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Do consumo de “ukanyi” à procura intensa de mulher

Foto: O País

A cada 3 de Fevereiro, a Província de Maputo realiza o Festival de Ukanyi, uma bebida tradicional feita à base do “canhú”, com baixo teor alcoólico e apreciada no Sul do país. Os anciões dizem que, após o consumo desta bebida, os homens procuram mais as mulheres. Conheça os protocolos tradicionais para o consumo desta bebida.

Na casa da família Mabjaia decorria parte da festa do “ukanyi”, bebida tradicional feita à base do “canhú”, que começou logo no início de Fevereiro. Os anciãos sentam-se para consumir a bebida ao som de canções e danças tradicionais.

A anciã Isabel Mabjaia é a matriarca do regulado, coube a si contar as histórias desta mítica bebida.

Uma bebida com três categorias, segundo contou a anciã, é o exemplo de “mutenguana”, ligeiramente doce e destinada aos mais jovens; “hanhana”, não muito fermentada e, por fim, “xituetue”, que é fervida e conservada em garrafas. Esta última pode ser consumida em toda a época ou ser guardada para visitantes e hóspedes.

Antes de a bebida ser consumida pela comunidade, conta Isabel Mabjaia, leva-se uma pequena quantidade para os túmulos dos antepassados. O seu consumo obedece a três regras costumeiras, que são: kuphalha ukanyi, que é a fase de abertura da bebida, seguida de xikuwha, que é a festa propriamente dita e, finalmente, kuhayeka mitseko, que é a fase de encerramento.

“Logo que caísse o ‘canhú’, pegávamos no fruto, tirávamos o sumo, deixávamo-lo aqui e íamos aos túmulos dos nossos antepassados. Primeiro deitávamos ao chão e pedíamos mais ‘ukanyi’, para termos paz antes de começarmos a beber, antes de nem sequer uma gota.”

A bebida é servida do pote para o “ndzeku”, um copo feito à base da abóbora. Usa-se um tipo de capim que só aparece nas machambas na época do “canhú”. Reza a história que esta bebida era acompanhada de carne de caça e/ou verduras tiradas das machambas.

O fruto do canhoeiro cai somente entre Janeiro e Março. Entretanto, o régulo Mabjaia explica que não é com qualquer “canhú” que se faz a bebida. “Estes mais velhos sabem, só de ver às vezes nota-se que o fruto não é o apropriado. Há, sim, bebida azeda, sobretudo a que é vendida no mercado.”

Outra anciã de Marracuene, Nelly Ngovo, explica o mito que há em relação à bebida. Diz-se habitualmente que o que acontece entre um homem e uma mulher numa sessão de toma de “canhú” termina por lá. “Ao tomar esta bebida, vai-se sempre atrás de uma mulher, porque haverá excitação, e essa bebida densa sai desta que estou a fazer.”

Não há comprovação científica de que “ukanyi” é afrodisíaco, ficando-se apenas nas crenças dos que consomem, mas os mesmos deixam sempre o alerta para os consumidores.

Hélia Mucavele, filha de Nelly Ngovo, ajuda a mãe a preparar a bebida e até a consome e conta a sensação de beber ukanyi: “é uma boa bebida, não faz mal e muito saudável”.

E na azáfama das celebrações do dia 2 de Fevereiro, dia do Gwaza Muthini, a vila de Marracuene esteve em festa e a bebida de ukanyi esteve à venda. Luís Langa comprou-a e divertiu-se.

A anciã Nelly defende repreensão dos que vendem a bebida. “Do meu ponto de vista, as bebidas devem ser arrancadas [de quem as vende], e deviam ser multadas, porque conhecem a norma. Esta bebida tradicional não é para ser comercializada, é para ser oferecida.”

Outro aspecto curioso é que, às vezes, quando se bebe “ukanyi”, há sempre uma corda, que é para amarrar os que eventualmente estiverem a perturbar o ambiente animador característico.

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