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A África debate-se com uma grande crise referente à falta de acesso a cozinha limpa, que afecta 1,2 mil milhões de pessoas em todo o continente e leva a mortes prematuras anualmente. Os líderes políticos africanos e parceiros reforçaram, nesta terça-feira, a necessidade de mais investimento para o alcance de uma solução.

A sessão da Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas do corrente ano (COP29) sublinhou a necessidade de soluções inovadoras e colaboração para oferecer opções de cozinha seguras e sustentáveis às comunidades africanas.

Cerca de 83% da população na África subsaariana depende de combustíveis tradicionais de biomassa, o que tem graves repercussões na saúde, no ambiente e na economia. A dependência de combustíveis poluentes custa aproximadamente 791,4 mil milhões de dólares por ano, sendo os impactos relacionados com a saúde estimados em 526,3 mil milhões de dólares.

O vice-presidente da Tanzânia, Philip Mpango, diz ser inaceitável que as mulheres continuem a morrer por não terem acesso a soluções de cozinha limpa. Philip Mpango apelou ainda para que se dê prioridade aos investimentos em infra-estruturas de cozinha limpa e se apoiem “políticas que permitam o acesso de todos a soluções de cozinha sustentáveis e a preços acessíveis. Isto é essencial, não só para a saúde, mas também para o desenvolvimento económico e a sustentabilidade ambiental”.

A preocupação com a salvação do ambiente é tão grande que o director da Comissão Africana de Energia (AFREC), Rashid Abdallah, anunciou o lançamento do Programa Africano de Cozinha Limpa, destinado a criar um plano de acção para melhorar o acesso à cozinha limpa em todo o continente.

“Procuramos criar uma plataforma em que os Estados-membros possam aprender uns com os outros e partilhar as melhores práticas”, disse Rachid Abdallah, que apresentou também os resultados do novo relatório “Sustainable Scaling: Meeting the Clean Cooking Challenge in Africa”.

Segundo o documento, cerca de mil milhões dos 2,3 mil milhões de pessoas sem acesso a cozinha limpa em todo o mundo encontram-se em África e o continente perde anualmente cerca de 3,9 milhões de hectares de floresta devido a práticas de cozinha não sustentáveis.

Em corroboração com os resultados apresentados pelo relatório de Abdallah, Kevin Kariuki, vice-presidente do Grupo Banco Africano de Desenvolvimento para a Electricidade, Energia, Clima e Crescimento Verde, reagiu dizendo que cozinhar de forma limpa não é apenas uma questão de saúde, é uma questão de dignidade humana.

“Não podemos permitir que as nossas irmãs e mães sofram em silêncio enquanto temos o poder de mudar esta situação. Temos de mobilizar pelo menos 4 mil milhões de dólares por ano para alcançar o acesso universal à cozinha limpa até 2030”, avançou Kevin Kariuki.

Em Maio de 2024, numa cimeira realizada em Paris, o presidente do Banco Africano de Desenvolvimento, Dr. Akinwumi Adesina, comprometeu-se a atribuir 20% do financiamento do banco a projectos energéticos que promovam alternativas de cozinha limpa, ajudando a garantir 2,2 mil milhões de dólares em compromissos dos sectores público e privado para melhorar as práticas de cozinha em toda a África.

As discussões no fórum da Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas   enfatizaram a integração da cozinha limpa em estratégias mais amplas de acesso à energia para garantir que nenhum africano seja deixado para trás na mudança para a energia sustentável.

Fatih Birol, director-executivo da Agência Internacional de Energia, apelou a uma acção de colaboração. “Temos o conhecimento e as ferramentas para fazer a diferença. É imperativo que nos unamos, governos, sector privado e sociedade civil, para implementar soluções inovadoras que garantam que todas as famílias tenham acesso a uma cozinha limpa. Não se trata apenas de uma questão de saúde, trata-se de criar um futuro sustentável para todos”, afirmou.

Damilola Ogunbiyi, directora-executiva e representante especial do secretário-geral das Nações Unidas para a Energia Sustentável para Todos, salientou a urgência, referindo as dificuldades diárias enfrentadas pelas mulheres que passam horas a recolher combustível e sofrem com a poluição do ar interior. “Temos de garantir que as soluções de cozinha limpa cheguem a todos os cantos de África para proteger a vida das mulheres e das crianças”, avançou.

 

A empresa Aeroportos de Moçambique registou mais de um milhão de passageiros de Janeiro a Outubro deste ano. Os referidos níveis de tráfego são iguais aos atingidos em todo o ano de 2023, número que anima os gestores das infra-estruturas públicas.

