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Dois menores escaparam de tráfico na semana passada

Foto: O País

Celebra-se hoje, 30 de Julho, o Dia Mundial contra o Tráfico de Pessoas, um crime que faz milhares de vítimas em todo o mundo. Apesar dos poucos casos registados no país, só na semana passada, em Nampula e Zambézia, dois menores de idade foram vítimas deste crime.

O primeiro caso teve lugar no passado dia 27, na província de Nampula, quando um jovem de 21 anos de idade decidiu vender o seu irmão para ficar “rico”, depois de ter conversado com um amigo, ao qual questionou como podia fazer para enriquecer.

“O meu amigo respondeu que havia várias maneiras de ficar rico, por exemplo ir ao curandeiro, para matar alguém e fazer sacrifício, então respondi que tenho um irmão e podia vendê-lo”, contou o indiciado.

Em resposta, o amigo disse-lhe que procuraria um “patrão” para comprar o menor e, quando o encontrou, o preço acordado foi de 500 mil Meticais, estando a vítima viva ou morta (os órgãos), e o indiciado aceitou a proposta.

A vítima de 16 anos narrou que o seu irmão o tirou de casa de madrugada, depois que pediu que o acompanhasse à casa de um amigo, e este, sem desconfiar, assim o fez.

“Quando lá chegámos (à casa do suposto amigo), vi os líderes comunitários fazerem ligações, depois das quais fui levado à polícia e depois ao distrito de Rapale”, partilhou o jovem.

O esquema foi desvendado por um cidadão contactado, por engano, pelo traficante, que informou, de imediato, os líderes comunitários.

Segundo a Polícia, em Nampula, na voz de Dércio Samuel, não há dúvidas de que se tratava de tráfico de seres humanos.

“O que mais nos preocupou é que o indiciado teria afirmado categoricamente que não importava a vida do seu irmão, o importante era o valor que ele precisava, que são 500 mil Meticais, e dependeria do cliente se precisaria do menor vivo ou morto e isso é mais agravante”, referiu Dércio Samuel.

A polícia diz continuar a trabalhar para “tirar da linha” estes indivíduos que se envolvem no tráfico de pessoas.

Dois dias depois, um outro caso veio à tona. Desta vez, na província da Zambézia. O caso deu-se quando um menor de oito anos, que saía da escola para casa, foi interceptado por um homem de 28 anos de idade.

“Ele chegou e disse vamos juntos, vou dar-te cinco Meticais, mas recusei. Ele carregou-me  e meteu-me num ‘txopela’. Tentei gritar, mas fechou-me a boca”, recordou o menor, que acrescentou que, passados alguns minutos, a Polícia os interceptou e, assim, foi salvo.

O indiciado alega que decidiu cometer este crime por falta de emprego. Nas suas buscas por trabalho, encontrou um amigo que lhe disse que tinha alguém que precisava de uma criança. Assim mantiveram contacto e iniciaram as negociações.

Pretendia-se que a criança fosse vendida por um milhão de Meticais, mas o valor foi reduzido para 700 mil.

O porta-voz do Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC), na Zambézia, Maximino Amílcar, explicou que o crime foi frustrado porque as linhas operativas já tinham informação sobre um suposto tráfico de menor.

“Era suposto que este crime fosse consumado na semana passada. Numa das mensagens que trocava com o suposto comprador perguntava se queria uma criança viva ou morta, e isso nos preocupa. Só ontem voltou a comunicar-se com o suposto comprador, tendo solicitado 500 Meticais para levar a criança até aqui, na cidade. Na altura que ele chegou, já estavam lá homens da nossa força operativa, que o prenderam”, detalhou Amílcar.

O tráfico de pessoas no país tem, na maior parte das vezes, três finalidades: a venda de órgãos, exploração sexual ou exploração laboral. Na maior parte das vezes, as vítimas são levadas para Tanzânia, África do Sul e o Reino de eSwatini.

Segundo o último informe da Procuradoria-Geral da República, em 2022 foram registados apenas três processos de tráfico de pessoas, sendo dois referentes à exploração sexual e um à exploração laboral.

Os indiciados são encontrados, mas fica a questão: afinal quem são os mandantes destes crimes e por que motivo nunca são apresentados?

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