Vou tentar escrever muito pouco. Primeiro, quero dizer que acho que, num Estado normal, ninguém deve falar do Presidente da República como Doppaz tem o hábito de o fazer. Destaque-se: num Estado normal! Ainda não disse o que penso do nosso; na verdade, não direi, vou levantar pontos para pensarmos.
Por que razão ninguém deve fazer isso? É que o Presidente da República representa um dos cinco órgãos de soberania deste país. E quem é o Presidente da República neste país? É o chefe de tudo e de todos. É quem representa o país em tudo, é quem zela, principalmente, pelo cumprimento do princípio da legalidade e protege os mais fracos (ou, pelo menos, devia).
Se o Presidente fizer o que retroexpusemos, o Presidente da República recebe, em troca, o respeito, a dignidade e o prestígio do “Pai da Nação”. Pense numa família em que o pai faz tudo pelo bem de todos nela. O que acontece quando um dos irmãos o ofende? Todos os outros o repreendem, não é verdade?
Nós, os moçambicanos, quando alguém ofende o órgão de soberania, no caso o Presidente da República, fazemos duas coisas: ou aplaudimos a pessoa ou não nos importamos. Para mim, isso é culpa do próprio Estado, que é dirigido pelo Governo, o mesmo que, actualmente, é chefiado por aquele que Doppaz ofendeu: o Presidente da República. Portanto, o ofendido criou bases para que isso acontecesse. A actuação do Governo cria, nas pessoas, duas, não mais, sensações: apatia ou revolta em relação ao Estado.
Os apáticos não vêem nenhum problema em ter “um Doppaz” a falar como quer de um órgão de soberania. Isto é causado pelo facto de estes não se identificarem em nada com o Estado. É como um filho que só vive na mesma casa que o pai, mas não se interessa em nada pelo que acontece nela, já que entende que nenhuma decisão tomada pelo “papá” é pensando nele.
Os revoltados estão zangados. Estes sentem que o Estado está a fazer justamente o contrário do que devia fazer. Isso causa revolta. Estes não podem falar como Doppaz fez, porque conhecem o poder coercivo do Estado e sabem que, nisso, ele pode ser intransigente. Então, quando um “corajoso”, com um toque, até, de ingenuidade, aparece a falar naqueles moldes, é como se estivesse a carregar nas costas o pensamento de todos.
Há um terceiro grupo, mas este não é resultado da actuação do Estado, é mais pelo estômago. Nesse, encontramos pessoas que se sentem ofendidas no lugar do verdadeiro ofendido como forma de mostrar lealdade ao mesmo.
Há algum tempo que se diz que Doppaz é um doente, isso por conta da forma como ele fala dos assuntos, sem nenhum travão moral. Deploro isso! Mas, se ele continuou, é porque nós, ou não víamos problema, ou nos revíamos. Isso só porque chegámos aonde chegámos.
Não imagino que alguém de nós estaria com coragem de dizer “Free Doppaz” se ele tivesse ofendido alguém das nossas famílias. Bem, se tivesse sido isso, a PGR não o teria detido. Enfim, só estava a pensar alto.