O país tem observado um aumento significativo de viagens domésticas e internacionais por via aérea. O número global de passageiros no transporte aéreo em Moçambique aumentou de 1 649 901, em 2022, para 1 974 523, em 2023, de acordo com um relatório da Autoridade de Aviação Civil de Moçambique (IACM), divulgado, na altura, pela instituição.

“O aeroporto atingiu, de Janeiro a Outubro, os níveis de tráfego iguais aos atingidos em todo o ano de 2023, o que significa que apenas nos três primeiros trimestres deste ano conseguirmos atingir os níveis atingidos em 2023, o que demonstra uma clara retoma da economia quanto à entrada de passageiros no nosso país”, apontou Saide Júnior, administrador dos Aeroportos de Moçambique.  

O aumento de fluxo de passageiros foi devido à revitalização de algumas áreas específicas, segundo explica o administrador. “O incremento é justificado pelo aumento das frequências das companhias e introdução de voos da nossa companhia de bandeira para Lisboa e mais outras companhias”, explicou Saide Júnior.

O responsável falava esta quarta-feira, no âmbito da inauguração de novos portões electrónicos (e-Gate) no Aeroporto Internacional de Maputo, que vão conferir uma maior flexibilidade no atendimento dos passageiros, prevenção e combate ao crime organizado e transnacional. A efeméride foi dirigida pelo ministro do Interior, Pascoal Ronda que, na ocasião, explicou que “os equipamentos também vão permitir identificar casos de indivíduos envolvidos ou implicados em crimes transfronteiriços ou com antecedentes criminais, ou se a pessoa é procurada num outro país”. 

O ministro do Interior referiu, ainda, que os mesmos visam o controlo de passageiros e contêm um chip especialmente desenvolvido para o sistema de segurança que permite aos passageiros realizar o movimento migratório sem perturbação nenhuma, ou seja, intervenção directa dos funcionários do Serviço Nacional de Migração (SENAMI).

“O passaporte em si traz dados. Esses dados vão para o campo de dados para certificar quem é esta pessoa, se é procurada num outro país, se teve antecedentes que o impedem de circular, este equipamento é um reforço à nossa capacidade de segurança”, referiu.

Os Portões Electrónicos poupam de três minutos para 28 segundos.

Pascoal Ronda explicou que só o Aeroporto Internacional de Maputo assiste anualmente cerca de 2784 voos, o que corresponde a 58 voos semanais. A nível de movimento de pessoas, o Aeroporto registra anualmente a passagem de cerca de 270 427 viajantes nacionais e estrangeiros, dos quais 137 582 entrados e 132 845 saídos.

É tendo em conta os dados acima indicados, bem como a necessidade de fortalecer as medidas de segurança com vista a combater a criminalidade organizada e transnacional, caracterizada por uma crescente globalização das suas diferentes formas de manifestação que o Governo instalou o equipamento referido.

Os sectores do comércio, logística, transporte e restauração são os mais afectados pelos efeitos das manifestações pós-eleitorais, com perdas acumuladas de cerca de 24, 8 mil milhões de Meticais, segundo dados apresentados esta terça-feira pela CTA. Em mais um encontro de avaliação dos impactos e desenho de soluções, o sector privado apresentou um documento com propostas de soluções a ser submetido ao Conselho de Ministros.

As manifestações pós-eleitorais em vigor no país continuam a dizimar a economia, com os sectores de comércio, logística, transporte e financeiro, mais penalizados. De acordo com os dados da CTA, só em 10 dias, houve perda de cerca de 24,8 mil milhões de Meticais, por vandalização, paralisação de serviços e falha nos sistemas electrónicos.

Como fruto de saque e vandalização de lojas, a CTA avança que 12 estabelecimentos comerciais se fecharam parcialmente, sendo 11 em Maputo e um em Tete. Os prejuízos das manifestações poderão ter grande impacto no alcance das metas e crescimento económico que para já se estima em 2,2, longe dos 5,5 por cento projectados inicialmente para ano Económico 2024.

Neste sentido, a Confederação das Associações Económicas de Moçambique propõe a isenção do IVA em produtos como açúcar, sabão e ovo, como forma de aliviar a pressão nos consumidores e importadores. Ademais, o sector privado sugere “a remoção do IVA nos óleos e sabões e açúcar, frangos e ovos que sãos produtos básicos principalmente para a população desfavorecida; moratória fiscal com diferimento de prazos; Isenção do pagamento de encargos resultantes do atraso do pagamento de obrigações fiscais; simplificação e flexibilização de auditorias pós desembaraço aduaneiro nas principais fronteiras e portos.”

