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Do Rosário nega ter viajado com os co-réus Ndambi, Bruno e Teófilo para Alemanha

António Carlos do Rosário, penúltimo réu dos 19 envolvidos no caso das Dívidas Ocultas, nega ter viajado com os co-réus Armando Ndambi Guebuza, Bruno Langa e Teófilo Nhangumele para Kiel, capital e a maior cidade do Estado alemão de Eslésvico-Holsácia, no norte da Alemanha, mas confirma ter realizado várias viagens para Alemanha e Abu Dhabi, para se inteirar das potencialidades do Grupo Privinvest. Na sua viagem, interagiu com os gestores dos estaleiros do grupo, mas não se recorda dos nomes.

Segundo o Ministério Público, consta dos autos que o réu, nos dias 19 e 21 de Dezembro de 2012, esteve em Kill, na companhia dos co-réus Teófilo Nhangumele, Bruno Langa e Ndambi Guebuza. O réu não confirma a informação e disse que não tomou conhecimento de que estes réus viajaram para Alemanha e que era a primeira vez que tomava conhecimento deste facto.

A resposta do réu não foi satisfatória para o Ministério Público, mas o réu esclareceu, mais uma vez, perante o Tribunal, que viajou para Alemanha por várias vezes, entretanto não se recorda se foi nos dias 19 e 21 de Dezembro. E mais, o réu afirmou que a primeira vez, em 2011, viajou sozinho. E, na segunda viagem, foi com dois quadros do Ministério da Defesa.

“Da data não me recordo, porque eu viajava várias vezes para Alemanha, era como acordar de casa e ir ao serviço. A Alemanha, viajei várias vezes. Não me recordo da data e acho que foi em 2011 em que viajei para Kiel. Na primeira para a Alemanha, fui sozinho. Na segunda vez, viajei com dois quadros do Ministério da Defesa. Já não me recordo dos nomes das pessoas que viajaram comigo. Um era da Marinha de Guerra e do outro já não me recordo”, elucidou António do Rosário.

Questionado quem indicou os dois quadros com quem viajou para Alemanha, Do Rosário respondeu: “o ministro da Defesa” (à data dos factos, Filipe Nyusi, actual Presidente da República).

E perguntado se podia explicar ao Tribunal como é que os co-réus supracitados que, nas suas palavras, não estavam envolvidos no projecto da Zona Económica Exclusiva, tenham viajado para tratar do mesmo assunto no mesmo lugar, o réu respondeu que não sabe, porque não viajou com eles.

“Não sei dessa viagem. Não sei, não viajaram comigo”, disse.

Na sequência, António Carlos do Rosário foi confrontado com as declarações de Bruno que constam dos autos. De acordo com o co-réu Bruno Langa, os dois réus (Bruno e António do Rosário) estavam hospedados no mesmo local, informação contestada pelo réu.

A uma pergunta sobre quem teria indicado o co-réu Cipriano Mutota para viajar a Alemanha, o réu respondeu que não tem conhecimento sobre isso, nem se recorda do nome do estaleiro visitado na Alemanha.

“António do Rosário, quando viajasse, efectuava relatórios”, que foram submetidos “ao director do SISE. Na altura, eu não era autónomo. Mas, são poucas vezes em que o relatório fica com o director-geral”. Esclareceu que a apreciação do relatório foi positiva e que era preciso avançar.

“Apresentei as potencialidades dos fornecedores, ele concordou e disse que podíamos avançar com o que fosse necessário”, acrescentou o réu.

Nas suas declarações, segundo o Ministério Público, o antigo director-geral do SISE disse que cabia ao réu António do Rosário decidir com quem viajar. O réu confirmou as declarações do co-réu Gregório Leão.

“Cabia a mim decidir com quem viajar. Eu solicitava quadros com certo tipo de conhecimento”, asseverou.

O Ministério Público questionou o réu António Carlos do Rosário se os relatórios eram discutidos no Comando Conjunto, tendo respondido negativamente, “porque este órgão não discute viagens e porque não era prática”.

O réu foi questionado se viajou a Abu Dhambi nos dias 16 a 21 de 2012 na companhia de Bruno Langa, Teófilo Nhangumele e Armando Ndambi Guebuza, ao que respondeu que não sabe se viajou nestas datas, porque viajava todos os dias a muitos lugares.

“Eu não viajei com eles. Não sei se viajaram nestas datas, não sei se viajaram no âmbito desse projecto. Eu viajei sozinho. A primeira viagem que fiz para Abui Dhabi em 2011 fui sozinho”, frisou o réu

De seguida, o réu foi confrontado com um e-mail de viagem pelo Ministério Público. “Não sei por que este relatório leva o meu nome, sendo que o nosso relatório não leva nossos nomes. Não me lembro de ter feito esse relatório. Não conheço esse relatório e os objectivos das viagens nos termos do relatório. Isto não tem nada a ver comigo. Não sei por que o meu consta”.

O réu prosseguiu, alegando que viajou duas vezes a Abu Dhabi também para ver as potencialidades do grupo Privinvest.

“Eu viajava, numa semana, duas ou três vezes e não ficava no meu destino. É difícil precisar as datas. Viajei para conhecer as pessoas e as potencialidades”, explicou o réu, acrescentado que, nestas duas viagens, se encontrou com Jean Boustani e outros gestores do grupo, mas não se recorda dos outros gestores.

“Na segunda vez, viajei com dois quadros do Ministério da Defesa. Não me recordo dos nomes, mas foram os mesmos com quem viajei para Alemanha”.

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