais de 3 mil milhões de dólares em investimentos.

Além da geração direta e indireta de empregos, a província espera que a implantação dos parques estimule o fortalecimento de cadeias produtivas municipais, leve a capacitação técnica de jovens e favoreça o surgimento de novos empreendimentos locais. O plano, conforme autoridades, dá ênfase à inclusão econômica, ao envolver pequenos empresários no fornecimento de insumos, serviços de apoio e mão de obra especializada.

O contexto atual consolida a importância desta aposta. Inhambane luta para diversificar sua economia, desde os impactos da pandemia — que afectou turismo, pesca e informalidade. A industrialização surge, portanto, como oportunidade de reequilibrar a economia e dar um rumo mais sustentável no médio e longo prazo.

O memorando prevê a criação de uma estrutura de governança compartilhada entre governo e MozParks, com critérios claros para uso das terras, infraestrutura inicial já projetada e serviços de apoio, como eletrificação, tratamento de águas e acesso rodoviário. A expectativa é que os parques sejam operacionalizáveis dentro dos próximos 18 a 24 meses, com previsão de transformarem Inhambane em uma plataforma exportadora competitiva e integrada à economia nacional.

Concluindo, o governador sublinhou que “se este plano for executado com eficiência e transparência, Inhambane pode se transformar no principal motor industrial do sul do país”. O desafio agora é garantir que o avanço seja apoiado por políticas públicas firmes, incentivos adequados e monitoramento contínuo — para que a promessa possa, de fato, reverberar em transformação econômica e qualidade de vida para a população.

 

O Ministro da Economia e Finanças, Basílio Muhate, procedeu nesta segunda-feira, ao lançamento oficial da sexagésima edição da Feira Internacional de Maputo (FACIM), que vai decorrer de 25 a 31 de Agosto, no recinto de Ricatlha, distrito de Marracuene, província de Maputo. O evento promete superar as edições anteriores em número de expositores, visitantes e diversidade de produtos e serviços.

Na cerimónia de lançamento, o governante sublinhou a importância da feira para a dinamização da economia nacional, destacando o seu papel na promoção de parcerias empresariais, na atração de investimento estrangeiro e na inserção de Moçambique no mercado regional e internacional. 

“Esta feira vai permitir a internacionalização da economia nacional, a promoção de iniciativas com vista a garantir a integração de Moçambique no mercado da Zona de Comércio Livre Continental e da SADC, a exposição de produtos com potencial de exportação, a promoção de oportunidades de parcerias entre empresas nacionais e estrangeiras, o fomento de negócios em diversos segmentos da economia e a divulgação de iniciativas inovadoras”, afirmou Basílio Muhate.

A edição de 2024 contou com 2.300 expositores nacionais, 750 expositores estrangeiros de 28 países e 65 mil visitantes. Para este ano, as expectativas são ainda maiores.

De acordo com Muhate, a FACIM 2025 deverá acolher 2.350 expositores nacionais, 800 expositores estrangeiros, provenientes de 30 países, além de representantes do setor público e privado das 11 províncias do país. A organização prevê ainda um aumento significativo do número de visitantes, podendo chegar aos 70 mil. 

“Estamos confiantes de que esta sexagésima edição vai bater novos recordes de participação e de impacto económico, tanto pela diversidade de expositores como pelo número de visitantes e pelo volume de negócios a concretizar”, apontou o ministro.

Nesta edição, a África do Sul assume o papel de país de honra, partilhando o destaque com a província de Gaza, que será a parceira institucional da feira.

Segundo o Secretário de Estado da Província de Gaza, Jaime Neto, a região vai aproveitar o evento para promover as suas potencialidades económicas e turísticas.

“Interessa-nos divulgar as potencialidades da Zona Económica Especial, do agronegócio do Limpopo e da enorme biodiversidade de ecossistemas existentes nos parques nacionais de Limpopo e Banhine, bem como nas várias fazendas de bravio da nossa província”, afirmou o governante provincial.

Sendo o distrito anfitrião, Marracuene também prepara-se para acolher a grande movimentação de pessoas e viaturas. O Município garante estar empenhado em oferecer condições adequadas de acesso e acolhimento.