No sector administrativo e laboral, o sector privado entende a “necessidade da isenção de multas e juros por atraso de pagamento ao INSS tanto a parte do trabalhador com a do empregado Igualmente, a flexibilização dos prazos expirados de documentação vistos e autorizações, em instituições, como o Serviço Nacional de Migração, bem como o reforço da segurança de património público e privado e a criação de corredores de segurança ao longo das principais vias, de forma a assegurar o transporte de bens e pessoas nos principais entrepostos comerciais”.

Face à situação, o sector privado decidiu avançar com a criação de medidas de mitigação, que serão submetidas ao Governo dentro de dias.

O país perdeu quase 400 milhões, devido ao funcionamento “a meio gás” da Fronteira de Ressano Garcia e posterior encerramento, segundo informações avançadas pelo porta-voz da Autoridade Tributária, Fernando Tinga.

Foi reaberta, hoje, a Fronteira de Ressano Garcia, após o encerramento temporário que se registou nos dias 6 e 7 de Novembro, em resultado da vandalização das infra-estruturas, no contexto das manifestações pós-eleitorais. 

O porta-voz da Autoridade Tributária, Fernando Tinga, explicou que o encerramento da fronteira teve impactos negativos na economia do país, uma vez que “muitos estabelecimentos estavam fechados e alguns com escassez de produz, sobretudo, os que são importados da África do Sul e passam pela Fronteira de Ressano Garcia”. 

Fernando Tinga avançou ainda que a meta mensal para o mês de Novembro é de 1,7 mil milhões de meticais, e “se nós fracionarmos 1,7 mil milhões por dia, dá uma cifra de 50 milhões. Podemos imaginar que foram oito dias, se calhar, então, as perdas andam, mais ou menos, em torno de 400 milhões meticais”.

Tinga disse ainda que foram criadas condições de segurança nos dois lados da fronteira, para o trânsito na fronteira.

“Quando se fala de segurança, fala-se da segurança em relação à circulação dos indivíduos, dos meios, da carga e das mercadorias de forma geral. Portanto, ao longo daquele corredor foram criadas condições para que todos aqueles que transitarem, possam fazê-lo sem que ocorram situações anómalas de violação a segurança, que é devida a qualquer cidadão”, explicou. 

O porta-voz afirmou que a Fronteira de Ressano Garcia volta a funcionar em pleno, tendo sido restabelecidos o sistema e a segurança. 

 

O Governador do Banco de Moçambique, Rogério Zandamela, diz que a actual situação económica, marcada por paralisação de actividades, não é uma coisa nova para o Banco Central e que já previa os acontecimentos. Zandamela diz que ainda está a avaliar os impactos das manifestações, mas, neste momento, as perspectivas económicas são positivas. 

Durante a abertura do Conselho Consultivo do Banco de Moçambique, Rogério Zandamela lamentou a perda de vidas humanas em todo país, na sequência das manifestações pós-eleitorais. Zandamela diz que, desde o início do ano, têm estado a falar dos “riscos domésticos”, incluindo os riscos ligados às eleições. 

“Temos estado a falar de riscos e incertezas, também a nível externo, até ligados às eleições. Então, não é uma coisa nova para o Banco de Moçambique. Temos estado a acompanhar o que está a acontecer  no nosso sistema. As nossas projecções já têm vindo a incorporar esses riscos e essas incertezas”, disse.

O Governador do Banco de Moçambique disse também que  o Banco Central foi conservador nas suas projecções, porque tinha em consideração os vários riscos. “Por enquanto, na base daquilo que sabemos hoje, de como esses riscos estão a correr e se estão materializando, acreditamos que as perspectivas da nossa economia, as perspectivas do nosso sistema … é que as perspectivas da nossa economia são positivas”. 

O Presidente do Mukhero (Associação de Pequenos Importadores Informais de Moçambique), Sudekar Novela, alerta que o país pode enfrentar escassez de alguns  produtos de primeira necessidade na quadra festiva sobretudo a batata, cebola e o tomate, caso as manifestações convocadas por Venâncio Mondlane se prolonguem por mais dias. 

Vamos falar acerca da disponibilidade de alimentos num contexto em que temos paralisações sucessivas de atividades. Sabemos que a Associação Mukhero reúne vários comerciantes que importam produtos de forma informal de vários países para comercializar no país. Bem-vindo, Sudekar, a este espaço.

A primeira questão que eu coloco é: de que forma é que esta paralisação de atividades ou estas manifestações que estamos assistindo no país estão a afetar aquela que é a vossa actividade? 

Muito obrigado. Boa tarde!

