Autoridades de gestão de desastres fizeram ontem uma avaliação preliminar dos estragos causados pelo ciclone tropical “Eloise”. Entretanto, o grande desafio prende-se, agora, com o distrito de Búzi que tem centenas de pessoas desalojadas à espera de uma oportunidade para serem evacuadas para zonas seguras.
“Parecia que era uma temperatura para a minha morte”. Nem mais, nem menos. Machoze Amade não encontra outras palavras para descrever o medo que viveu na madrugada de sábado quando o epicentro do Ciclone Tropical “Eloise”, entrou no distrito de Búzi. As chuvas eram extremamente fortes. As rajadas de vento chegavam a atingir 140 quilómetros por hora. Enquanto isso o homem, viúvo de 52 anos de idade, tentava “recuperar a sua criança até um sítio em que podíamos sentir que estamos protegidos”. Encontrá-lo este domingo na fila de centenas de pessoas que, de malas aviadas, não vêem a hora de desembarcar em Guara-Guara, zona do distrito identificada para a transferência das famílias afectadas pelo presente mau tempo.
Ainda é muito cedo para se falar de números concretos em Búzi, tendo em conta que a chuva e ventos fortes que já cessaram não são o maior dos problemas. Antes mesmo do “Eloise” chegar, a Bacia do Rio Búzi já tinha subido o nível de alerta. É que chove nos países vizinhos e estes tiveram que abrir as comportas para escoar a água, passado por Moçambique, para o oceano.
O que se sabe até agora é que para o Centro de Acolhimento de Guara-Guara já foram evacuadas mais de mil pessoas, além de cerca de dois mil residentes na vila de Búzi e que têm casas em Guara-Guara.
“Já não tenho mais casa” introduz Mafalta Ossufo, detalhando que está cheia de água e agora vive uma situação de “sofrimento com as minhas crianças”. Também encontramos Mafalda na fila para ser evacuada para a zona de Guarda-Guarda, a zona de reassentamento identificada para as vítimas das inundações no Búzi. Conta que quando o mau tempo começou acabava de entrar em trabalho de parto, segundo que no último sábado deu a luz ao seu oitavo filho, que este domingo quando gravamos está entrevista contabilizava dois dias de vida.
Entre os afectados pela situação, há quem diz que está há três dias na fila para garantir lugar nas embarcações alocadas para a busca e salvamento. Foi em meio a essa drama que a Presidente do Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres, Luísa Meque, a Secretária de Estado e o Governador da Província de Sofala, Stela Pinto e Lourenço Bulha, respectivamente sobrevoaram a zona afectada e interagiram com a população para inteirar-se dos estragos.
“Temos estado a acompanhar a situação. Em termos de doentes não temos o registo de doentes, não há registo de pessoas que tenham desaparecido, mas logo que chegamos tivemos a confirmação de dois óbitos confirmados mesmo por causa da água” declarou Meque, descrevendo que “parte das pessoas já foram retiradas para Guara-Guara mas notamos que parte das pessoas que não acreditavam que o Ciclone iria acontecer ainda estão aqui. Sozinhas agora vêem ao cais para poderem ser transferidas para zonas seguras.
O Instituto assegura que de tudo está a fazer para garantir que todas as pessoas sejam evacuadas, nem que para isso seja necessário o reforço dos meios circulantes até agora existentes.
Contudo ainda ontem a Direcção Nacional de Recursos Hidricos assegurou que o caudal da bacia do Búzi já está a baixar. O pico do caudal neste mau tempo foram 9.95 metros, mais de quatro metros acima do nível de alerta. Entretanto até este domingo o caudal já tinha baixado para 7.85 metros.
OS NÚMEROS PRELIMINARES DOS DANOS DO CICLONE “ELOISE”
Em apenas 48 horas, os ventos e chuvas fortes causados pelo Ciclone Eloise mexeram directamente com a vida de mais de 163 mil pessoas em quatro províncias da região centro e sul do país, nomeadamente Sofala, Manica, Zambézia e Inhambane. Os números são preliminares e apontam para 32.660 famílias vítimas.
Os ventos que chegaram a atingir 140 quilómetros por hora, “sacudiram” várias infraestruturas, tendo deixado o rasto de 3.343 casas parcialmente destruídas, 1.069 totalmente destruídas, além de 1500 casas inundadas.
Na área da saúde, contabilizam-se nas quatro províncias 11 unidades sanitárias afectadas, na educação, nove salas de aula totalmente destruídas, além de seis postes de energia no que ao fornecimento de energia diz respeito.
O mau tempo passou, ficaram os seus impactos. Em plena época agrícola, 136. 755 áreas de cultivo estão inundadas.
O Instituto Nacional de Meteorologia assegurou ontem que o “Eloise” já tinha enfraquecido e estava a caminho da vizinha África do Sul.