“Pela primeira vez o município envolveu-se de corpo e alma neste projeto. Estamos a atuar em várias frentes: desde a salubridade e limpeza dos espaços até à reabilitação e melhoria das estradas de acesso, para que todos cheguem sem dificuldades ao recinto da FACIM”, garantiu Shafee Sidat, presidente do Conselho Municipal de Marracuene.

A Empresa Municipal de Transporte Público de Maputo (EMTPM) também já anunciou um plano especial de transporte durante os sete dias da feira.

Segundo o Presidente do Conselho de Administração da empresa, Lourenço Albino, serão disponibilizados meios adicionais para assegurar a mobilidade dos visitantes.

“Relativamente aos acessos, esta edição da FACIM está facilitada. Para além da EMTPM, como principal parceira, outros operadores privados vão garantir transporte para o recinto. Teremos autocarros a partir da Baixa de Maputo e do Museu, com cobertura pela Circular e pela N1. Queremos que ninguém fique de fora deste grande evento”, disse Albino.

O gestor adiantou ainda que haverá uma operação especial de transporte durante o período da feira.

“Temos a nossa operação normal que serve a população de Marracuene, mas a partir do dia 25 acrescentaremos operações especiais, com horários ajustados às atividades da feira. O calendário será divulgado antes da abertura oficial”, explicou.

A FACIM é organizada anualmente pelo Instituto para a Promoção das Exportações (IPEX) e constitui o maior evento de negócios do país, reunindo empresas nacionais e internacionais para a promoção de produtos e serviços, bem como para o estabelecimento de parcerias comerciais.

Criada em 1964, a feira começou por ser realizada na baixa da cidade de Maputo, mas desde 2006 passou a ter espaço próprio em Ricatlha, no distrito de Marracuene. Ao longo das últimas seis décadas, consolidou-se como um ponto de encontro obrigatório para empresários, investidores e decisores políticos, sendo também uma plataforma para a internacionalização da economia moçambicana.

A abertura oficial da FACIM 2025 está agendada para o dia 25 de agosto, e será dirigida pelo Presidente da República, Daniel Chapo, que deverá percorrer os principais pavilhões e interagir com os expositores.

Com o lema “60 anos a impulsionar negócios e parcerias”, a feira deste ano reforça o compromisso de Moçambique em promover um ambiente favorável ao investimento, ao comércio e ao desenvolvimento sustentável, num contexto em que o país procura consolidar a sua presença no mercado regional da SADC e no espaço da Zona de Comércio Livre Continental Africana (ZCLCA).

 

Analistas defendem que a actual gestão da Linhas Aéreas de Moçambique deve explicar aos moçambicanos sobre a sobrefacturação das tarifas, que constitui um autêntico roubo. Ainda assim, Hélder Jauana e Alberto da Cruz entendem que a aquisição da nova aeronave é um passo importante para o país. 

O impacto da reestruturação da Linhas Aéreas de Moçambique foi motivo de debate do programa “Ponto de Vista” da Stv, este domingo, com destaque para a aquisição da nova aeronave das Linhas Aéreas de Moçambique.

Para o analista político moçambicano, Hélder Jauana, esta aquisição torna-se num marco histórico para o país. 

“Este é um facto importante porque sucede 18 anos depois, num período em que a LAM está numa crise profunda”, disse Jauana, recordando as promessas do Presidente da República, Daniel Chapo, e da administração da companhia aérea de bandeira, que diziam que até Outubro o país já teria aviões.

“Há uma aeronave, este é um facto que parece marginal, mas não é numa companhia que está envolvida numa crise profunda em que esta Comissão de Gestão está a trabalhar para retirar a companhia desta crise”, disse Hélder Jauana.

Alberto da Cruz, por seu turno, questiona os valores envolvidos na compra da aeronave. “Um Q400 no mercado internacional custa cerca de 27,1 milhões de dólares. Nas aeronaves desse género a depreciação é de cerca de 60%. Quer dizer que em média uma aeronave de segunda mão custa 20 milhões de dólares e depois compras uma Embraer 145-18 que custa 20 milhões e a segunda mão mais uma vez não pode passar de 60%”, questiona. 