Bom, sempre que há manifestações dessa natureza, ou seja, de qualquer forma, as manifestações sempre afectam diretamente as nossas actividades, e, naturalmente, de forma negativa, porque, enquanto houver manifestações, é impossível a importação de bens dos países vizinhos para o nosso. Neste caso concreto, estamos a deparar com dificuldades de movimentação de mercadorias dos países vizinhos para Moçambique, como de Moçambique para fora do país. Desde que estas manifestações começaram no dia 21, 24 e 25 do mês passado a esta parte , estamos a enfrentar dificuldades de importações de mercadorias por conta do medo que paira entre nós, tanto para os comerciantes como, também, para os clientes. Não é fácil enfrentar manifestações à busca de algum produto no mercado ou à venda do produto no mercado por conta do medo que se instalou no país por causa das manifestações. Portanto, é isto que me ofereço dizer, que neste preciso momento temos dificuldade de trazermos mercadorias para o país, como também o consumidor tem medo de se deslocar ao mercado grossista do zimpeto, por exemplo, ou para qualquer outro mercado que pretender porque terá que atravessar ruas para chegar a qualquer mercado. Como sabem, todo lado quase que está em um dado dos manifestantes. 

Apontou aqui um dos constrangimentos, que é esta questão do medo que as pessoas têm tanto para ir às suas bancas, aos seus locais de trabalho para comercializarem produtos, mas, também, o medo por parte dos consumidores. Há aqui um outro aspecto, que é o corte da internet que estamos a assistir no nosso país. Até que ponto este corte está a afectar o processo de desembaraço aduaneiro? Será que aumentou o tempo de espera para fazer os despachos das vossas mercadorias? 

Sem dúvida! Sem dúvida! É o que temos assistido, chegado na fronteira, por exemplo, dos dias anteriores que se observou esta manifestação, alguns camiões se encontravam do outro lado da África do Sul, mas quando anunciamos que nos dias subsequentes já não havia manifestação, podiam entrar, enfrentamos esse problema, portanto o corte da internet, que é determinante  para efeito do desembaraço aduaneiro. Quando não há internet, tudo fica parado, os bancos, uma gama de trabalho que deve ser feito via internet, tudo fica bloqueado, por tanto, esse é o outro grandíssimo problema que nós estamos a enfrentar.

Diante desta situação, vocês como importadores de mercadorias têm compromissos com os fornecedores. Como é que está a ser essa relação com os vossos fornecedores a estas alturas? 

O relacionamento continua activo, só que já não há aquela fluidez tanto na compra como na movimentação dos caminhões que trazem a mercadoria. Como podem ver, em algum momento, por exemplo, temos que dizer, olha, parem deste lado, uns 4 ou 5 quilômetros da fronteira, do lado sul-africano. Temos que mandar parar os caminhões para não entrarem e chegar no quilômetro 4, para evitar grandes congestionamentos por falta da internet. Então, é mais preferível que fiquem do outro lado, até que a situação se restabeleça.

E qual é a comparação que faz nesse tempo de espera? Como é que era antigamente? Quanto tempo, por exemplo, um caminhão ficava à espera para fazer esse desembaraço aduaneiro? E quanto tempo espera actualmente por causa dessa situação que está existindo no país? 

Olha, antes dessa situação, o tempo de espera era, por aí, devido à burocracia em si, cerca de 5 horas de tempo, mas agora, espera-se mais que isso, se não dias, porque dá-se a situação de o camião entrar numa altura em que a internet disponível é lenta ou não existe.

Como consequência, dessa lentidão, os camiões ficam mais tempo do que o normal, ficam um a dois dias. 

A estas alturas, já é possível calcular os prejuízos que esta situação está a trazer aos importadores informais de mercadorias?

Bom, os prejuízos são enormes porque, como sabe, muitas das vezes a batata em si, e os sacos em que são ensacadas, produzem calor por dentro. Só dá mesmo, depois do carregamento, no máximo ter um dia de passagem até ao mercado grossista de Zimpeto para ser vendido. E não acontecendo, tendo que ficar um ou dois dias na fronteira, não importa de que lado, e chegar no mercado, não haver rapidez da sua venda por falta de clientes, então, acaba ficando três, quatro, cinco dias, e aí, a batata apodrece porque é um produto muito frágil, facilmente deteriora-se diferentemente de outros produtos que, pelo menos, aguentam um pouco mais.

E é possível quantificar a estas alturas, em termos de quantidades perdidas, por exemplo, da batata, do tomate e de outros produtos, em termos de dinheiro concreto que está a ser perdido? 

