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E Jared Nota leva para casa o prémio Melhor Curta-Metragem do CCMA

Ontogénesis de Jared Nota venceu o quarto concurso de curta-metragens organizado pelo Centro Cultural Moçambicano-Alemão.

 

Cinco minutos e vinte e um segundos (5:21s) bastaram para que Jared Nota conquistasse o prémio Melhor Curta-Metragem do concurso organizado pelo Centro Cultural Moçambicano-Alemão (CCMA). O anúncio do vencedor foi feito ontem, à noite, numa sessão online disponível no Facebook do CCMA.

O filme premiado de Jared Nota é intitulado Ontogéneses, uma curta-metragem que se encaixa no que o realizador considera género “Psychological Thriller”, sobre uma fotojornalista que investiga uma empresa acusada de despejar resíduos tóxicos no mar. Para os mais curiosos, o título do filme significa “ciclo da vida” e tenta alertar às pessoas sobre a ideia de que quanto mais se destrói e polui-se o planeta, mais hostil o mesmo se torna, o que, na verdade, é um perigo para a Humanidade.

“A ideia do ciclo da vida, a característica resiliente da natureza, foi base para a história do filme, pois a Khensa, a personagem principal, é uma fotojornalista que jamais desiste. Por isso o filme é um círculo (loop) onde ela investiga, o perigo aparece, o alter-ego dela grita para que ela fuja e salve-se, ela foge, mas a sua consciência sempre atrás para a posição da procura da verdade”, explica Jared Nota.

Logo no princípio do filme, cuja rodagem foi feita à noite, na marginal da cidade de Maputo, pode-se ver Khensa a pedalar uma bicicleta rumo ao local do crime. Receosa, mas igualmente audaz: “Preferi que ela usasse uma bicicleta para mostrar a sua natureza ambientalista, mas também porque as rodas das bicicletas representam a Ontogéneses”.

Nota diz que fez o filme com muito amor e, por isso, espera que as pessoas sintam o que ele sentiu quando o estava a conceber, na sua plenitude, intrinsecamente.

Ora, porque nestas coisas de cinema nada é fácil, Jared Nota assume que fazer o filme
foi relativamente difícil porque, quando o CCMA fez a selecção dos cineastas apurados, “disseram que tínhamos duas semanas, desde a concepção da ideia até à edição. Eu fiz isso nessas duas semanas, mas depois adiaram por mais dois meses. Pedimos emprestado todo o equipamento para filmar porque não temos nenhum”.

Na rodagem, a equipa de Jared Nota teve de investir algumas notas: 5400Mt, para despesas de alimentação e transporte. Até aí, tudo bem, não fosse ter voltado a levar a mão ao bolso para de lá extrair uns 400Mt para subornar dois polícias que os barravam as filmagens, mesmo tendo todos os documentos legais para o efeito, antes do Estado de Emergência. “Mas eu entendi, não se entende cinema, então o que eles viram foi um bando de marginais”.

Para Nota, a confiança do júri significa responsabilidade e que a sua equipa pode fazer um bom filme. “Com esses 30 mil, pelo menos vou parar de tirar do bolso o dinheiro de transporte e de alimentação nos próximos dois ou três filmes. Espero não desapontar e espero que os que não gostaram que o nosso filme ganhasse, esqueçam o ego por um segundo e juntem-se a nós nos próximos filmes”.

A história original de Ontogénesis foi escrita por Jared Nota e por Ivo Mabjaia. O filme teve Omar Faquirá como Produtor-Executivo e Agostinho Guila como produtor. O elenco principal conta com Sara M. Bombi, Peson J. Chaincomo, Paulo Maluleque e Joaquim Fernando.

A melhor curta-metragem do concurso do CCMA foi premiada com 30 mil meticais. O filme segundo classificado, Nkwama (de Gigliola Zacara) fica com 15 mil e o terceiro, Xidzedze (de Wilford Machili) com 10 mil meticais. Nesta edição, a menção honrosa foi para Ivando Maocha, com o filme O quintal.

 

A confusão

Até ao princípio da noite desta quarta-feira, para Gigliola Zacara, o seu filme, Nkwama, o mais votado pelo público, era o vencedor do concurso de curta-metragens do CCMA. Na percepção da actriz, encenadora e realizadora, o vencedor do concurso do CCMA é decidido pelo voto popular e não pelo júri. Segundo entende a artista, Ontogénesis é a melhor direcção do concurso, e não a Melhor Curta-Metragem. Para acabar com a confusão, depois de consultar a nota sobre os distinguidos no Facebook do Centro Cultural Moçambicano-Alemão, contactamos o júri, Gabriel Mondlane e Tina Kruger, e o Gestor Cultural da instituição organizadora, Féling Capela. Todos eles clarificaram que o filme vencedor desta edição do concurso é Ontogénesis, de Jared Nota. “Não podemos contrariar a decisão do árbitro (o júri). O filme vencedor é Ontogénesis. Agora, se houver qualquer contestação, pode ser exposta por escrito”, disse Féling Capela

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