Da Cruz questiona “o que é que faz com que um Q400 de segunda mão no mercado normal, que devia custar 20 milhões, custa 6 milhões e com rumores de que devia custar 1,5 milhão”.

 

Comissão de Gestão deve explicar sobrefacturação de tarifas

Em relação à sobrefacturação das tarifas, Hélder Jauana anota que os actuais gestores devem explicar aos moçambicanos. “A gestão anterior deve vir explicar o que é que se passou, porque estes factos remetem-se ao passado. É verdade que quem está a liderar deve ter elementos para explicar e eu espero que, a bem do Dane Kondic, com os dados que os técnicos que a LAM tem e lhe vão fornecer, possa vir explicar o que é que leva àquela inflacção no programa passado”, sugeriu Jauana.

O analista político frisou ainda que a sobrefacturação de tarifas constitui “um assalto aos nossos bolsos”, até porque muita gente paga o bilhete e não olha para o preço. “Eu sempre que pago, compro uma passagem, olho para os valores de cada coisa. É verdadeiramente um assalto, um roubo aos passageiros”, destacou. 

Por isso, Hélder da Cruz entende que deve haver uma reestruturação profunda nas Linha Aéreas de Moçambique.

“Se houvesse uma verdadeira reestruturação, a primeira coisa que se faria é mandar embora todo mundo, pagar as finanças da indemnização a quem precisa dar. É importante que isso seja feito, porque também se olharmos para a LAM, ninguém pergunta quem são os trabalhadores da LAM. Todos eles são agentes que têm alguma ligação política, alguma ligação das elites”, explicou a sua posição.

Para o analista político moçambicano, “aquilo é uma vaca leiteira para alimentar a classe média alta”, sugerindo que se é para fazer a reestruturação da LAM, “é preciso que essa Comissão de Gestão comece a fazer trabalho visível”. 

Ou seja, para Hélder da Cruz “chegar aqui com uma aeronave, para mim cansada, olhando todos os dados que eu tive, isso não era reestruturação”.

Em relação às divergências entre o Governo e a Mozal, os analistas defendem que o  Executivo deve se impor na mesa de negociações. 

 

Afinal a Mozal quer comprar energia da HCB a 48 dólares o MWh contra 64 dólares MWh que a HCB exige. A Mozal está a tentar fugir ao aumento do preço por parte da Eskom de actualmente vende a energia a 37 dólares MWh e quer subir para 91 dólares MWh.

Desde a sua criação a Mozal usa integralmente energia eléctrica fornecida pela empresa sul-africana Eskom a um preço fixo de 37 dólares MWh e sem qualquer relação com a energia da HCB. O contrato termina em Março do próximo ano e os sul-africanos querem aumentar o preço para 91 dólares MWh. por achar achar o valor alto, a Mozal foi bater às portas à HCB na tentativa de mudar de fornecedor.

E porque a Mozal não aceita o preço da HCB está a pressionar o Estado moçambicano, accionista maioritário da HCB para forçar a aceitar o seu preço.

Para o economista Mukthar Abdul Carimo, a empresa está a chantagear o Governo ao ameaçar abandonar o mercado nacional, considerando, no entanto, positiva a postura assumida pelo Executivo.

Muktar diz que o momento é próprio para que Moçambique e a Eskom revejam as suas estratégias de negócio, e a Mozal deve pagar o preço justo pelo serviço requerido. O economista salienta que por muito tempo a multinacional andou a reboque da Eskom que em parte subsidiou a quase cem por cento o preço de energia da Mozal.

Quem também está atento às negociações entre a Mozal e a HCB é o economista Egas Daniel, que diz que o país deve negociar tendo em conta os custos e benefícios.

Horas depois de a multinacional Mozal tornar pública a pretensão de abandonar o mercado nacional caso não consiga renovar o contrato de fornecimento de energia elétrica, O País Económico entrevistou, em exclusivo, o presidente do Conselho de Administração da Hidroelétrica de Cahora Bassa (HCB), Tomas Matola, que explicou os detalhes que norteiam o negócio entre a Mozal e o Estado moçambicano há cerca de 25 anos.

Quanto é que, atualmente, está a ser fornecida de energia à Mozal e quanto é que a contraparte está disposta a pagar?