Para isso, seria preciso entrar em contato com cada um dos importadores para dizer que quantidades perdeu e o que significam essas quantidades em termos de dinheiro. Só que ainda não fizemos. Mas, penso que nos próximos dias podemos fazer esse levantamento para sabermos mais ou menos quanto é que em dinheiro se perdeu por causa desta situação.

Falou aqui de um aspecto logo no início desta nossa conversa, que é o medo que existe por parte dos importadores de mercadorias. Como é que tem sido o protocolo do transporte da mercadoria, das fronteiras nacionais, para o local de venda? Mudou alguma coisa? 

Não. As viaturas que transportam mercadorias continuam a circular normalmente. Não há nenhuma escolta. Pensamos nós também, não há necessidade. Só que há sempre este medo porque a manifestação popular é diferente de uma manifestação de um grupo ou de uma classe de profissionais, dado que estes conseguem controlar o seu grupo, conseguem controlar os ânimos, quanto a manifestação popular, como o nome diz, junta diversas pessoas, diferentes. A forma como as manifestações devem ser feitas, acabam mesmo aparecendo pessoas que mexem com bens públicos e privados. Então, este é o medo que se tem, porque, na verdade, não há nenhum problema para trazer para o país mercadorias, porque todos precisamos. No fim do dia, no fim da manifestação, todos precisamos de termos alguma coisa em casa para comer. Então, não vemos qualquer perigo, mas acabamos, mesmo assim, tendo medo de circular justamente por causa do comportamento de algumas pessoas mal intencionadas nas manifestações. 

Neste contexto todo, os importadores informais que fazem parte dos Mukheristas, como vulgarmente tem se chamado, já têm registro destes assaltos nas suas bancas ou lojas? 

Bom, já ouvimos que há alguns assaltos por aí, há algumas barracas, mas ainda não em grande número. Por exemplo, aqui em Maputo ainda não registamos, mas nas províncias, por exemplo, já acompanhamos que houve vandalização de algumas barracas, mas quero acreditar que talvez tenham alguma ligação, as pessoas conhecem perfeitamente de quem é por aí em diante. Entretanto, por enquanto, em Maputo ainda não há relatos.

E já existe algum trabalho no sentido de reforçar a segurança para que estas situações não se expandam para os outros comerciantes? 

Bom, nós em termos de segurança não temos nada a dar, isso extravasa a nossa capacidade. A segurança é como o Estado, agora, o que nós temos apelado é que, nesses dias de manifestações, temos que ter cuidado de não estarmos a abrir quando o aviso está aí. Quando nos avisam que, olha, estaremos aqui a colar assim, a fazermos isto, melhor é não abrir, não arriscar. 

E diante desta situação toda, como é que estamos em termos de disponibilidade de alimentos? Vem aí a quadra festiva, há produtos suficientes para abastecer o mercado? 

Bom, até aqui, onde nós já adquirimos os produtos, existem sim. Mas a situação está do nosso lado. Não se sabe até quando irão estas manifestações de pânico. 

Bom, e se considerar-se que, tal como nós estamos a sentir, dúvida, enquanto a manifestação prevalecer, acredito eu que teremos dificuldade para abastecer o mercado até a quadra festiva. Mas se considerar que esta situação não pode continuar por mais tempo e criar-se um espaço apropriado para o diálogo, com vista a ultrapassar esta situação, nós podemos garantir que sim, teremos stocks suficientes em tempo útil para fazer face à quadra festiva.

E quais são os principais produtos nesta questão? Por exemplo, se tivermos um cenário de continuidade, estas manifestações poderão escassear-se no mercado? 

Poderemos ter falta de batata, cebola, tomate, produtos de primeira necessidade, sobretudo, poderão se escassear porque são produtos que são usados a qualquer altura, até a quadra festiva. São produtos perecíveis, porque, por exemplo, como estava a dizer, se a manifestação prevalecer, poderíamos ter dificuldade de abastecer o mercado, então, logo, é uma chamada de atenção. Se não fosse o problema da fragilidade desses produtos, da primeira necessidade, muita gente haveria de comprar e guardar em casa. Mas, olha, hoje estamos dia 5 de novembro, nunca se pode comprar batata para dia 25 de dezembro. Então, quer dizer, só é possível comprar mesmo em dezembro, o que significa que nós devemos arregaçar as mangas e trabalhar cada vez mais, de modo a não permitir que haja ruptura naqueles dias.

Isso tudo acontece num contexto em que há dificuldades também de conservação destes produtos no mercado. E essas dificuldades continuam, certo? 

Continuam mantendo-se, infelizmente!

E como é que têm feito, por exemplo, agora a situação é mais grave, como é que têm feito para poder conservar os vossos produtos? Temos o maior mercado grossista, que é o do Zimpeto, em Maputo. Como é que têm feito para conseguir conservar estes produtos? 

Não há nada que está sendo feito, porque isso já ultrapassa a capacidade do próprio importador. Quem devia fazer isso é o Conselho Municipal, que devia criar infraestruturas apropriadas para a conservação dos produtos, de modo que não pereçam. Como pode ver, muitas das vezes eu tenho dito que quer a batata tirada na machamba como a batata que se compra no Zip Deep Market, como em Joana Market, essa batata é tirada em armazéns com ambiente de uma temperatura bem baixa de conservação, e nós, infelizmente, chegamos com os nossos caminhões abertos, compramos e carregamos. Depois, tampamos com a lona. É só imaginar que, debaixo da lona, a temperatura é muito mais alta ainda, é por isso que, nessas alturas, por exemplo, de dezembro, que há congestionamento nas estradas a caminho de Maputo, o caminhão carregado de batata ter que ficar um, dois, três dias na bicha e depois conseguir atravessar a fronteira, chega no mercado no mercado grossista do Zimpeto a jorar água, essa água é da batata que está a ficar cozida, que acabava de sair de um sistema de frio para ser coberta com lona que atinge até, certamente, 150 graus. Então, essa batata está fervida e, quando chegar no mercado, tem que se fazer seleção daquela que escapou e daquela que deteriorou para deitar fora. Por isso, não tem sido verdade, como tem-se o costume de dizer, que elevamos o preço da batata e consequentemente apodrece, não é bem assim. A batata só se estraga justamente por causa das altas temperaturas de que é transportada. 

Já há bastante tempo que se fala de criar um sistema de refrigeração, principalmente no mercado grossista do Zimpeto. Como é que ficou esse projeto? A edilidade diz alguma coisa? Sabemos que já haviam montado alguns sistemas de refrigeração. Como é que está este processo todo? 

O que me recordo que se tentou fazer foi, talvez, em 2012, 2013, por aí. O Ministério da Indústria e Comércio tentou resolver esse problema, colocando ali dois contentores com sistema de frio. Mas esses dois condutores só chegam, talvez, para um ou dois camiões. Note que cada contentor é um camião, por exemplo. São quantos importadores que estão a trazer batata no mercado grossista do Zimpeto? Então, a solução desse problema passa, necessariamente, de se construir um pavilhão ou mais. Quando digo um pavilhão, olhando para aquilo que é o espaço do mercado grossista do Zimpeto, porque é pequeno para esse tipo de trabalho. Descarregando ali só podem caber dois pavilhões.

Mas vale a pena do que sem ter nada, onde todos os caminhões que até que entram no mercado grossista do Zimpeto, podiam lá caber um sistema de frio. Descarregar e sair para fora e fechar sempre que terminarem suas atividades, fecharem os pavilhões, assim sucessivamente. Aí estaria a garantir a qualidade do produto que é vendido, no mercado grossista do Zimpeto. Agora, por causa da falta dessas infraestruturas, só pelo facto da ausência do cliente no mercado, regista-se perdas incalculáveis de batata, justamente porque estamos a registar, também, temperaturas altas aqui no país. É uma situação lamentável. Agora, a qualidade, apesar de terem sido colocadas essas preocupações durante a campanha eleitoral, e que quero acreditar que através de contatos individuais, tenha sido rematada esta questão de se colocar lá infraestruturas próprias com sistema de frio para a conservação das mercadorias, ainda não ouvimos nada de concreto a ser feito. É algo que estamos à espera e quero acreditar que o próprio Conselho Municipal já tem consciência disso. Um dia, talvez, vai acontecer.

Outro aspecto importante que já estava aqui a fazer referência tem a ver com o preço dos produtos alimentares. Nos últimos dias, coincidência ou não, estamos a assistir ao agravamento de alguns preços de produtos, por exemplo, a questão do coco, das bebidas não alcoólicas, estamos a ver que os preços já estão a subir. O que pode estar a explicar esta questão da subida de preços nesta altura de manifestações que estamos a registrar no país e também de alguma paralisação das actividades? 