TM: Bom, primeiro devo esclarecer que a HCB não tem nenhum contrato de fornecimento de energia com a Mozal. A HCB tem um contrato de fornecimento de energia com a Eskom, da África do Sul — portanto, um PPA que perdura desde os primórdios. Como sabem, foi a Eskom, ou a África do Sul, que viabilizou a construção da barragem de Cahora Bassa. Desde então, fixou-se uma tarifa que, obviamente, era muito baixa, até porque, nessa altura, a África do Sul não estava muito interessada na energia da HCB, pois tinha excedentes e não precisava dela.

No entanto, nos entendimentos que houve na altura com o Estado português, aceitou-se comprar a energia, mas a um preço muito baixo. Com o tempo e, depois da reversão, após várias negociações, chegou-se a um contrato que permite a evolução do preço ao longo dos anos. Anualmente, o preço está indexado ao índice de preços no produtor da África do Sul e, de cinco em cinco anos, as partes reúnem-se para negociar um aumento mais significativo.

Por causa disso, o preço foi evoluindo ao longo do tempo e agora já está a um nível que se aproxima da tarifa de mercado.

De quanto estamos a falar?

TM: Estamos a falar de cerca de 6,4 cêntimos de dólar por quilowatt-hora, ou seja, 64 dólares por megawatt-hora. A Mozal, aquando da sua implantação, teve um contrato — um PPA — com a Eskom, para o fornecimento de energia por 25 anos, os quais vencem em março de 2026.

Há alguns anos, a Mozal iniciou conversações, quer com a África do Sul, quer com Moçambique, para assegurar o fornecimento de energia depois de março de 2026. Sucede que a África do Sul afirma não ter qualquer problema em continuar a fornecer energia à Mozal; no entanto, esta terá de pagar um preço justo, ou seja, o preço de mercado, porque, neste momento, estamos numa situação em que o preço que cobramos à África do Sul é superior ao preço que a Mozal aceita pagar.

Qual seria o preço ideal e por que motivo está a haver esta fraca abertura da outra parte para pagar esse preço?

TM: Sinceramente, não sabemos. O mais importante aqui, para esclarecer o público, é que o Governo de Moçambique — portanto, quem é soberano é o Governo — poderá determinar o repatriamento de energia da África do Sul para Moçambique ou não.

O Governo de Moçambique consultou-nos e nós demos o nosso parecer técnico. O nosso parecer é que, havendo vontade do Governo de Moçambique de repatriar a energia da HCB para Moçambique, não temos qualquer problema, desde que a Mozal aceite pagar, pelo menos, as mesmas condições que a Eskom paga atualmente.

A Eskom, recentemente, mudou de nome devido a uma reestruturação e agora chama-se Anti-CSE, a empresa de transmissão da África do Sul. Do nosso lado, o que dizemos é que, havendo essa decisão, não há problema desde que a Mozal aceite pagar as mesmas condições que a Eskom e aceite a evolução do preço, tal como está previsto no PPA.

A HCB enfrenta muitos desafios. Primeiro, o parque eletroprodutor está obsoleto e precisa de ser reabilitado urgentemente. Estamos nesse processo.

Por outro lado, quer a HCB, quer o Governo, comprometeram-se a tornar-se uma referência no fornecimento de energia na região, e a HCB tem um papel crucial nisso, devido à sua robustez. Significa que a HCB tem de desenvolver projetos de expansão, já em curso, nomeadamente o projeto de Pernambuco, a Central Norte, e um projeto de 400 megawatts de energia fotovoltaica.

Para tudo isso — tanto para os projetos de reabilitação como para os de expansão — são necessários avultados recursos financeiros. Ainda que a HCB seja robusta, não tem capacidade, com o seu balanço, para financiar esses projetos. É justamente por isso que terá de se financiar nos mercados internacionais.

No seu Plano Estratégico 2025-2034, as projeções foram feitas tendo em conta as condições de preços previstas no PPA com a África do Sul. Qualquer alteração nesses pressupostos tornará todos os projetos da HCB inviáveis. E o compromisso do país de se tornar uma referência no fornecimento de energia elétrica na região ficará em causa.