É muito complicado porque, por exemplo, desses produtos que fiz referência aqui, alguns são daqui do país, são produzidos aqui. Mais uma vez, dizer que, como se sabe, por causa das manifestações, muita gente já não pode descer para baixo por conta do medo, já não pode atravessar muitas ruas à procura deste e daquele produto, acaba sendo obrigado a ter que se dirigir a uma barraca vizinha, porque, também, os vendedores registam pouca fluência de clientes. Então, cada comerciante que tem consciência de que se chega até ele é porque há problema, e então, acaba surgindo aqui o oportunismo por parte de alguns vendedores desonestos. Eles não conseguem se movimentar para além por conta das manifestações. Então, significa que o preço com que comprou o estoque que tem ainda na barraca continua o mesmo. Assim sendo, não há aqui nenhuma necessidade de agravamento de preço, se formos falar dos produtos locais. 

E está a existir algum trabalho para desencorajar a estes comerciantes desonestos que praticam esses atos de especulação, por parte, por exemplo, da vossa associação, já existe algum trabalho para sensibilizar a não se fazer essa prática ou a não pautar por esta prática? 

Bom, infelizmente, mesmo querendo fazer, não temos como o fazer, por uma razão muito simples, este trabalho já é das autoridades. Não cabe a nós termos que desenvolver um trabalho para os vendedores de estabelecimentos comerciais, barracas, por aí em diante. O que nós temos feito,  é junto àqueles que estão sob nosso controle. A estes, nós sim, apelamos enquanto não haver motivo que justifique o agravamento do preço, vamos continuar a vender o preço que nos permita que tenhamos a nossa justificada margem de lucro.

O primeiro-ministro moçambicano, Adriano Maleiane, alerta que o país poderá passar fome se as pessoas continuarem com a paralisação do trabalho e diz que não se deve confundir manifestação com greve. Adriano Maleiane diz ainda que é complicado equacionar o diálogo sobre um processo eleitoral ainda em curso.

O primeiro-ministro de Moçambique, Adriano Maleiane, fez um apelo urgente à população, exortando os cidadãos a retornarem às suas actividades laborais. O Primeiro ministro sublinhou a importância da continuidade do trabalho para a economia do país e realçou que estas paralisações podem representar um retrocesso significativo à economia nacional.

“Fazemos um apelo a todos para manterem a calma. Vamos resolver os contenciosos eleitorais, mas precisamos trabalhar. Cada dia que passamos sem laborar prejudica a economia. Se continuarmos nesta inércia, em uma semana, a questão não será apenas as eleições, mas também o problema da fome,” alertou Adriano Maleiane.

O Primeiro Ministro apelou ao diálogo entre os moçambicanos como forma de acabar com esta crise que o país está a passar, pedindo, assim, a cessação dos protestos. “A minha sugestão é: vamos dar tempo para o Conselho Constitucional terminar o seu trabalho, todas as manifestações devem parar. Eu penso que podem esperar só um bocadinho para terminar este processo de eleições. É a nossa cultura, o diálogo”, disse.

Ademais, para o Primeiro Ministro, é importante que se descubra o real problema que leva a estas manifestações, para que se avance para um diálogo construtivo e produtivo. “Sempre enfrentamos momentos difíceis e conseguimos superá-los através da conversa. É crucial estruturar e compreender qual é o problema antes de iniciarmos um diálogo construtivo e produtivo. Devemos dizer não à violência e sim ao diálogo, pois é assim que, como moçambicanos, conseguimos resolver os nossos problemas e continuar juntos,” concluiu.

Adriano Maleiane reafirmou, assim, a necessidade de uma abordagem pacífica e colaborativa para garantir a estabilidade e o desenvolvimento do país.

Recorde-se que essas manifestações fazem parte da chamada “terceira fase”, convocada por Venâncio Mondlane, candidato presidencial apoiado pelo PODEMOS, que reclama a vitória nas eleições de 9 de Outubro passado. Esta fase deverá durar uma semana, tendo iniciado a 31 de Outubro, com término marcado para quinta-feira, 7 de Novembro, dia em que se espera uma mega-concentração na capital do país.

A Comissão Nacional de Eleições anunciou, a 24 de Outubro, a vitória presidencial de Daniel Chapo, apoiado pela Frelimo, com 70,67% dos votos. Venâncio Mondlane teria ficado em segundo lugar, com 20,32%. O candidato não reconhece estes resultados, que ainda têm de ser validados e proclamados pelo Conselho Constitucional. Na terceira posição da eleição presidencial, de acordo com a CNE, ficou Ossufo Momade, presidente da Renamo, com 5,81%, seguido de Lutero Simango, presidente do MDM, com 3,21%.

Ossufo Momade também disse que não reconhece os resultados eleitorais anunciados e pediu a anulação da votação. Lutero Simango recusou igualmente reconhecer os resultados.