A Mozal considera o preço sugerido pela HCB como insustentável para a sua atividade. Há ou não possibilidade de encontrar um meio-termo?

TM: Qualquer possibilidade do Governo moçambicano aceitar as condições da Mozal significará que a HCB estaria a subsidiar a Mozal, ou seja, a reduzir as suas receitas para financiar a empresa. Mais do que isso, não seria apenas o Estado moçambicano: a HCB tem capital aberto. O Estado moçambicano detém 85% das ações; 7,5% pertencem ao Estado português, representado pela REN; e há mais de 17 mil investidores institucionais e particulares que detêm 3,5%.

Isto significa que todos esses acionistas — o Estado moçambicano, o Estado português e os 17 mil investidores — estariam a subsidiar a Mozal, e teriam o direito de se pronunciar. Assim, ainda que a decisão seja do Governo, teríamos de ir à Assembleia Geral para consultar os restantes acionistas sobre se aceitam ou não.

Outro ponto é que a Mozal quer mais energia. Está atualmente a ser fornecida com 350 MW, mas afirma precisar de 950 MW para o seu bom funcionamento.

Há capacidade para fornecer toda essa energia à Mozal?

TM: Neste momento, não estamos a fornecer nenhuma energia à Mozal. A nossa energia é fornecida à Eskom, à luz do PPA que temos. A energia que a Mozal recebe vem também da Eskom, através do PPA com eles. Qualquer alteração só poderá ocorrer a partir de março de 2026.

O lado sul-africano teria de ceder os seus direitos e obrigações sobre o PPA para Moçambique, para que Moçambique possa vender essa energia à Mozal. O PPA com a África do Sul está em vigor até 2030, o que significa que teria de ser interrompido para garantir a disponibilidade de energia para Moçambique e, assim, para a Mozal.

Mas a HCB tem capacidade para aumentar a quantidade de energia fornecida? Não. Estamos a passar por uma crise de armazenamento devido a uma seca severa que atinge a região do Zambeze há cerca de dois anos. Estamos com um nível de armazenamento de 23% a 24%.

Tivemos de reduzir a produção, em janeiro deste ano, em cerca de 33%. Dos mais de 15 mil gigawatts produzidos até 31 de dezembro do ano passado, reduzimos para cerca de 10,3 mil.

Como as previsões para a segunda parte da época chuvosa não se concretizaram, fomos obrigados a continuar a reduzir, para garantir que, até dezembro ou até ao início da próxima época chuvosa, o nível de armazenamento fique entre 19% e 20%. Isto assegura que, mesmo que continue sem chover, possamos garantir um fornecimento mínimo de energia nos próximos dois ou três anos.

Além disso, vamos iniciar em breve o processo de reabilitação dos grupos geradores, o que implica desligar um grupo de cada vez. Segundo os especialistas, a reabilitação de um grupo levará entre 12 e 13 meses. A reabilitação dos cinco grupos demorará entre cinco e seis anos. Durante esse período, teremos menos 415 MW de capacidade, equivalente à de um grupo gerador.

Assim, juntando a redução da produção por causa da seca e a redução de 415 MW pela reabilitação, ficamos com menos de 500 MW para entregar à Mozal. Em resumo, não haverá capacidade para fornecer os 950 MW que a Mozal procura.

Mesmo assim, é importante explicar que a EDM não pode ficar afetada. Sempre que reduzimos a produção, o cliente afetado são as exportações e, consequentemente, as nossas receitas. O que torna a HCB uma empresa robusta são as exportações; por isso, quando há reduções, há impacto direto nas receitas, mas a EDM mantém-se abastecida.

E, como a procura de energia cresce localmente, os consumos da EDM também aumentam, reduzindo ainda mais a disponibilidade de energia para exportação.

 

A crise no financiamento está a minar o desenvolvimento do sector de transportes de passageiros em Moçambique, alerta Jorge Manhiça, porta-voz da Federação Moçambicana das Associações dos Transportadores Rodoviários (FEMATRO). Segundo o dirigente, tanto o transporte urbano como o interprovincial enfrentam dificuldades crescentes para obter crédito, situação que tem mantido veículos parados nas oficinas e travado investimentos.

“Actualmente, nem a banca quer financiar transportadores urbanos. Na área interprovincial, o acesso ao crédito também se tornou restrito”, denuncia Jorge Manhiça. “Temos mais de 150 autocarros parados nas oficinas, a precisar apenas de pequenos reparos para voltarem a operar. Falta um plano de transporte bem estruturado para impedir que continuemos a investir e, poucos anos depois, regressemos à estaca zero.”

O porta-voz recorda que empresários moçambicanos chegaram a investir em autocarros modernos para o transporte de passageiros, mas as más condições das estradas, especialmente ao longo da Estrada Nacional Número 1, têm elevado os custos e reduzido o retorno. “Quando um autocarro sai de Maputo para o centro ou norte, muitas vezes chega ao destino com danos mecânicos graves. Isso é consequência da falta de infraestruturas”, lamenta.

Além da degradação das vias, Manhiça aponta para a ausência de terminais adequados nas zonas metropolitanas, situação que dificulta a logística e reduz a rentabilidade das operações. “Na cidade de Maputo existem alguns terminais, mas em áreas como a Matola, Marracuene e Boane praticamente não há. Isso impacta diretamente o funcionamento e a organização do transporte”, afirma.

Para o engenheiro de transportes Nelson Mabucanhane, embora as dificuldades do sector sejam visíveis, muitas das suas causas estão fora dele. O especialista defende que a falta de planeamento urbano e o crescimento populacional desordenado têm impacto direto na ineficiência dos transportes.

“A ineficiência que vemos no sector dos transportes muitas vezes não é gerada dentro dele, mas por outros factores. Quando as pessoas se instalam em zonas sem infraestrutura, o governo acaba por correr atrás para levar serviços, e o transporte fica sobrecarregado”, explica.

Mabucanhane critica a chamada “abordagem tradicional” centrada na compra de novos autocarros como solução para os problemas. “Temos de gerir a procura, descentralizando pólos de geração de viagens como universidades e mercados. Assim, evitamos que os veículos façam trajectos unidireccionais e circulem vazios no regresso, o que gera desperdício e custos adicionais”, propõe.

Outro ponto levantado pelo engenheiro é o congelamento das tarifas de transporte urbano na região metropolitana desde a década de 1990. “Quando se congela a tarifa, inviabiliza-se o sector privado. O governo promete subsídios, mas não cumpre. É preciso liberalizar os preços para que o operador possa cobrir custos e gerar lucro”, argumenta.

O economista Clésio Foya concorda com a necessidade de reformas estruturais, mas sustenta que, sem estradas, terminais e infraestruturas de apoio, qualquer política de gestão será limitada.

“O governo deve priorizar a modernização das vias de acesso e das infraestruturas de transporte. Estradas em boas condições reduzem custos operacionais e beneficiam diretamente os passageiros, que terão tarifas mais acessíveis”, afirma.

Foya defende também a criação de indústrias locais de peças sobressalentes e parcerias estratégicas com fabricantes internacionais para garantir a sustentabilidade do sector. “Podemos fazer acordos com concessionárias para instalarem fábricas no país, produzindo pneus e componentes essenciais. Isso reduz a dependência externa e aumenta a competitividade interna”, explica.

Para o economista, tais medidas teriam efeito multiplicador sobre a economia, gerando empregos, reduzindo custos e estimulando novos investimentos privados.

Nas últimas intervenções públicas, membros do Executivo têm informado que as negociações estão em curso e que o objectivo é que a energia seja comprada em Moçambique.

Nesta derradeira fase de negociações entre o Governo e a Mozal sobre o fornecimento de energia elétrica para aquela que é considerada uma das maiores indústrias do país, o Executivo advoga uma mudança no modelo do negócio. Se nos termos actuais, a energia é vendida pela Eskom, Moçambique pretende que a compra seja feita à Hidroelétrica de Cahora Bassa, tal como explicou no dia 15 de Julho passado, o porta-voz do Conselho de Ministros, Inocêncio Impissa. 