No que ao parlamento diz respeito, de acordo com a CNE, a Frelimo reforçou a maioria parlamentar, passando de 184 para 195 deputados, e elegeu todos os 10 governadores provinciais do país. O PODEMOS, partido extra-parlamentar, elegeu 31 deputados, destronando a Renamo da liderança da oposição, uma vez que, a Perdiz caiu de 60 para 20 deputados. O MDM mantém a representação parlamentar, mas viu reduzida a sua participação, passando de seis para quatro deputados.

As manifestações que têm sido convocadas pelo candidato presidencial do PODEMOS, Venâncio Mondlane estão a impactar de forma negativa na fluidez da logística no Porto da Beira, pois os maiores utilizadores do mesmo, os países do Interland, estão muito cautelosos com vista a evitarem danos.

De acordo com a Cornelder de Moçambique, operadora do Terminal do Porto da Beira, em média são movimentados 700 camiões por dia. Contudo, quando há manifestações o movimento baixa para menos da metade.

“Muitas empresas estão cautelosas por isso ontem circulou um número reduzido e durante os dias das manifestações o fluxo rodoviário reduziu muito, depois, quando se sentaram seguros temos 2000 camiões a quererem entrar no porto ao mesmo tempo e em dias recebemos 80 camiões por hora”, revelou Jean de Vries, administrador delegado da Cornelder de Moçambique.

O Porto da Beira é a principal porta de entrada para toda a carga que se desloca de e para Moçambique, assim como dos países do Interland. A redução na fluidez do tráfego, preocupa a Cornelder.
“Está difícil dizer os prejuízos mas os navios estão mais lentos por causa do congestionamento dos camiões. Os navios que dependem desse transporte ficam parados e isso provoca bastantes problemas na fluidez da logistica”, referiu.

As manifestações estão a impactar igualmente nas medidas tomadas para pôr fim ao congestionamento de camiões na entrada para o Porto da Beira.

“Por exemplo, a estrada de sentido único como essas manifestações está difícil de medir o impacto real porque temos dias muito calmos. Você tinha de carregar hoje mas se houve manifestações ou ameaças de manifestações as medidas de exigir documentação as medidas ficam mais difíceis de implementar”, acrescentou.

O presidente da República pediu aos agentes turísticos para investirem em embarcações de qualidade, rapidez e conforto para operarem com eficiência na maior ponte-cais do mundo, que vai começar a operar a partir do próximo ano. Filipe Nyusi disse que a ponte será uma manancial de oportunidades, sobretudo para os pesquisadores e investigadores na área da biodiversidade.

Moçambique terá a maior ponte-cais do mundo a partir de 2025. A infraestrutura, cuja primeira pedra para construção foi lançada, hoje, pelo presidente da república, estará lozalizada no distrito de Kanyaka. Filipe Nyusi recomendou bom uso da ponte mas disse que o essencial é que se invista em mais embarcações e de qualidade.

“Convidamos todos os agentes da indústria turística a valorizar este esforço, investindo em mais embarcações de lazer de qualidade, velocidade e conforto, mas também em infraestruturas turísticas. Ter uma ponte-cais como está e não ter embarcações é a mesma coisa que ter estrada sem carrro”, disse.

Nyusi, assegurou que a ponte vai impulsionar o desenvolvimento da ilha e não só por isso. “A ponte-cais irá promover as trocas comerciais propiciando o acesso ao mercado mais amplo da cidade de Maputo o que serve de estímulo para o aumento da capacidade de produção e produtividade das pequenas e médias empresas de Kanyaka e diversos sectores com maior destaque para a pesca.”

Segundo Nyusi, o investimento trará inúmeras vantagens para os pesquisadores e investigadores nacionais. “A ilha de Inhaca é um centro de investigação na área de investigação e a nossa ponte será um meio seguro e rápido para facilitar o movimento dos pesquisadores e investigadores. A ponte representa uma verdadeira oportunidade de desenvolvimento socioeconômico da investigação e criação de emprego de qualidade e estímulo do turismo, sendo um factor catalisador que permitirá a população local prosperar”, referiu Nyusi.

A infraestrutura que surge no âmbito da responsabilidade social da Sociedade de Desenvolvimento do Porto de Maputo (MPDC) naquela ilha, estará pronta em 2025, aproximadamente 12 anos depois de interditada em 2013, devido ao nível de degradação.

A cerimónia de lançamento da primeira pedrada contou também com a presença do ministro dos transportes e Comunicação, Mateus Magala, e do presidente do Município de Maputo, Rasaque Manhique.

Além das vantagens sócio-econômicas, a ponte cais de Kanyaka será a maior do mundo e espera-se que seja mais uma infraestrutura turística da cidade de Maputo, além da ponte Maputo Katembe.

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