“Hoje a contratação é feita de forma directa e o que se pretende é introduzir o player, que é a EDM, que é a entidade responsável pela comercialização da energia produzida pela nossa hidroelétrica. E há aqui elementos que têm que ser fechados para o efeito, então tem que haver uma transição entre o actual fornecedor desta energia para a EDM, para a EDM poder fazer o braço comercial deste negócio. Nós estamos em negociações”, disse.

Mas essa transição não tem sido consensual entre o Governo e a Mozal ao longo dos últimos seis anos de negociações. No dia 28 de Julho passado, o Secretário Permanente do Ministério dos Recursos Minerais e Energia explicou que o que estava também em causa é a tarifa de venda. 

“Como sabe, em 2026 termina o contracto existente com o Mozal e, em princípio, nós devemos fornecer, a própria HCB tem que fornecer energia. Tem capacidade para fornecer, mas estamos agora a discutir a questão das tarifas. Tanto a HCB como a EDM são empresas do Estado, então uma delas pode fornecer”. 

Ontem, quinta-feira, o assunto foi colocado ao Ministro da Economia. Basílio Muhate ainda não tinha conhecimento do posicionamento da Mozal mas assegurou que o Governo resolveria a situação por meio de conversações. 

“Nós vamos conversar com a Mozal para perceber efectivamente o que pode estar a acontecer e como é que nós, como Governo, podemos colaborar para que a entidade continue a trabalhar ou encontrar uma saída para que mantenhamos a economia dinâmica e aquela actividade que é desenvolvida pela Mozal, seja desenvolvida por ela ou pela fórmula que o governo encontrar”.

Mozal com mais de 25 anos de isenções fiscais 

A instalação da Mozal em Moçambique foi aprovada pelo Governo em 1996 e o contrato de fornecimento de energia, através da Eskom, em 1997. Nos termos do Decreto 45/97, a Mozal tem uma série de incentivos fiscais, entre os quais, lucros isentos de contribuição industrial e do imposto complementar, trabalhadores isentos de pagamento de IRPS, isenção do pagamento de direitos na exportação de mercadorias, direito de receber e expatriar 100% dos seus dividendos.

Dados da Conta Geral do Estado de 2024, indicam que a Mozal, não pagou dividendos ao Estado moçambicano naquele ano. Em 2022, a Mozal tinha pago 839 milhões de Meticais e em 2023 274 milhões de Meticais.

Reações

Fátima Mimbire – Sociedade Civil

A Mozal tem de parar de chantagear o povo moçambicano. Não pode a Mozal achar que 25 anos depois, os termos, digamos, de taxas de energia que pagava permanecem as mesmas. Já naquela altura havia uma crítica muito grande porque a energia era gratuita. Então nós não podemos continuar a dar energia gratuitamente a um projeto que tem uma contribuição fiscal muito pequena. E mais, a Mozal tem um acordo com o Governo de 50 anos e estamos a falar aqui de negociação ligada ao fornecimento de energia. E o ponto central é chegar-se a um acordo sobre os termos em que a Mozal vai ter acesso à energia. Se a Mozal quiser deixar o país por causa das condições de energia, vai ter que haver consequências jurídicas inerentes. Porque há um acordo de 50 anos que não condiciona a existência de tarifas baixas para a Mozal no que diz respeito à energia para continuar a operar no nosso país.

Rui Mate- Economista do CIP

Para que nós possamos entender a posição da Mozal, o mais importante seria a Mozal nos apresentar qual é o peso da energia nos seus custos de operação. Como é que está o custo da sua operação, como é o nível de facturamento, para que se possa perceber se faz sentido esta demanda da Mozal querer manter um certo nível de preço de energia.

Mas quando a gente olha assim que já ameaçou, pelo que percebemos, a partir de hoje diz que começaria de forma gradual a parar as suas atividades. Isto é uma pressão que está sendo feita ao governo. São cerca de 5 mil empregos directos que podem ser perdidos, são cerca de 27 mil empregos, de acordo com a sua comunicação, indiretos, que também podem ser perdidos.

Então está-se a pressionar o governo para que faça uma cedência. Mas, ao final do dia, o governo também tem que fazer uma análise do custo-benefício.

O grupo South32, acionista maioritário da Mozal, alerta que a multinacional poderá suspender atividades e encerrar as portas nos próximos meses caso, até março, não consiga a prorrogação do contrato de fornecimento de energia elétrica. Para além da redução da quantidade fornecida pela Hidroelétrica de Cahora Bassa (HCB), a empresa teme que uma eventual atualização do preço torne as operações economicamente insustentáveis.

Há seis anos que a Mozal mantém negociações com o Governo de Moçambique para a renovação do contrato de fornecimento de energia elétrica destinado às suas operações. Contudo, a oito meses do prazo final, o consenso ainda parece distante. Após vários comunicados de imprensa, esta quinta-feira a multinacional abriu-se à comunicação social e revelou que poderá suspender as atividades no país devido à falta de entendimento com o Executivo.

“Sem este contrato de energia, esperamos operar a fábrica até ao fim do contrato, em março de 2026, e depois disso colocá-la numa situação de manutenção e preservação. Não iremos fazer nenhum investimento na Mozal e, como parte desta medida, iremos interromper algumas atividades, nomeadamente as limpezas nos equipamentos da sala de fundição”, explicou o presidente do Conselho de Administração da Mozal, Samuel Samo Gudo, acrescentando que a desmontagem de parte do equipamento já está em curso.

A Mozal necessita de 950 megawatts para operar, mas, neste momento, a HCB apenas consegue fornecer 350 muito aquém do necessário. Perante este cenário, a empresa afirma estar a explorar alternativas noutros mercados para garantir fornecimento temporário.

“Provavelmente, há alguns aspetos a considerar. Um deles diz respeito aos 350 megawatts necessários durante os próximos dois anos. Conseguiremos um preço competitivo? Se sim, será necessário falar com a Eskom para verificar se consegue fornecer o restante da energia de que a Mozal necessita, a um preço semelhante, durante esse mesmo período. Vemos o papel da Eskom como uma solução de curto prazo. Assim que a Cahora Bassa recuperar da seca, a HCB terá capacidade para fornecer energia suficiente à Mozal”, explicou Graham Kerr, CEO da South32.

Outra preocupação da empresa está relacionada com o custo da tarifa de energia, que representa cerca de 30% do valor de produção. Uma atualização do preço poderá comprometer a viabilidade económica da operação.

“A fundição de alumínio está a tornar-se um negócio global. Atualmente, a Mozal já se encontra no terceiro quartil do custo transfronteiriço. A eletricidade representa cerca de um terço desse custo. Cerca de 50% do custo de uma fundição corresponde a matérias-primas como alcatrão, coque e alumina. Há, portanto, margem para a Mozal melhorar a sua posição em termos de custos, mas o custo da energia é, de facto, um fator crucial”, sublinhou.

A posição assumida pela Mozal deixa claro que a alegada alteração na taxa de aquisição, tal como refere o comunicado da própria empresa, tornado público no final desta quinta-feira, é motivo de preocupação. De acordo com o documento, a empresa afirma que “não é viável para a Mozal operar sob a tarifa que foi indicada, pois isso tornaria a Mozal internacionalmente não competitiva. Além disso, a HCB indicou que as condições de seca têm o potencial de afetar a sua produção de eletricidade e a sua capacidade de fornecer energia suficiente à Mozal.”

Entretanto, a multinacional mantém a esperança de, no decorrer das negociações, alcançar um consenso com a parte moçambicana. “Continuamos confiantes de que surja uma solução viável que permita à Mozal operar para além de março de 2026 e manter a sua contribuição substancial para Moçambique”, afirmam os accionistas maioritários da empresa.

A empresa, que absorve 30% da capacidade industrial da província de Maputo, alerta que a sua eventual saída do país poderá resultar na perda de 5 mil empregos diretos e mais de 27 mil indiretos. 

Responsável por aproximadamente 3% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, a Mozal é um dos maiores empregadores industriais do país, com um peso financeiro de mais de 43 mil milhões de meticais. Além disso, o Estado moçambicano, detentor de 3,9% do capital social, recebe dividendos da operação.

Segundo a Conta Geral do Estado, em 2022 a Mozal pagou 839,8 milhões de meticais em dividendos, valor que caiu para cerca de 274 milhões de meticais em 2023. Em 2024, a empresa não distribuiu dividendos devido aos prejuízos registados.

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